Danação
Quando não há mais nada,
Para além do nada,
E tudo acabou,
Ainda me persegue a esperança,
A deusa última, derradeira
Companheira, nas horas finais.
Mas eu não quero mais,
Nada mais,
Não quero ver, coisa alguma
Não quero ouvir, coisa nenhuma
Não quero viver, nem sofrer
Apenas quero existir para morrer.
Mas agora, qual fera
Moribunda,
A esperança não me larga,
E cerra os dentes, sobre mim
Para que então, mais atroz
Eu sofra mais, à última vez do algoz.
Surpreendido?
Eu estava à espera de tudo,
Menos daquilo,
Ainda surpreendido?
Eu não estava à espera de nada,
Mas esperava tudo, esperando aquilo.
Escolheste bem, Sofia, se bem que não seja fácil, "Danação" é, para mim, um dos melhores poemas de Ser Como Tu. Se bem que o não possa parecer, é um poema sobre a esperança, a omnipresença da esperança na vida/vida a criação.
Miguel