Diário dos Imperfeitos
João Morgado
Editora: Kreamus
Sinopse: «Diário dos Imperfeitos» é uma viagem à intimidade das pessoas. Vítima de um acidente, a “Gaivota” é uma mulher que precisa de redescobrir todas as emoções sequestradas dentro de si. Ao mesmo tempo, reaprende a conhecer o seu corpo – uma aventura refreada pela moral, pela sombra do pecado, e pelo medo que pode levar à própria insanidade. Uma luta interior entre o bem e o mal, que leva a uma inevitável conclusão: todas as pessoas são imperfeitas!
Como irá reagir de novo à sua realidade? Voltará a ser quem era? E os que estão a seu lado, como vão sobreviver a esta viagem? Uma escrita intimista, que procura descortinar os sentidos e as emoções dos diferentes personagens. Do prazer mais carnal ao amor puro, passando pela falsa moral da sociedade e da religião. Pelo meio, a filosofia simples de duas personagens inusitadas – a mulher que lê pensamentos e um pintor de sóis na parede. São eles que levam o narrador a perceber os sentimentos da “Gaivota” e nos ajudam a reflectir sobre temas tão controversos como o amor, o desejo, o sentimento de culpa ou o próprio nojo.
Opinião: Depois da estreia com ‘Diário dos Infiéis‘, a vontade de voltar a ler um romance de João Morgado nunca me abandonou. Quando tive conhecimento de que o autor iria lançar uma nova obra, fiquei muito contente e ainda mais quando o próprio fez chegar até mim um exemplar.
Penso que após o término desta leitura, e para quem já leu o seu romance anterior, a sensação que fica é que estamos perante um escritor que sabe como abordar as emoções humanas e mais, confronta-nos com o que de mais íntimo existe em cada um de nós.
O início do Diário dos Imperfeitos arrebata-nos logo em tom de aviso: ‘Estás perante uma obra que de uma maneira ou outra te vai marcar.’. Aqui encontramos uma história dentro de outra história. Para que a “Gaivota” se possa ir descobrindo, o narrador conta-lhe uma outra história, intrincada e intrigante, que vai fazendo com que ela de alguma maneira se vá expressando.
Nesta história secundária, que acaba por muitas vezes tomar o papel de primária, conhecemos um conjunto de personagens que mais não são do que meros seres humanos ditos normais. Com os seus defeitos, imperfeições, sentimentos e acima de tudo, com as suas realidades tão comuns nos dias de hoje. O autor atreve-se a mergulhar bem fundo nas motivações humanas e a mostrar ao leitor que por vezes nem todas as boas intenções do mundo chegam. Nem sempre amar chega. E quando todas as possibilidades se esgotam, o que é que sobra?
A escrita de João Morgado primeiro estranha-se, depois entranha-se. Habituamo-nos ao seu jeito de nos contar a história e já só ansiamos pelos próximos capítulos, tanto nas descobertas da “Gaivota” como nas vidas dos outros personagens supostamente fictícios.
Um autor que conquistou o meu respeito e admiração e cujo percurso e obras espero acompanhar por muito mais tempo. Aconselho vivamente.