Se Acordar Antes de Morrer
João Barreiros
Editora: Gailivro
Nº de Páginas: 509
Sinopse: João Barreiros nesta colectânea de contos de ficção Científica portuguesa descreve-nos lugares imaginários, que se aproximam muito dos reais, onde tudo é negativo. O seu imaginário é sempre fracturante, onde a maior parte das vezes o herói ou o próprio mundo estão condenados à partida. O herói tem sempre uma falha essencial: a cupidez; a cegueira pessoal, política ou está envolvido numa situação em que dificilmente ele sairá ganhador. A tentativa de chocar o leitor é deliberada e propositada. Em alguns dos contos encontra-se a desconstrução subversiva de todos os mitos de infância (Pai Natal). Num dos contos que fazem parte desta colectânea «O Teste» revela-nos toda a sintomatologia psicossomática característica de um professor quando de manhã acorda e tem pela frente um dia que teima em ser longo desde que se levanta até chegar à escola. Finalmente chega e entrega os testes aos alunos que o consideram difícil. Perante tal reacção, José Esteves fica aterrorizado por causa da taxa de insucesso gigantesca que irá revelar-se o que implica uma visita de Inspector ou um processo disciplinar e uma suspensão das actividades lectivas por provada crueldade mental. E como se isso não bastasse, uma espera feita pelos alunos, algures, fora dos terrenos da escola.
Opinião: João Barreiros é um dos poucos (pelo menos que eu conheça) autores portugueses que ao longo de mais de 20 anos tem públicado obras de Ficção Científica. Em Acordar Antes de Morrer estão reunidos grande parte dos seus contos.
Dotado de grande originalidade e genialidade, João Barreiros leva-nos a percorrer cenários nunca antes imaginados que nos levam a questionar, na maioria das vezes, até que ponto o avanço constante da tecnologia é benéfico para a humanidade. Nem sempre foi uma leitura fácil. Em alguns dos contos penso que o autor exagera nos termos tecnológicos levando a nossa leitura um pouco à exaustão. Mesmo em contos onde a ideia está fantástica, o excesso de utilização de termos técnicos, acaba por degradar um pouco a nossa opinião sobre o mesmo.
O primeiro conto intitulado “Brinca Comigo” foi um dos que mais gostei. Confesso que fiquei com imensa curiosidade de ler um conto anterior a este “Caçador de Brinquedos” pois o autor diz, na nota introdutória, que “Brinca Comigo” poderia ser a sua sequela. Pois bem, fiquei mesmo com curiosidade! Neste conto, em que os humanos não são mais nada que meras estátuas, a Horda, constítuida por 500 brinquedos, luta pela demanda de encontrar o único humano vivo ao cimo da Terra. Foi muito engraçado passar por aquelas páginas, imaginar como seria um mundo só de brinquedos que só querem alguém que brinque com eles. Mas com os humanos todos mortos, quem o poderia fazer?
Outro conto de que gostei bastante foi “Disney no céu entre os Dumbos”. Um conto que foi escrito há mais de 20 anos, que foi publicado primeiro lá fora e só depois em Portugal e que, no entanto, é de uma “singularidade” genial. Todo o mundo descrito, a tecnologia existente, e as personagens estão extremamente bem construídos numa teia que nos conduz a um fim inevitável.
“Fantascom”, um já famoso conto do autor (para mim era-me desconhecido até ter o livro, mas uma breve pesquisa no Google diz-nos imenso) é uma sátira em que o autor descreve o fim da Ficção Ciêntifica. No geral, captei a intenção do autor e a mensagem que ele quis transmitir quanto às dificuldades da FC, mas por outro não gostei muito dos elementos escolhidos para serem satirizados. Mas o que interessa é que a mensagem é bem transmitida.
No geral, todos os contos são únicos, embora alguns repitam um pouco as mesmas ideias.
Uns foram mais fáceis de ler do que outros, mas este livro consegue mostrar bem a qualidade de João Barreiros enquanto autor de Ficção Científica. É no entanto de notar que é normal que há 20 ou 30 anos atrás a maioria dos editores de contos em revistas, não percebesse metade do que o autor escrevia, coisa que o autor se queixa em algumas notas introdutórias. Se hoje em dia, com a tecnologia que já vamos tendo, ainda acho difícil penetrar em toda aquela dimensão que o autor constrói, quanto mais há decadas atrás.
Quero ainda realçar mais dois contos: “O Teste” e “Um homem e o seu gato”.
O primeiro porque mais parece que o autor teve um momento visionário ao escrevê-lo. O conto retrata o estado da educação portuguesa num futuro que é o nosso presente. Publicado no final dos anos oitenta, dá-nos a imagem exacta das escolas portuguesas de hoje em dia. Professores com medo de alunos, avaliações cada vez mais fáceis mas que mesmo assim para os alunos são sempre impossíveis e o medo de ser considerado pior que os outros. Claro que tem sempre a sua componente tecnológica avançada, mas sem dúvida imperdível.
“Um homem e o seu gato” foi o desfecho perfeito do livro. Segundo o que o autor diz no posfácio, foi a sua mais recente criação e que bela criação. Já imaginaram gatos dotados de uma inteligência fora do normal com capacidades cognitivas quase humanas? Mas e se, afinal, fossem apenas meras armas de destruição maciça? Um conto deveras engraçado com pitadas de um horror viciante.
Para acabar, quero só dizer que tenho pena de a formatação do livro não estar um pouco melhor. Expressões que deviam estar a itálico que não estão, alguma pontuação em falta, enfim, acho que uma revisão mais apurada não lhe tinha feito mal nenhum.
Um autor que gostei de conhecer através do seu livro depois de uma breve troca de palavras na feira do livro.
Agora compreendo o que tanto li na internet sobre a magnitude da escrita de Barreiros. Um livro a ser adquirido pelos amantes de FC.
Olá, Sofia.
Alguns apontamentos breves:
1 – É fácil não morreres de curiosidade. Quanto muito, custa-te 10 euros: http://html.editorial-caminho.pt/show_produto__q1obj_–_3D35511__–_3D_area_–_3Dcatalogo__q236__q30__q41__q5.htm
2 – Há quem diga que uma mentira repetida muitas vezes se transforma numa verdade. Para impedir isso em relação ao "Disney no céu entre os Dumbos", que se reponha a verdade: http://livrosdeareiaeditores.blogspot.com/2010/04/da-endemica-falta-de-memoria.html
3 – Quanto ao "Teste", o João terá tido a vivência, mais do que a visão 😉
4 – Quanto ao Fantascom, não posso deixar de rir a bom rir, embora mais da introdução estapafúrdia do que do conto em si.
E não há tempo para mais 😉
Bjs,
Rogério
Ahahah!
Estamos a ser bem enganados 😐
Excelente opinião!
Não sou um apreciador de Ficção Científica, mas realço a tua opinião, excelente de facto.
Olá Iceman 🙂
Muito Obrigado! É bom ler uns elogios de vez em quando =) Eheheh!
Tem uma boa semana!
Chego tarde à conversa mas não consigo deixar de reparar numa coisa engraçada. o revisionismo cultural é algo para que a malta por vezes cai sem querer. Isto quanto a repolhos de verdade.
É que, quanto à introdução do Disney, o autor diz que o conto foi publicado primeiro lá fora e só depois cá, afirmação que carece tanto de "verdade" como os repolhos de vinho tinto. E mais não disse. Nem tinha de dizer. Por isso continua a falhar-me onde está a falta de uma "verdade" ou que ela tenha de ser "reposta".
Em nenhum sítio o livro faz as delícias dos listódependentes, para além de as peças introdutórias não estarem lá para satisfazer essas hormonas que se excitam com filinhas de créditos, como qualquer pessoa que os leia percebe.
Mas acho graça que, muito depois da conversa já estar estafada, continue a haver necessidade de andar aos repolhos, lá isso acho. 😀
Não sabia da existência deste livro, gosto muito de João Barreiros, já tive oportunidade de trocar algumas ideias e palavras com ele, é uma pessoa com um conhecimento literário invejável e deixa sempre boas sugestões, enquanto autor dos livros que li fiquei muito bem impressionado, deves ler da trilogia (aparentemente inacabada) A Bondade dos Estranhos – O PROJECTO CANDY-MAN, penso que é a última obra editada do João Barreiros, publicada pela editora Chimpanzé Intelectual que agora se dá pelo nome de "o atelier – escrit'orio".
Gostei do teu espaço vou passar cá mais vezes.
Apenas curiosidade, visto que somo colegas académicos, estás a tirar o curso onde?
Olá Miguel. Antes de mais sê bem vindo e volta sempre =)
Estou a tirar o meu curso no Instituto Superior Técnico. E tu?
Estou na "concorrência", FCUL, estou a brincar. Já tiveste aulas com o Professor Luis Rodrigues? Tens alguma área que te interesses mais?
Engraçado… Conheces, quase de certeza, alguém chamado Nuno mais conhecido por Noites? Ele entrou em 2006. Fomos colegas no secundário…
Em princípio quero/vou seguir investigação na área de Bioinformática. Dependendo como corre tudo no IST (ou não corre), estava a pensar tirar mestrado na FCUL nisso mesmo. Mas para já vou acabar o meu no IST 🙂
E tu?
Conheço sim, não é uma pessoa com quem fale muito mas já falamos umas vezes.
O mestrado de Bioinformatica tem sofrido algumas alterações no departamento, e existem agora dois mestrados nessa área, um coordenado pelo DI e outro pelo departamento de biologia.
Está em que ano?
Estou no primeiro ano de mestrado(quase a acabar mas pronto).
Uma pergunta, tens gostado do ambiente do IST?
Estou no último ano de licenciatura/primeiro ano de mestrado.
Quando entrei era jogadora de alta competição até que em dezembro do meu primeiro ano o meu joelho se foi e tive duas operações, dois anos de fisioterapia, etc etc etc, bla bla bla 🙂 Mas já estou bem. Acabei por, inevitavelmente, atrasar-me na faculdade, mas consegui recuperar bastante e não estou preocupada.
O ambiente no IST.. Hum.. Não adianta eu tentar dar a voltar ou andar com rodeios. O ambiente no IST é uma valente merda 🙂
Raramente podes confiar em alguém, raramente os profs se preocupam com mais alguma coisa do que a cadeira deles ser a melhor e serem bueda bons…
Mas já fiz meia dúzia de bons amigos e há um ou outro prof que também são porreiros.
No final o IST tem muita fama, mas não sei se compensa. Situações como de repente te veres sózinho num projecto porque os teus colegas te abandonaram é frequente, pedires apontamentos ou explicações e virarem-te as costas porque são bons demais para ti ou têm medo que tu os ultrapasses.. lol.. O termo competição é demasiado levado à letra.
Mas conseguindo sair de lá, estás pronto para seja o que for, onde for.
E os poucos amigos que lá arranjamos, valem a pena. O resto é tudo treta e aparências 🙂
Então bem vinda a FCUL=)
Em conversa com alguns professores já falamos várias vezes sobre isso, alguns até vieram do técnico(a maior parte) só temos um que voltou para lá, o tal Luis Rodrigues porque abriu uma vaga para catedrático e ele foi. Os professores no DI são excelentes, claro que há sempre uns que não são, mas a maior parte são muito bons. E digo-te em termos de ensino estamos muito bem colocados, é como dizes acho que o IST tem muita fama.
Já estás mesmo a acabar então.
Estás a fazer muitas cadeiras de mestrado?
No final deste semestre fico com 5 cadeiras de mestrado feitas.
O Luis Rodrigues é da área de Sistemas Distribuídos, eu sou da área de Inteligência Artificial e Engenharia de Software. Nunca o vou ter como professor, mas os colegas que o têm, gostam dele.
Quanto à minha possível ida para a FCUL, logo se verá 🙂
Estive a ver os teus blogs, já reparei que também tens uma paixão pelos livros. Escreves também, ou só lês?
IA =X é preciso coragem, o noites está no LabMag não sei muito bem o que é que ele está a fazer se é IA ou computação gráfica, o LabMag é o nosso laboratório de investigação dessas duas áreas. Engenharia de Software temos uma equipa no laboratório onde estou LaSIGE que é o Gloss, algumas pessoas estão na ES.
Ultimamente não tenho escrito… infelizmente, mas já escrevi algumas coisas. Dentro do Terror e FC.
Agora ando a rascunhar mais na área de religião, mas não tenho tido tempo.
Se tiveres alguma dúvida sobre a FCUL/DI investigação no DI, ou sobre o mestrado de Bioinformática, dou-me muito bem com dois dos Professores que são responsáveis por esse mestrado por isso estás a vontade.
Obrigado =)
Sou capaz de te vir a contactar quanto a isso então. Entretanto queria ver se começava a dar aulas, mas ainda não abriram candidaturas para bolseiros este ano.. A ver vamos. Estou também à espera de uma resposta para outra candidatura para uma bolsa de investigação em bioinformática no KDBIO lá no INESC-ID.
Crossing my fingers… A ver vamos 🙂
Se quiseres, um dia, manda-me esses textos que já escreveste. Fiquei curiosa. Gente de informática a ler e a escrever… Das coisas mais raras que tenho visto 🙂
Estive para dar aulas neste ano, mas optei por investigação. Mas ganha-se muita experiência, a fala em público e a lidar com gente que as vezes não respeita.
Em relação ao INESC ouvi falar muito bem.
Tenho alguma vergonha de os mandar agora, são antigos e merecem muitas revisões, agora se os ler devo achar horrível. Há um que não me importo de mostrar porque foi publicado na BANG4 da SE. Também já tem uns anos acho eu.
Sorry but:
Estava a ver blog (não na parte literária), e o teu facebook e sou uma pessoa muito interessada na religião e nas crenças.
E perdoa-me o pouco conhecimento que tenho de Paganismo/Neo-Paganismo, o paganismo não é uma religião certo? visto que existem várias mitologias/sub-religiões dentro, correcto?
Consideras-te uma pagã ou uma curiosa do paganismo?
Achei curioso perguntares-me isso. Posso saber qual a tua religião?
Quanto ao paganismo, vamos por as coisas desta maneira: Tudo que tenha determinadas crenças ou siga determinadas regras, acaba por ser uma religião. Embora o paganismo tenha N vertentes diferentes com N panteões diferentes, acaba por ser uma religião.
Nunca me considerei uma religiosa, mas sou pagã. Para mim, não há como não ser. A ideia de ser monoteísta, faz-me uma confusão desgraçada. Eu fiz catequese, cheguei a frequentar a igreja adventista, ou seja, tive bastante formação religiosa monoteísta. Estudei bastante algumas religiões, estudei a bíblia e tudo mais, mas o chamamento, chamemos-lhe assim, para o paganismo foi mais forte.
Sou pagã, sim, contrariamente a toda a minha família e a quase todas as pessoas que conheço, e sou, ou pelo menos espero vir ser, Druida. De todas as vertentes pagãs, em que muitas me hão-de ser desconhecidas, o Druidismo foi aquela com a qual me identifiquei mais. Se conheço mais alguém que o seja, nop, nada.
Sabes, se eu um dia vier a escrever alguma coisa, penso que seria por aqui que pegaria. Há imensa informação errada sobre o paganismo, conceitos que foram ridicularizados e demonizados por ignorantes.
Qualquer coisa que queiras saber, se eu conseguir responder, estás à vontade.