O Albatroz
Teresa Lopes Vieira
Editora: Bertrand
Sinopse: Jesus é um comediante desempregado que procura refúgio na casa do pai morto, em pleno centro de Lisboa. Liberdade, a sua irmã, uma pseudoatriz de novela cuja carreira foi propulsionada por uma participação num reality show. No meio de memórias, certas questões colocam-se: o que acontece quando perdemos tudo? Podemos ser criminosos apenas por acaso? Porque é que os nossos familiares são, por vezes, os nossos piores inimigos? Um enredo de reencontros, fugas e colisões inevitáveis.
Opinião: Estreei-me na escrita de Teresa Lopes Vieira com a obra Os Diários da Mulher Peter Pan e, confirmando quando conheci a autora pessoalmente, soube que estava perante uma escritora diferente, que dá o seu toque único às suas obras deixando a sua marca no leitor. O Albatroz, uma obra dura, realista e com muito para se concluir com a sua leitura, confirmou isso mesmo.
Os protagonistas desta obra, dois irmãos já órfãos de pai e mãe, vão-nos levar a percorrer caminhos sinuosos, viajar pelo subconsciente humano e questionarmo-nos largamente sobre a condição humana e o tipo de relações que as pessoas mantêm entre si. Jesus e Liberdade, cada um à sua maneira, iniciam uma epopeia à consciencialização da vida miserável que sempre viveram; ou por sonharem demasiado alto, ou por não terem coragem de encararem a realidade como ela é.
O enredo adensa-se a cada página, por vezes parece que o ambiente pesado envolve o leitor arrastando-o para as emoções vividas. Não é uma obra que se leia de ânimo leve ou que vá conquistar qualquer tipo de público. É preciso algum estômago, alguma coragem, pois nem sempre se está preparado para o tipo de conflitos levantados pela trama.
A escrita de Teresa Lopes Vieira é intensa, fluida e por vezes enigmática. O estilo da narrativa alterna entre o presente real, algumas alucinações e ainda o recordar de um passado através de diários supostamente secretos. O que é que acontece à mente de uma pessoa quando tenta saber mais do que o que é suposto? Quando vai atrás de segredos que não eram supostos serem desvendados? De que forma a intimidade de quem nos é próximo e as suas loucuras afectam quem as descobre?
Uma leitura que me surpreendeu, foi uma experiência bastante diferente d’Os Diários da Mulher Peter Pan. Nota-se que a autora amadureceu imenso a sua escrita, tornou-se mais audaz, mais impressionante e sem dúvida que arriscou numa nova temática que fará os cérebros dos seus leitores fervilharem. Gostei.