Tenho, para mim, que ouvir Linda Martini é toda uma nova experiência, qual noite de amor repleta de orgasmos inesperados e inesquecíveis. Faz dez anos que esta banda entrou na vida de alguns portugueses; na minha só entrou há cerca de cinco ou seis, não sei precisar. Sei, com toda a certeza inabalável das coisas imutáveis, que nunca mais fui a mesma desde que os ouvi pela primeira vez.
Ontem, pelas 22h na Sala Tejo da Meo Arena, já toda eu fervilhava na expectativa de mais um concerto (ao todo já vi quantos? Nem sei bem, todos os anos faço questão de estar presente em pelo menos um concerto, este ano já foi o segundo ou terceiro), enquanto os instrumentais começavam a provocar uma energia imensa entre o público.
E eis que entram eles, André Henriques, Cláudia Guerreiro, Pedro Geraldes e Hélio Morais, o conjunto mais perfeito, mais sintonizado, mais harmonioso e vivo que já testemunhei nestes 25 anos de vida e, acreditem, já vi centenas de concertos e grupos musicais. O maior orgulho no meio disto tudo é que são Portugueses, transpirando toda uma aura de sentimentos, emoções e euforia que só nós somos capazes de sentir e provocar.
O concerto começou com temas deste novo álbum, Turbo Lento, que já é um álbum memorável. Algo que me fascina nos Linda Martini é que cada trabalho seu é único. Não dá para dizer se é melhor ou pior porque pura e simplesmente cada um tem vida própria, um propósito só seu que de uma maneira ou de outra deixa sempre a sua marca em quem os ouve.
Após “Ninguém Tropeça Nos Dias”, “Juárez”, “Panteão”, damos por nós a regressar a um passados de emoções fortes com “Nós Os Outros”. A reação do público a todas estas músicas foi de tal maneira louvável e enérgica que sinto que foi impossível a seja a quem for que estivesse a assistir ao concerto, não se deixar contagiar levantando os braços, abanando a cabeça, batendo com o pé.
Não consigo descrever, no seu todo, o que foi assistir a este concerto sem referir que foram mais de duas horas de sensações, deja vús e autênticas bandas sonoras de tantas fases da minha vida. Penso que os Linda Martini têm esta capacidade inata, e ao mesmo tempo assustadora, de resgatar nos seus ouvintes as partes mais recônditas de si mesmos. Vasculham-nos a alma, agitam-na por dentro e levam-nos a gritar em plenos pulmões todas as coisas reprimidas numa expressão conjunta sem igual.
Seguiram-se “Juventude Sónica”, “Estuque”, “Belarmino”, “Mulher-a-Dias”, “Pirâmica”, “Sapatos Bravos”, “Febril (Tanto Mar)”, “Aparato”, para depois avançarmos para um explosivo “Ratos”, regressarmos a um frenético e infinito “Cem Metros Sereia” e ainda seguirmos para uma sentida “Volta”. Tenho de confessar que esta última é, sem dúvida alguma, uma das minhas músicas preferidas. Faz-me lembrar, de uma maneira estranha, Amor Combate que, pela primeira vez (dos concerto que já assisti), não foi tocada. “Este Mar” e “Amor é Não Haver Polícia” fecharam o concerto. Ou melhor, era suposto fecharem, mas como é óbvio o público não deixou. “Dá-me a Tua Melhor Faca” foi o inédito encore que colocou o público ao rubro pela última vez naquela noite.
Já vi os Linda Martini em n sítios diferentes. Já fui ao palco com eles no CCB, já os vi em Paredes de Coura, Alive, etc etc etc, mas nunca tinha sentido o que senti ontem. Foi um concerto que a meu ver ou foi perfeito ou esteve muito perto disso (até porque dizem que a perfeição não existe e temos de acreditar que melhor será sempre possível). Os quatro formam um grupo lindo, completamente sintonizado, com um espírito invejável, uma vontade e um querer por demais evidentes, mas acima de tudo transbordam de uma personalidade própria e única que se vê muito pouco nos dias de hoje.
Que venham mais 10 anos, mais centenas de concertos, milhares de surpresas. Por cá, estarei sempre atenta e o meu apoio é incondicional. O sentimento único e intenso que provocam em cada espectáculo, em que parece que entramos em toda uma nova dimensão de nós mesmos, será para sempre inesquecível. Obrigada, Linda Martini, por nos lerem tão bem, por fazerem da música um hino das nossas vidas, das vossas vidas. Parabéns ao André, pelo Sebastião, e muitas felicidades a todos!
Também la estive… brutal, memorável…um grande bem haja a eles e ao seu publico peculiar!!