Entrevista a Paulo M. Morais, Escritor Português

Bom dia! Hoje tenho o prazer de vos dar a conhecer mais um autor português – Paulo M. Morais. Jornalista de profissão, lançou o seu primeiro romance em Abril pela Porto Editora intitulado de Revolução Paraíso. Depois de ler o livro e de conhecer pessoalmente o autor na Feira do Livro de Lisboa, não podia não entrevistá-lo. Conheçam então o escritor Paulo M. Morais. (Obrigada Paulo por toda a simpatia a disponibilidade)

Fala-nos um pouco sobre ti:

Sou colheita de 1972. Nasci em Lisboa mas vivi sempre nos arredores. Formei-me jornalista e encanta-me escrever sobre cinema, gastronomia e viagens, entre o resto que vai surgindo. Há alguns anos pus uma mochila às costas e dei a volta ao mundo. Depois cumpri a trilogia de ter uma filha, plantar uma árvore e publicar um livro. Agora estou mais concentrado em viajar nas letras.

Como caracterizas o teu estilo e ritmo de escrita?

Escrever ficção, tal como outro ofício ou arte, é um caminho que se faz página a página. Talvez ainda seja cedo para definir-me em termos de estilo. Sei alguns temas que quero abordar nos meus romances e, por enquanto, não me vejo a especializar-me num género específico; acima de tudo, quero identificar-me cada vez mais com o que escrevo.

Em relação ao ritmo de escrita, sou bastante metódico. Estabeleço um horário, tendo em conta as minhas outras obrigações, e tento cumpri-lo escrupulosamente. Não espero pela famosa inspiração. Simplesmente trabalho com afinco, dia após dia, no livro que estou a escrever.

Quais as tuas maiores influências?

Sinto-me muito próximo da tradição romancista norte-americana de contar histórias. Tanto idolatro os diálogos secos do Ernest Hemingway como o articulado romanesco do F. Scott Fitzgerald. Dos autores contemporâneos, o Philip Roth e o Cormac McCarthy não saem da mesa-de-cabeceira. Também me perco nos incomparáveis livros da Clarice Lispector que me revelam o lado estético da língua portuguesa. Em Portugal, coloco José Saramago, Fernando Pessoa e Eça de Queirós num pedestal à parte. Mas nisto de influências são sempre mais os que ficam de fora do que aqueles que acabam mencionados.

Depois de tantos anos como jornalista, como é que foi a passagem para romancista?

Complexa e dura. Ser jornalista obriga a uma contenção na mensagem e na própria forma. Na pele de romancista, pelo contrário, existe uma liberdade total (caso não nos autocensuremos). A escrita do Revolução Paraíso, por ter um cenário histórico, acabou por revelar-se um pugilato entre o jornalista e o ficcionista. Por vezes senti dificuldade em aceitar que os personagens inventados tivessem mais “força” do que os factos reais, como se o jornalista experiente esmurrasse em cheio o romancista iniciante. Cada página do livro resulta dessa tentativa, por vezes frustrante, de encontrar um equilíbrio eficaz entre a narrativa ficcionada e o pano de fundo histórico.

Revela-nos um pouco sobre Revolução Paraíso. O que é que os leitores podem esperar encontrar nesta tua primeira obra?

Para as gerações mais velhas, este livro recupera as memórias dos tempos conturbados do pós-25 de Abril de 1974. Para os leitores mais novos, o Revolução Paraíso é uma oportunidade de entrar na atmosfera daquela época, em que o quotidiano era um contínuo de manifestações, greves, conflitos e episódios caricatos. E julgo que qualquer leitor será capaz de identificar algumas semelhanças entre o que se viveu na altura e o que estamos a viver agora. Depois existe “outro” livro, no qual as personagens lutam por amizades e ideologias, se embrulham em amores reais e utópicos, se envolvem em tramas policiais ao sabor do que vai acontecendo no país…

Qual a sensação de se editar uma obra por uma das maiores editoras nacionais e estar logo presente na Feira do Livro de Lisboa?

Ter sido escolhido pela Porto Editora como aposta de um novo autor português foi um final feliz e perfeito para todos os anos de trabalho árduo que dediquei à escrita de romances. Ao mesmo tempo, senti também uma enorme responsabilidade de não defraudar a aposta da editora e, acima de tudo, de cumprir as expectativas de todos os leitores que viesse a ter. A presença na Feira do Livro de Lisboa serviu principalmente para agradecer aos que já tinham lido (ou queriam ler) o Revolução Paraíso.

Que projectos para um futuro próximo tens em mente?

Gosto de deixar as ideias amadurecerem na minha cabeça até chegar ao ponto de praticamente me ver obrigado a escrevê-las. Mas como não estive parado durante todo o processo de submissão, aceitação e publicação do Revolução Paraíso, já tenho um novo livro escrito. É um romance que aborda essa ideia-feita de que há um Poeta em cada português.

Pergunta da praxe: O que achas do blog Morrighan? (E por favor, sente-te à vontade para dizer mal!)

Confesso que acabo por ser um leitor muito errático de blogues. A lista de livros que quero ler é extensa e está sempre a sofrer acrescentos, pelo que gasto a maior parte do meu tempo livre a ler romances. Porém, desde o lançamento do Revolução Paraíso que tenho estado um pouco mais envolvido na blogosfera. E posso dizer que blogues literários como o Morrighan, juntamente com outros congéneres, acabam por ter um papel fulcral na divulgação de novos autores que, geralmente, não encontram espaço nos meios “consagrados” da crítica literária. Mas este lado positivo de democratização das oportunidades também acarreta responsabilidades. Quanto mais os blogues se consciencializarem da sua influência na “formação” de novas gerações de leitores, maior critério terão na sua função de mediadores. Dito isto, ainda bem que existe o Morrighan, blogue que me parece ter tido uma evolução bastante positiva a vários níveis.

OPINIÃO Blog Morrighan do livro Revolução Paraíso: https://branmorrighan.com/2013/05/opiniao-revolucao-paraiso-de-paulo-m.html

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Olinda Gil
Olinda Gil
11 anos atrás

Gostei muito. Colocaste questões muito pertinentes!

  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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