[Playlist da Quinzena] 16 a 31 de Março de 2016 – As Escolhas de Diogo Teixeira de Abreu (Lotus Fever)

https://www.facebook.com/LotusFever/

Entrevista com os Lotus Fever. Ponto de encontro: escadaria do Técnico. Eu ia ter jogo e então tinha de ser assim no intervalo entre estar despachada do trabalho e ter que partir na carrinha com o resto da equipa. O Diogo foi o primeiro a chegar. Vai fazer o quê? Dois anos? Vá, faz ano e meio, qualquer coisa do género. Fomos fazendo conversa fiada enquanto o resto da banda não chegava. Permitem-me que confesse que achei o Diogo adorável. Adoro a sua postura, a timidez misturada com a ousadia. Toda a banda é ainda muito jovem e cheia de vontade de percorrer um caminho que ainda agora começou. Têm um EP e um LP editados, lançaram recentemente um single novo e o percurso para o próximo trabalho parece ser trilhado noutros locais, sem nunca perderem a sua identidade. Aproveitando este momento de lançamento, convidei o Diogo a partilhar connosco as suas escolhas musicais. 

Preâmbulo

Quando recebi o desafio de fazer esta playlist, comecei logo a pensar na melhor maneira de expor as músicas/artistas que mais me influenciaram ao longo da minha vida. Não arranjei melhor maneira que fazê-lo por ordem cronológica que as conheci, ou pelo menos da altura em que se tornaram mais relevantes. Espero que a minha humilde e curta experiência sirva de algo para alguém.

Rui Veloso – Chico Fininho

Desde que me tornei numa semi amostra de gente que a minha base para a toda a informação do mundo foi os meus pais. A minha mãe, pintora, tentou (sem sucesso) levar-me para um mundo de artes plásticas. O meu pai, gestor com um gosto especial pela música, introduziu-me ao que fiquei a conhecer como música. Com ele aprendi tudo, desde Roberto Carlos a Eric Clapton e mesmo Led Zeppelin (banda que, segundo ele, a única coisa de jeito que lançaram foi a Stairway To Heaven. O que se há de fazer?). No meio de centenas de bandas e artistas, este destacou-se para mim. Primeiramente porque não sabia falar inglês com dois anos de idade e, de seguida, porque eram as músicas dele que cantávamos no nosso caminho para casa. Terá sempre um lugar especial no meu iTunes.

The Eagles – Hotel California

À medida que fui crescendo, os meus gostos foram ficando mais aguçados e comecei a distinguir melhor o que gostava ou não. Nesta altura o meu pai tentou converter-me à guitarra (sem sucesso, como dá para perceber) e uma das primeiras músicas que aprendi foi esta magnífica canção. Passei horas a ouvi-la e a conter o choro quando o verso “But you can never leave” era pronunciado mesmo antes de um dos solos de guitarra que considero mais “bonito”. Era um momento sem dúvida emocionante, enquanto eu me imaginava a tocar os quatro ou cinco acordes do refrão (mal tocados, obviamente) enquanto acompanhava o guitarrista do solo. Era mágico.

The Beatles – Hard Day’s Night.

Chegaram os meus 9 anos. Com eles, o meu primeiro “MP3”. Foi das melhores coisas que me aconteceu na vida. Tinha cerca de quarenta músicas lá dentro, todas postas pelo meu pai, e ouvia-as até ficar sem pilha (e aquela altura em que as coisas funcionavam a pilhas em vez de baterias? Bela nostalgia). Quando comecei a investiga-lo melhor, percebi que dava para ver os artistas. Lá no meio, encontrei uma banda com vinte sete das quarenta músicas e com um nome estranho, “The Beatles”. Decidi dar-lhes uma hipótese. Durante quatro anos não quis ouvir outra coisa. Eduquei todos os meus amigos do terceiro ano (que, nessa altura, só ouviam Shakira e Las Ketchup) e ensinei a todos quem eram estes maravilhosos senhores que, na minha cabeça, tinham vinte sete músicas e nem mais uma.  

The Police – Reggatta De Blanc

À medida que os meus estudos musicais (como quem diz “aulas de bateria”, mas de uma maneira bonita, pois os bateristas são muitas vezes vistos como os “burros” ou os “membros secundários de uma banda”) decorriam, comecei a prestar mais atenção aos bateristas por trás do kit. Por esta altura devia ter cera de doze anos e, o meu pai (para não variar), decide mostrar-me uma banda com um baterista que ele gostava bastate: os The Police com o fantástico Stewart Copeland. Comecei com ele a perceber que a música era algo muito mais livre do que aprendera com os Beatles e comecei a querer experimentar pôr breaks em sítios onde nunca ponderei ser possível. Com muita tentativa e erro, consegui retirar uma grande lição daqui e a pensar a música de maneira diferente.

Avenged Sevenfold – Save Me

Como muita gente, quando cheguei à adolescência comecei a sentir-me um “rebelde” e a querer expressar-me de maneiras novas. Aqui entra um grande capítulo da minha curta vida: o Metal. A primeira banda que encontrei nem foi os A7X (forma como os fãs “hardcore” se referem aos Avenged Sevenfold), mas sim os Trivium. Não sabia que era possível alguém dizer coisas agressivas enquanto gritava de maneira tão intensa que parecia que o estavam a matar. Quando mostrei a minha descoberta fantástica ao meu pai, entendi a razão de não conhecer a existência de tal coisa, o meu pai odiava e odeia todo o tipo de Metal e o que lhe possa ser associado (daí o “ódio” dele a bandas como Led Zeppelin). Comecei a ouvir, relacionar-me pela primeira vez com algumas músicas (afinal de contas, muitas das bandas deste género são direccionadas a jovens) e entrei neste novo mundo. Aí encontrei a minha primeira grande banda de culto, os Avenged Sevenfold. Quando dei por mim, após quatro ou cinco meses de os conhecer, já conhecia todos os álbuns, eps, conecertos e derivados de cor, todas as transições, baterias, riffs, tudo. Esta foi a banda que mais me influenciou desde os meus catorze anos até aos dezoito.

Radiohead – 2+2=5

No apogeu da minha altura do metal ou, mais especificamente, do Metalcora (aos meus quinze anos), recebi uma chamada que, por muito cliché que isto possa soar, mudou a minha vida. Era um rapaz com o nome de Pedro Zuzarte Saraiva. Disse que era meu primo afastado, tinha uma banda e procuravam um baterista. Após ir à Torre do Tombo verificar toda a minha árvore genealógica, cheguei à conclusão que era verdade e que ele era efectivamente meu familiar. Disse-lhe que tinha todo o gosto em ir fazer uma audição para a tal banda, que na altura se chamava Roadies e actualmente chama-se Lotus Fever. Uma das músicas que me pediu que preparasse foi a “Fake Plastic Trees” dos Radiohead. Nessa altura só conhecia a Creep e, após ouvir o tema indicado por ele, não fiquei muito convencido em querer ouvir mais mas, após alguns ensaios e de levar muito na cabeça, decidi ouvir melhor a dita “banda incrível” que eles me descreviam. Em pouco mais de duas semanas, passou a ser uma das minhas bandas preferidas. Esta é e sempre será uma das minhas maiores referências musicais. 

Led Zeppelin – We’re Gonna Groove

Juntamente com Jeff Buckley, Led Zeppelin foi uma banda que subitamente se tornou “indispensável” se eu quisesse embarcar na viagem musical dos Roadies, posteriormente Lotus Fever. Como tal, decidi ouvir melhor e que melhor forma de começar senão pelos concertos? O primeiro que vi foi no Royal Albert Hall. A potência das pancadas do John Bonham, a voz inconfundível do Robert Plant, a “paleta” dos riffs do Jimmy Page, a potência enorme do baixo do John Paul Jones… Fiquei absolutamente perplexo- Até hoje estou à procura de um início de concerto melhor do que a “We’re Gonna Groove” naquela sala londrina em 1970. Se alguém tiver alguma sugestão, duvido que tenha razão, mas estou aberto a sugestões.

Dream Theater – A Nightmare To Remember

No meio de toda esta descoberta musical que estava a acontecer na minha vida, decidi explorar também melhor o que o mundo do Metal tinha para me oferecer. Nisto, descobri os Dream Theater e tornaram-se na primeira banda de Metal Progressivo que alguma vez ouvi. Tal como ocorreu com os The Police, eles quebraram barreiras musicais que anteriormente considerava impenetráveis. Desde músicas estranhamente grandes, a dezenas de secções na mesma canção (que por vezes chegava a vinte sete minutos). O meu grande desafio tornou-se tentar decorar todas as secções, tocá-las e ficar horas sem parar, para tocar três ou quatro músicas. 

Tesseract – Of Matter – Proxy

No mundo deste Metal “tecnicista” Progressivo, descobri uma nova banda, os Tesseract. Esta banda ocupou grande parte do meu tempo livre desde os meus dezassete anos até aos dias de hoje. Com eles, descobri que o mundo do Metal Progressivo e o do Djent não eram totalmente distintos. Afinal de contas, quem tem um Jay Postones no meio do metal, tem tudo. Eles levavam as músicas ao “ridículo” do que ao início me parecia aleatório, mas após centenas de audições fazia todo o sentido. Tocar as músicas desta banda foi um treino fantástico enquanto baterista, não só pelo pedal duplo infalível deste senhor, mas também pela calma que é necessária para enfrentar estas músicas. Um “must” para curiosos do Metal.

Tame Impala –  Apocalypse Dreams

No meio das minhas aventuras metaleiras, os restantes membros dos Lotus Fever decidiram pôr-me os pés na terra e apresentar-me a outra das minhas bandas favoritas: Tame Impala. O psicadelismo actual e as baterias “groovadas” que sem dúvida foram criadas por alguém que ignora simplesmente o que um baterista de Rock/Indie “deve fazer” obrigaram-me a reconsiderar a minha maneira de tocar e compor baterias. Desde então as minhas abordagens às músicas ficaram totalmente diferentes e, por isso, estou-lhes eternamente gratos.

Pond – Sitting Up On Our Crane

Em Agosto de 2015 decidi embarcar numa nova aventura, um certo festival com o nome Paredes de Coura. Nunca tinha ido antes e fui sem saber muito bem o que esperar. E ainda bem. Qualquer pessoa que manifeste o interesse de ir, deve ser isolada da sociedade até isso acontecer. Foi das melhores experiências da minha vida, tanto a nível pessoal/espiritual como a nível musical. Todo o ambiente do festival deixa uma pessoa com uma percepção da “sociedade ideal” completamente nova. Desde ver um membro dos Capitão Fausto (não vou especificar qual) às 3 da manhã a cantar Pink Floyd como se não houvesse amanhã a mergulhar naquele rio refrescante às três da tarde, após acordar. No meio disto, decido ir ver um concerto duma banda que, apesar de conhecer a maior porte dos trabalhos razoavelmente bem, não conhecia a ponto de ser fã incondicional. Nesse concerto não sei se fui eu ou se o mundo mudou efectivamente, mas quando eles tocaram este tema, eu senti-me a sair do meu corpo e a vaguear por aí. Foi absolutamente mágico e deu-me toda uma nova percepção do que “deve” ser um concerto.

Snarky Puppy – Lingus (live feat. Metropole Orkest)

Já falei do meu passado e do meu presente, falta falar do futuro. Obviamente que esta banda faz parte do futuro, mas acredito que no futuro é que chegarão ao patamar onde deveriam estar. Para mim, esta é uma das melhores bandas que o século XXI tem e vai ter para nos oferecer. Quem os conhece, sabe que é verdade e, quem não conhece, não sabe o que perde. A versão que mais gosto desta música é ao vivo com a Metropole Orkest e começa no minuto 1:22:23. É de sentar num quarto escuro, ligar às melhores colunas que tenham em casa (ou “phones”), fechar os olhos e apreciar a viagem. E com esta me despeço.

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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