Entrevista a Fábio Ventura – “Depois de Orbias…”

Apresentação de “Orbias – O Demónio Branco” na Fnac do Colombo

Vi no blog do Orbias que tinhas finalmente um novo projecto pronto. Antes de falarmos dele, diz-me, como foi encerrar o ciclo Orbias?

Encerrei o ciclo Orbias há pouca mais de um ano, quando terminei de escrever o segundo volume. Cada vez que termino um livro, entro num período de luto. Fico tão envolvido na história e na vida daquelas personagens que, quando tudo termina, fico com aquele vazio cá dentro. Por outro lado, também há um certo alívio por ter conseguido terminar algo que me deu tanto prazer construir e que vai passar a fazer parte do mundo dos leitores.

Que balanço é que fazes desta tua experiência no mundo do fantástico?

Muito positivo. É o género que mais gosto de ler e escrever e foi realmente um prazer começar por esse género literário. No Fantástico, há um rigor muito diferente em que a imaginação é aproveitada ao máximo e em que temos de torná-la muito sólida aos olhos do leitor. É um desafio constante. Penso que nunca me vou afastar realmente do Fantástico. Mesmo que tente, vou sempre tentar adicionar algum elemento desse género.

Que feedback tens recebido dos leitores? Eles gostavam que houvesse mais alguma aventura no mundo de Orbias?

Um feedback muito positivo. Quando publiquei o primeiro Orbias, não esperava tanto sucesso, especialmente com todos os obstáculos que um jovem autor português tem de enfrentar. Aqui aconteceu um fenómeno curioso. Quando escrevi os Orbias, foi a pensar num público mais juvenil e a editora também assim o pensava. No entanto, acabou por conquistar um público mais velho, o que me deixou bastante agradado ao constatar que afinal a história era mais abrangente do que pensava. Consegui angariar um grande grupo de leitores que se apaixonaram pelo mundo de Orbias. Muitos deles ficaram tristes com o final da história, mas tendo em conta o final do segundo volume, compreendem porque é que isso aconteceu.

Pensas voltar a esse mundo?

Sim, nunca excluí a hipótese de regressar ao mundo de Orbias. É uma história com muito potencial a ser explorado e seria uma pena abandoná-lo completamente. Se um dia escrever um novo livro passado em Orbias, será algo novo, com outras personagens como protagonistas. No entanto, estou a ponderar publicar mais alguns contos no blog, tal como fiz há um ano atrás.

Fala-nos agora do teu novo projecto.

Depois da publicação do segundo volume do Orbias, a editora mostrou-se interessada num novo livro, mas algo novo, diferente dos Orbias. Desde aí que tenho explorado várias ideias. Iniciei sete histórias e foi a sétima que acabou por ganhar. Com este novo livro, pretendi escrever algo ligeiramente mais maduro e sombrio, mas sem perder o meu estilo. É uma história que vai agradar aos leitores dos Orbias (na sua maioria, um público mais jovem), mas que também vai cativar um público mais abrangente pelos temas abordados. Relativamente a género, a presença de elementos de Fantástico surge em forma muito mais reduzida do que nos Orbias. Diria que se situa entre o Fantástico e o realismo mágico, mas estou com dificuldades em atribuir-lhe um género específico.

O que é que podes adiantar sobre a história?

Uma vez que o livro ainda está em avaliação pela editora, não posso adiantar grande coisa. Em termos muito gerais, é a história de um homem que é acusado injustamente de um homicídio que não cometeu e que é ajudado a fugir por uma misteriosa e atraente mulher. Essa mulher tem a simples particularidade de ser a Morte. E mais não posso dizer…

Em termos de escrita, mudaste o teu registo ou mantém-se como no Orbias?

Tenho consciência que a minha escrita vai melhorando de livro para livro. Uma vez que esta história é mais madura do que a dos Orbias, também a minha escrita amadureceu ligeiramente. No entanto, o meu estilo continua ali, numa história com uma presença muito mais forte do humor negro, de algumas reflexões nas entrelinhas dos diálogos e com algumas metáforas originais.

Como tem sido em termos de motivação com este novo projecto?

Eu estou muito motivado e confiante com este novo projecto. Tem sido algo atribulado todo o seu processo, uma vez que estamos a atravessar um período de crise que está a afectar grandemente o mercado dos livros. Por essa mesma razão, e também por uma questão de agenda editorial, se o novo livro passar na avaliação da editora, só será lançado no primeiro trimestre de 2012. Mas estou convencido que a espera vai valer a pena, pois acredito na força deste novo livro.

Já fez mais de um ano desde que te entrevistei pela primeira vez. Desde então lançaste mais um livro, andaste em digressões, escreveste outro livro… Como é que isto tudo contribuiu para a tua pessoa?

Tudo tem contribuído para me tornar uma pessoa mais forte, confiante e madura. Todo o contacto com os leitores e o mundos dos livros tem sido algo constante e que me permite perceber qual o meu lugar neste mercado e qual o meu papel enquanto autor. Tenho feito um longo trabalho de divulgação em escolas do Sul (Alentejo e Algarve) e o feedback tem sido óptimo. Aproveito, não só para falar dos meus livros, mas tento promover a leitura entre os mais jovens e também desmistificar todo o processo desde a construção de um livro até chegar às mãos de um leitor. Tudo isso também me permite desenvolver as minhas capacidades de comunicador.

Enquanto escritor sei que recebeste críticas boas e algumas menos boas. Como foi lidar com essas críticas e que postura é que adoptaste?

Há uma certa tendência para se pensar que não sei aceitar uma crítica ou que sou um pouco mimado. A prova de que isso não é verdade é que divulgo sempre no meu blog todas as críticas aos livros, mesmo aquelas menos boas. Outra prova disso é que se o segundo volume do Orbias está muito melhor que o primeiro foi graças às críticas construtivas que foram feitas pelos leitores e que foram muito importantes para o meu crescimento. Sou a primeira pessoa a criticar aquilo que faço e sou o primeiro a dizer que há pequenas falhas nos dois livros que poderiam nem existir, mas aconteceu e penso que isso acontece com qualquer autor. Tal como aperfeição não existe, também não há livros perfeitos.

Sou muito assertivo e mantenho uma relação muito boa com outros autores portugueses, havendo uma constante troca de experiências e conselhos. Gostava que o mesmo acontecesse com autores mais velhos e com mais experiência, pois ia aprender imenso, especialmente a superar os meus erros. Quando o tom das críticas não me agrada por considerar que não têm razão de ser e porque por vezes nem têm nada a ver com os meus livros, simplesmente ignoro e dedico o meu tempo a escrever e a crescer enquanto autor.

Obrigada Fábio pela tua disponibilidade!

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2 Comentários
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Clarinda
Clarinda
13 anos atrás

Um bom trabalho!

Morrighan
Morrighan
13 anos atrás

Obrigada Clarinda!

  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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