Opinião: Toda a Luz Que Não Podemos Ver, de Anthony Doerr

Toda a Luz Que Não Podemos Ver

Anthony Doerr

Editora: Editorial Presença

Sinopse: Marie-Laure é uma jovem cega que vive com o pai, o encarregado das chaves do Museu Nacional de História Natural em Paris. Quando as tropas de Hitler ocupam a França, pai e filha refugiam-se na cidade fortificada de Saint-Malo, levando com eles uma joia valiosíssima do museu, que carrega uma maldição. Werner Pfenning é um órfão alemão com um fascínio por rádios, talento que não passou despercebido à temida escola militar da Juventude Hitleriana. Seguindo o exército alemão por uma Europa em guerra, Werner chega a Saint-Malo na véspera do Dia D, onde, inevitavelmente, o seu destino se cruza com o de Marie-Laure, numa comovente combinação de amizade, inocência e humanidade num tempo de ódio e de trevas.

Opinião: Já acabei de ler este livro há quase duas semanas, mas por falta de tempo ainda não me tinha conseguido sentar com calma para escrever sobre ele. A verdade é que este livro cria uma marca no leitor tão grande, que mesmo sem expectativas nenhumas o pensamento final é – realmente merece os prémios que ganhou. Isto porque, como os leitores mais antigos deverão saber, ler romances históricos, do tempo coloniais e das guerras mundiais, não é algo que faça com frequência, de todo, mas mal mergulhei no universo de Toda a Luz Que Não Podemos Ver fiquei presa. Presa por uma série de razões, mas principalmente porque rapidamente o título fez todo o sentido a vários níveis. E se dúvidas pudesse ter ao início da leitura, facilmente fiquei fascinada com a forma eloquente e estimulante com que Anthony Doerr contou uma história com tanto peso emocional.

Marie-Laure e Werner Pfenning são protagonistas extraordinários. Estando em pólos totalmente opostos de uma guerra que lhes foi imposta, vamos acompanhando o crescimento de cada um, até ao momento em que se cruzam. Testemunhamos o cegar de Marie-Laure, a dedicação do seu pai para que ela ganhasse sensibilidade nos restantes sentidos levando-a para a rua para decorar caminhos, construindo-lhe maquetes, parra que pudesse memorizar a configuração das ruas. Marie-Laure acaba por se adaptar como pode e enquanto a guerra não lhe chega à porta acompanha o seu pai pelo museu, deixa-se fascinar pelos musculosos e as suas diferentes texturas e todo este processo torna-se extremamente sensorial para o leitor. Para não falar no comovente que é a sua ligação às obras  “As Vinte Mil Léguas Submarinas” e “A Volta ao Mundo em 80 Dias” e todo o contexto que a envolve.

Do lado de Wener Pfenning temos um rapaz que cresce num orfanato, juntamente com a sua irmã, ambos tão curiosos e ele tão sedento de aprender como é que as coisas funcionam. Os rádios são o verdadeiro fascínio destes dois irmãos, mesmo quando se torna um pequeno pecado estarem na posse de algum. Mas crescer é inevitável e à medida que se torna perito em concertar objectos, principalmente rádios, e à medida que a idade se aproxima, ingressar na Juventude Hitleriana é um marco que não pode contornar. Aqui conhece o medo, a compaixão, o terror, a culpa, a dúvida e o acumular de remorsos. Estando sempre mais dedicado a tudo o que envolva a comunicação e detecção de rádios, não deixa de ser inocente ao que vê acontecer, ao que sabe que tanto ele como a irmã são contra, não fazendo nada para contrariar. Só muito mais tarde, com alguma esperança e desespero, decide seguir verdadeiramente o seu coração. É aí que conhece Marie-Laure, mas o destino já lhe estava traçado. 

Claro que temos mais personagens com um papel preponderante. É fascinante a forma como a narrativa está construída e estruturada, como somos levados para tempos presentes, passados e futuros sem que nos percamos. É de uma subtileza belíssima, a escrita deste autor. Fria quando o tem que ser, emocional quando assim o pede, mas a intensidade é uma constante, mesmo em pequenas coisas. É um livro de tensão, principalmente porque a maioria dos capítulos tem apenas duas ou três páginas e vamos saltando de cenário em cenário a alta velocidade. Senti-me maioritariamente ansiosa ao longo da leitura, em algumas momentos numa ansiedade mais contemplativa, noutros sedenta por um desenrolar mais rápido da acção. Mas é também neste ritmo compassado que o segredo reside. Tudo nos é apresentado e nada é demais, mesmo quando torcemos para que a trama siga um certo rumo, que provavelmente não seguirá. 

Acho incrível como certos momentos foram relatados, a insubordinação, a esperança, a luta, o lutar contra os demónios e a passividade que o medo muitas vezes impõe. E por outro lado tivemos também o testemunho da parte alemã, do sangue frio, da verdadeira cegueira humana em querer prosseguir com a destruição por poder, por sentido de posse. É um dos melhores livros que já li, de sempre. Achei assombrosa a forma como, não sendo eu grande fã deste tipo de livros, me dediquei tanto a esta leitura. Foi como viver outras vidas naqueles instantes. Não é o melhor que um livro nos pode dar? A sensação de nos transportar para os cenários que descreve, mesmo que tenham grandes doses de sofrimento e aprendizagem? Afinal tudo faz parte do nosso quotidiano e da nossa história. E não vivemos nós baseados em grande parte em tudo aquilo que não podemos ver – sejam ondas rádio, sonoras, etc.? Um livro brutal que aconselho vivamente a todos os leitores, fãs ou não.

PS: Fica a nota para a belíssima capa, com a fotografia magnificamente editada de Saint-Malo, um dos principais locais da acção. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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