O Deus das Águas Termais
Foram encontradas duas aras dedicadas ao deus Bormanicus, ambas em Caldas de Vizela (Guimarães), que se encontram no Museu de Guimarães.
Para tentar interpretar o seu significado, alguns autores decompões o nome da divindade em duas palavras de raiz proto-céltica: Berw– (“ferver”, “cozinhar”) e Anna– (“respirar”). A sua leitura seria: “respiração eferverescente”. Uma das manifestações deste deus seria, pois, através da sua própria “respiração”, vinda misteriosamente sob a forma de água em ebulição, surgida das profundezas da Terra e exalando o seu vapor.
Para Leite de Vasconcelos, o seu nome “deve ser pouco mais ou menos a significação de termal“.
O Deus Gaulês Borvo
Esta divindade não é exclusivamente lusitana, pois é conhecida na Gália sob o nome de Borvo (bem como Bormanus, Bormanna e Bormo). Porém, a forma como surge escrita em Portugal é única. Únicas, porém, não deverão ser as qualidades. Borvo é um deus da cura, com santuários desde Bourbonne-les-Bains até à Península Ibérica. O próprio nome da cidade francesa perpetua o prefixo Bor– da sua divindade tutelar. Encontramos na língua portuguesa, na raiz da palavra borbulha (relativa ao “borbulhar” da água), o mesmo prefixo, cuja origem será, muito provavelmente, onomatopaica. Será curioso reparar que, tanto em Bourbonne-les-Bains como em Caldas de Vizela, existem termas de água quente, o que torna provável a ligação de Bormanicus às mesmas.
Também é interessante o facto de existir uma divindade masculina (Bormanus) e uma feminina (Bormanna) com a mesma raiz etimológica, sendo que apenas o género varia. Desconhecemoms, porém, quais os atributos que eventualmente distinguiriam ambas.
O Combate das Enfermidades
Em Vichy, França, Borvo surge-nos representado numa inscrição com um elmo e um escudo guerreiros, enquanto uma serpente com cornos está atrás do deus, vindo em sua direcção. Estes símbolos remetem para um carácter igualmente guerreiro da divindade, o que leva alguns autores a associarem-no ao Apolo gaulês. Porém não se referirá este aspecto guerreiro à luta de Borvo, enquanto deus curador das águas, contra as enfermidades que afligiam aqueles que a ele recorriam? O deus travaria, assim, este combate no plano invisível com os “maus espíritos” causadores da doença, afastando-os e restaurando a saúde do devoto.
Alexandre Gabriel
Mandrágora – O Almanaque Pagão 2009 – Usos e Costumes Mágicos da Lusitânia