Opinião: ‘O Último Lobisomem’ de Gleen Duncan

O Último Lobisomem

Gleen Duncan

Editora: Editorial Presença

Colecção: Via Láctea #106

Sinopse: Jacob Marlowe é um lobisomem solitário, o último da sua espécie. Há duzentos anos que vagueia pelo mundo, escravo dos seus apetites ferinos, que o condenam a devorar um humano a cada nova lua cheia. Mesmo sabendo que irá pôr fim a uma lenda com milhares de anos, Jacob pensa no suicídio. No entanto, em breve Jacob descobre uma razão muito mais forte para querer continuar a viver, quando se apaixona por Tallulah, a última lobisomem.

Opinião: Quando pensamos que, na nossa literatura, já lemos de tudo um pouco no que diz respeito a criaturas mitológicas, aparece sempre algum autor capaz de nos surpreender e nos desenganar quanto a esse assunto. Gleen Duncan é um desses autores e O Último Lobisomem é dos melhores livros que já li.

– É oficial – disse o Harley – (…) És o último. (…) Lamento.

Jacob Marlowe, por um acaso macabro do destino, foi transformado em lobisomem há cerca de cento e sessenta e seis anos. Desde então que tem vivido uma vida solitária, até conhecer Harley. Apesar da sua natureza assassina enquanto lobisomem, a história, que não me compete a mim contar, de como conhece Harley e com quem, consequente, trava amizade, vieram a atenuar um pouco essa solidão. Porém, agora que é o último, nem mesmo o seu amigo o pode salvar de uma morte quase certa. Um membro da OMCFO (Organização Mundial de Controlo dos Fenómenos Ocultos), Grainer, fará de tudo para o matar na sua forma lupina. Ao que parece Jake já só tem mais uma lua de vida e está conformado com isso.

O maior problema, o do Ser, torna-se cada vez maior. (Não é de surpreender que os vampiros tenham uma relação amorosa intermitente com o estado catatónico.) Mas eu já esgotei todos os modos, um por um: hedonismo, ascetismo, espontaneidade, reflexão, tudo, desde o miserabilismo de Sócrates à alegria de um porco feliz e ignorante.

Ou estava. Até encontrar Talulla – a última lobisomem. Contra todas as expectativas, e quando pensava que para ele o amor já tinha morrido no dia em que se tornou lobisomem, Jake encontra uma nova razão para mais que sobreviver, viver mesmo. O seu novo objectivo é proteger ao máximo Talulla para que a OMCFO não saiba da sua existência.

O leitor quererá ordem, sequência, categorias. Compreendo. Mas a misteriosa trindade fornicar-matar-comer derruba as distinções, varre para longe o aparelho que separa isto daquilo e apresenta-nos o equivalente transcendental do desembaraço, uma forma de experiência completamente nova.

Num capítulo intitulado “Foder-Comer-Matar”, fica evidente que o autor não se poupa na crueza das suas expressões. Gleen Duncan veio, através desta obra, ressuscitar aquela imagem do lobisomem impiedoso e sangrento. Durante a lua cheia, Jake só pensa em matar e em despedaçar humanos. No resto do ciclo lunar, só pensa em comer, beber e foder.

Não pensem que existe algum tipo de espírito romântico ao estilo de Shakespeare, ou que estamos perante uma bela história de amor. Não, não estamos. Estamos antes perante uma obra crua, erótica, violenta, irónica e extremamente prazerosa para um leitor mais exigente. Gleen Duncan veio subir a fasquia, de forma considerável, no que toca a livros do género. Sem dúvida que gostei imenso e fica aqui altamente recomendado. Deixo também o esclarecimento que mais do que um livro para jovens adultos, é um livro para adultos. Adorei.

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3 Comentários
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Unknown
Unknown
12 anos atrás

Tb gostava muito de o ler!

Anónimo
Anónimo
12 anos atrás

Toda a gente fala bem deste livro! Eu tenho cá o livro em casa prestes a ser lido :p

bjs*

Morrighan
Morrighan
12 anos atrás

Vou querer ler a tua opinião! 🙂

  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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