Escritos Aleatórios #16

“Por vezes é como se milhares de mundos, universos e dimensões habitassem em mim. Como se a cada dia que acordo tivesse que enfrentar algo completamente diferente, com diferentes exigências e com diferentes necessidades. Nem sempre o que era ontem me parece igual ao que é hoje, apesar de nada ter feito para que se tornasse diferente. É nestas alturas que me sinto como se tivesse caído por um buraco negro e emergido num ambiente completamente desconhecido.

Acordo e é como se tivesse de reaprender a lidar com o que me rodeia, mas acima de tudo com as emoções que parecem brotar de mim sem que tenha controlo sobre as mesmas. O que é que aconteceu durante a noite que me tivesse provocado tamanho tumulto? Que partidas andou o meu subconsciente a fazer ao meu eu consciente?

Parece que respiro em golfadas urgentes, tentando perceber que dia é, em que mês estou, o que é suposto fazer agora que acordei. É dia de semana? É fim-de-semana? Estou incerta sobre tudo, mas existe algo que se prende ao meu consciente como se fossem garras presas em carne – tu. Estás a um suspiro de mim, ao meu lado, na mesma cama que eu, e ainda assim não consegui sentir a tua presença quando acordei. Porquê? Será que o abismo que se abriu entre nós é assim tão irremediável?

Precisava de espaço para respirar, para limpar a minha mente, para saber que tinha tomado a decisão certa. Tu foste a luz no meu caminho, a segurança ansiada, mas ao mesmo tempo um sonho que parecia demasiado bom para se tornar realidade. Pouco coerente? Sei que sim. Cheguei a um ponto em que a escolha se resumia a amar ou a viver com medo da dor que com o amor poderia vir.

Lembro-me de um momento que partilhámos no telhado daquela casa de campo que alugámos na nossa lua de mel. Nas traseiras tínhamos aquela floresta frondosa, na frente tínhamos o mar a curta distância. O céu estava limpo, cheio de estrelas, e como banda sonora só tínhamos o restolhar do mar e os sons das pequenas movimentações entre as árvores e dos pequenos grilos e pássaros. Foi um momento que nunca esquecerei e em que soube que te ia amar para sempre, mesmo que o meu sempre fosse… limitado.

Estou a morrer, ambos temos noção disso. A cada dia que passa sinto-me mais fraca, mais frágil, tudo aquilo que nunca admiti ser. Não tenho medo de morrer, mas não suporto a ideia de te deixar. Depois de tudo o que conquistámos, depois de toda a felicidade com que fomos abençoados, parece-me um crime isto estar a acontecer. Talvez o universo tenha uma quota limitada de felicidade destinada a cada pessoa. Talvez tenhamos sido tão fenomenais em comparação com os restantes mortais que desafiámos todos os limites. Sempre ouvi dizer que tudo tem o seu preço, o que até aceito, mas não me conformo.

Sei que o desespero é apenas para pessoas que, sem dúvida alguma, sabem o que é que o futuro irá trazer. Não existe outra explicação. E ainda assim quem é que pode afirmar com toda a certeza o que o amanhã irá trazer? Penso que ninguém, nem eu, que tenho os dias contados numa conta incerta. Neste sentido, o desespero não passa de um erro. E se não sabemos em absoluto o que o amanhã traz, não deveríamos sentir esperança?

A vida está em tudo o que nos rodeia. No canto de um pássaro, na frescura de uma manhã. O amor é intemporal, é puro, é a luz mais clara que dança na supefície da água do mar. O amor sou eu e és tu, e é o mais profundo dos segredos a ser descoberto. Uma espécie de serenidade que nos permite sonhar com o início de algo grandioso, tal como grandioso é o ritmo da Terra com os seus bafejos através do vento, a procura pelo potencial, a vibração de tudo o que nos rodeia. É no abraço do amor que tomamos conhecimento do que realmente somos capazes de fazer por alguém, a magia que tal nos proporciona e a forma como abrimos caminho até à nossa alma.

Não há dificuldade que o amor não conquiste, não há doença que o amor não cure, não há porta que o amor não abra. Quem for capaz de amar desta maneira será das pessoas mais poderosas do mundo porque com o amor também se acabam guerras e conflitos.

Sei que o meu amor por ti será eterno. Olho agora para ti, no teu sono irrequieto. Não deste conta do meu acordar e ainda bem. Tudo o que fiz foi para te proteger, se me afastei foi porque temi que a aproximação do inevitável te fosse quebrar, mas mais uma vez substimei o poder do amor. É o teu amor por mim que me prende a esta vida. É o teu amor, nos teus pequenos gestos, sorrisos e eterna paciência que fazem com que eu tenha vontade de lutar, que tenha… esperança. Que não desespere, que acredite. No fundo, ninguém melhor do que nós próprios sabe e/ou sente que já quase não adianta lutar, mas sei que tu nunca me vais deixar ter essa postura.

Sou tua e o meu amor é teu, mesmo que seja menos do que aquilo que mereces, por menos tempo do que ambos merecíamos, mas silenciosamente presto-te o juramento de que o meu amor por ti é infinito, que mesmo depois de partir, estarei sempre a teu lado e aceitarei o rumo que a tua vida tomar, assim seja para contribuir para a tua felicidade. Que a tua força, carinho e amor sobrevivam à minha partida. Ninguém merece aquilo porque vais passar e já me sinto culpada por isso. Percebes porque é que me afastei?

Devagar, mas a tremer, volto a deitar-me, tapo-me, junto a minha cabeça perto da tua, envolvo-te as mãos nas minhas e entrelaço os meus pés nos teus. Ao primeiro contacto abres os olhos e com uma preocupação imediata perguntas-me se estou bem. Digo-te que sim, que te amo e que voltemos a dormir. Daqui a umas horas começa um novo dia e não sei se terei nova oportunidade de to dizer novamente. Amo-te.”

Morrighan 9/09/2013 – 14h08

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4 Comentários
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Unknown
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11 anos atrás

hihihi… Quando comecei a ler, sabes que tava com ideia de que estava a ouvir Pessoa a falar-se de si, na loucura de todos aqueles que habitavam nele.

Eu hoje me senti como essa tua personagem, em parte, sempre sinto o que ela diz. Nunca pude dizer que amava alguém que me é tudo, a razão pela qual minhas letras existem e sempre existirão – principalmente a poesia.

Bem, continuando… Não tão bem delineado quanto o anterior, porém com sentimentos bem interiores, que fazem quem lê querer agarrar na tua personagem, abraçá-la e dizer que tudo está bem. Não é para ficares só, ficarei aqui, tua sombra diante do silêncio da tua alma.

eheh, é muito interessante essa tua variedade de "ser" a cada novo texto… Andas a amar isso, não andas? ^^

Se fores a ver, o que eu escrevi hoje no meu tumblr, reflecte a pessoa de quem ela fala… Depois de um tempo sem ter essa mulher do seu lado. loool

“E, por mais que eu tentasse, cada pedaço de mim respira o que me és. O que me fazes a cada lágrima de saudade distinta que liberto por ti. Porque sempre serás tu, aquele que me ama e me faz vida. Porque sempre serás tu aquele que preenche cada entrelinha minha. E eu amo-te, a cada respirar meu. E eu te amarei para sempre, mais e mais.”

CONTINUA 😉 andas tão bem…eheh

Cláudia Andrade
Cláudia Andrade
11 anos atrás

Por isso é que todos os dias devemos dizer às pessoas o quanto as amamos, porque não sabemos se há amanhã e porque não devemos deixar nada por dizer… E claro, porque não há melhor que adormecer com um "amo-te, até amanhã" e acordar com um "bom dia, amo-te" 😛

Demonstrações de carinho à parte, mais um texto fantástico, intenso, que transmite bem a emoção, o desespero e a angústia de quem sabe que vai partir mais cedo do que o esperado.

É magnifico poder ler estes escritos que nos deixas. Dia após dia cresce em mim uma ansiedade por saber quando vais partilhar mais algum connosco e sobre o que será. É simplesmente delicioso, acredita. Não pares 🙂

Morrighan
Morrighan
11 anos atrás

Sofia, mais uma vez, muito obrigada pelo teu comentário! 🙂

O novo "ser" a cada texto penso que se prende com o mundo de emoções que o ser humano é capaz de sentir. Por vezes eu mesma me sinto uma pessoa diferente a cada dia, apesar de ser sempre a mesma.

Já reparei que eu e tu andamos muitas vezes em sintonia nos textos :b Ehehhe! Mas este já foi escrito há umas semanas :))

Beijinho e obrigada por comentares, continua tu também! 🙂

Morrighan
Morrighan
11 anos atrás

Claudia, os teus comentários são um mimo para a minha alma. Nem imaginas quão lisonjeada e honrada fico com o que disseste.

Gostava muito de poder escrever mais e melhor. Ontem, um autor publicado, que leu um ou outro texto meu disse-me o seguinte:

"E tu tens 'escrita da vida'. Aquela que nos faz pensar.
Um dia, vais escrever um romance.
Ainda não sabes sobre o quê.
Mas vais descobri-lo, quase sem querer, quando rebentarem os diques que (ainda) sustêm os teus sonhos.
Um dia, olharás para uma situação, um lugar, um rosto e dirás: «é sobre isto que quero escrever.»
Pode ser amanhã. Pode ser daqui a um ano.
Mas vai acontecer. Já ouço esse vento a chamar-te :)"

Apesar de não ambicionar nada de nada a este nível, confesso que fiquei a desejar ter a capacidade para concretizar algo assim. Mas não sei. Já me contento IMENSO com a coragem de publicar estes pequenos textos e com os vossos feedbacks :))

Um beijinho enorme, adoro mesmo ter-te por aqui!

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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