Justin Cronin
Editora: Editorial Presença
Colecção: Via Láctea #111
Sinopse: Os Doze é a sequela de A Passagem, um bestseller internacional que nos dá a conhecer um mundo transformado num pesadelo feérico por uma experiência governamental que não correu como previsto. No presente, à medida que o apocalipse provocado pela mão humana se vai intensificando, três personagens tentam sobreviver no meio do caos. Lila, uma médica e futura mãe; Kittridge, que se viu obrigado a fugir do seu baluarte com poucos recursos; e April, uma adolescente que se esforça por manter em segurança o irmão mais novo num cenário de morte e destruição. Mas, embora ainda não o saibam, nenhum dos três foi completamente abandonado…
Opinião: Depois de uma obra soberba como A Passagem (em Portugal dividido em Volume I e Volume II), a fasquia para este segundo livro previa-se difícil de superar. A Passagem foi um daqueles livros impossíveis de esquecer, que deixam uma marca irremediável no leitor fazendo-o temer ler a sua continuação com receio de que a desilusão chegue. Os Doze não confirmaram esse temor, mas é certo que deixou no ar bem mais perguntas do que respostas, tendo sido a sua leitura um acto oscilante entre a surpresa, a confirmação, o desespero, a ansiedade e acima de tudo o emergir de uma sensação de fatalismo trágico.
O início do livro de cariz bíblico, faz prever um livro em tom mais poético, introspectivo, que levará o leitor a questionar-se inúmeras vezes sobre as motivações e a motriz que desencadeia todos os acontecimentos. Levando-nos pela mão a percorrer espaços temporais diferentes, Justin Cronin apresenta-nos novas personagens, novos factos sobre a origem do caos vampírico apocalíptico e ainda nos faz revisitar e relembrar parte da história dos protagonistas de A Passagem.
Todo o envolvimento dos doze,a demanda na sua reunião e toda a sua implicação e impacto na história da humanidade aqui fascista, fez-me projectar um pouco a história de Jesus Cristo com os 12 Apóstolos, mas em forma de Anti-Cristo e Apóstolos demoníacos. Também a associação de Peter com Noé, em que este fica encarregue de preservar espécimes humanos enquanto os vampiros são a nova forma de dilúvio, acaba por trazer toda uma carga teológica à trama.
Amy, a grande protagonista de toda a trilogia, é alvo de uma evolução admirável, desempenhando um papel cada vez mais preponderante. A sua ligação com Wolgast causa formigueiro em quem lê, um nervoso miudinho da iminência do que está para vir. Alicia é e será sempre das minhas personagens preferidas. A sua luta interior entre render-se à natureza feroz da sua nova realidade ou resistir é, para ela, de um sofrimento e condenação moral atrozes. Lila e Grey foram duas personagens que entraram para o meu leque dos ‘acarinhados’ e confesso que senti mesmo verdadeiramente uma compaixão enorme por eles.
Os Doze é uma autêntica epopeia, num mundo apocalíptico, no que toca à natureza humana, à sua crueldade, à sua capacidade de amar, mas acima de tudo de destruir por motivos mesquinhos, pessoais e completamente egoístas. É um livro longo, detalhado, explorador e que deixa um sentimento de incompletude, uma fome de um desfecho que encerre o círculo e que de alguma forma harmonize todas as pontas soltas. Aconselho vivamente esta trilogia a todos os amantes de ficção científica, fantástico, combinações inesperadas e emoções fortes. Adorei.