Dar a ouvir as diferenças
Uma noite, dois concertos, duas gerações de música. Novos olhares. É este o conceito central em torno desta noite do CCBeat, que chama até ao Grande Auditório do Centro Cultural de Belém dois grupos distintos e de eras bem diferentes da música portuguesa, como é o caso dos PAUS e dos Pop Dell’ Arte.
“Se aparentemente nada os une, tenho em crer que ambos são marcos inquestionáveis da evolução que temos vindo a ser testemunhas”, afirma Fernando L. Sampaio, programador do CCBeat e Consultor para Dança e Músicas Plurais, que teve a ideia de juntar numa mesma noite os históricos Pop Dell’ Arte com os mais novatos PAUS.
Esta é, de facto, a natureza programática do CCBeat, “a de inclusão de todas as propostas e projectos musicais que tenham qualidade e revelem uma notável renovação de linguagens e caminhos”. Daí que Fernando L. Sampaio tenha levado a cabo este desafio de colocar em confronto as diferenças de geração e de conceitos musicais que tanto os Pop Dell’ Arte como os PAUS representam, cada um à sua medida e da sua forma muito particular: “Acho que numa programação com as características do CCBeat, uma noite com esta cumpre um propósito – dar a ouvir as diferenças”.
Diferença é, de facto, um valor chave para definir e compreender estes dois grupos que, nas palavras do programador do CCBeat, “criaram sonoridades próprias” e “trilham o caminho do experimentalismo, do risco inovador”.
Os PAUS nasceram em 2009 e são atualmente formados por Fábio Jevelim, Hélio Morais, Joaquim Albergaria e Makoto Yagyu. Em 2010 lançaram o seu primeiro EP “É uma Água”, que lhes proporcionou atuar em dois dos maiores festivais portugueses, Optimus Alive e Festival Paredes de Coura.
Em 2011 é editado o disco de estreia da banda, “PAUS”, que chegou ao número 3 do top nacional. Este foi, igualmente, considerado o melhor disco do ano em várias listas da imprensa especializada portuguesa.
No ano passado, a banda juntou-se à El Segell del Primavera – estrutura de edição, booking e management, criada pelo festival Primavera Sound – naquele que seria o momento-chave do início da sua internacionalização, desde aí, tem tocado um pouco por todo o mundo. Em maio de 2014, “Clarão”, o segundo álbum de originais, é lançado. Neste espetáculo, terá uma ótima oportunidade para celebrar o fim deste disco e o início de outro, “Mitra”, que será lançado no início de 2016.
Os Pop Dell’ Arte são um projeto musical criado por João Peste no início do ano de 1985. Nesse mesmo ano concorreu à 2ª edição do Concurso de Música Moderna do Rock Rendez-vous, tendo ganho não só o prémio de originalidade do concurso, mas a atenção da crítica e uma legião de seguidores que os seguia por todo o lado onde tocavam.
“É preciso amar as contradições”, assim se dizia numa das suas canções mais emblemáticas, Illogik Plastik. E era exatamente esse o espírito deste projeto transgressivo, que misturava as influências musicais mais díspares e contraditórias com poemas fonéticos de inspiração dada e futurista.
Com a formação fixa de cinco elementos – João Peste, Paulo Monteiro, Zé Pedro Moura, Nuno Castedo e Eduardo Vinhas – que mantêm desde 2007, os Pop Dell’ Arte estão de volta com temas novos. No dia 5, poderá comemorar os 30 anos dos Pop Dell’ Arte com Panoptical Day, um espetáculo diferente, mas com o mesmo idealismo de sempre e as tão amadas contradições destes tempos e doutros.