Edgar Allan Poe
Editora: Editorial Presença
Colecção: A Biblioteca de Babel #8
Sinopse: As neuroses e a pobreza de Poe foram grandes desgraças, sem dúvida alguma, mas a vida reservou-lhe uma felicidade sem fim: a invenção e a realização de uma obra esplêndida. Poderia acrescentar-se que a desgraça foi o instrumento necessário dessa obra.
Há cerca de setenta anos, sentado no último degrau de uma escada que já não existe, li “The pit and the pendulum”; já me esqueci das vezes que, depois, o li, reli ou pedi que mo lessem; sei que ainda não cheguei à última vez e que voltarei ainda à prisão quadrangular que se vai comprimindo e ao abismo sem fundo.
Jorge Luis Borges
Opinião: Iniciei esta leitura com uma grande curiosidade. De Edgar Allan Poe possuía apenas um livrinho ‘O Corvo e outros poemas‘, com a tradução de Fernando Pessoa, e como tal ainda não tinha experimentado a vertente de prosa (uma vergonha, eu sei, mea culpa). Creio, no entanto, numa primeira análise, que a escrita de Poe poderá não agradar a todos, não obstante de ser fascinante.
A Carta Roubada é um pequeno livro de cinco contos que se lê bem, mas cuja digestão é preciso ser feita com calma. O primeiro conto “A Carta Roubada” é um conto policial que me fez lembrar imenso Sherlock Holmes. O estilo da história é muito semelhante às de Doyle o que na verdade nos faz pensar que é possível que este se possa ter inspirado em Poe.
Os restantes contos fogem completamente ao suposto conceito de normalidade. Cada um mais insólito que o outro, fazem o leitor passar por cenários que o poderão abalar um pouco. Abordando temáticas como o Mesmerismo, a Solidão, a Loucura, entre outros, o Horror inerente a cada história é surpreendente. Ao mesmo tempo que espanta o leitor com a sua imaginação um pouco retorcida, Poe acaba por fascinar quem o lê por essas mesmas razões.
Uma escrita eloquente e um traço de personalidade de escrita definido fazem com que seja fácil de se identificar quando se lê Poe. Gostei particularmente do terceiro e do quinto conto. Em “Manuscrito Encontrado numa Garrafa” confesso que nunca cheguei bem a perceber se na verdade a tripulação do barco estava mesmo viva e o personagem era apenas um espectro ou se era algo diferente. No último “O Poço e o Pêndulo” foi a constante ansiedade e terror que acabaram por marcar a leitura. A lenta descoberta do espaço confinado em que o personagem principal se encontra, tal como todas as suas armadilhas e a forma como é empurrado para a morte vão criando um nó no estômago do leitor mais sensível.
Penso que esta colecção de obras seleccionadas por Jorge Luís Borges é uma boa aposta da Editorial Presença. São volumes pequenos, mas que nos dão a conhecer os géneros e estilos dos variadíssimos autores clássicos. Brevemente lerei outro volume – Contos Russos.