Descobri esta dupla há relativamente pouco tempo, mas a rendição foi imediata. Anunciei o álbum deles “Vem por Aqui” aquie desde então que a minha curiosidade por saber mais sobre eles andava ansiosa por ser satisfeita. Confesso que adorei as respostas deles e não me admira nada terem alcançado, em tão pouco tempo, tanto respeito pelo seu trabalho. É completamente merecido. Conheçam melhor o António e o Bernardo, a dupla que constituí os Ermo!
Olá, António e Bernardo! Em primeiro lugar, obrigada pela vossa disponibilidade em responderem a algumas questões. A primeira que tenho para vós, e porque sou muito curiosa, está relacionada com o nome do duo! Porquê Ermo?
Ermo é uma palavra tradicional da língua portuguesa que significa “lugar deserto ou desabitado”. Assim, pode-se dizer que se adequa ao nosso som em dois pontos simultâneos: em primeiro lugar porque somos muito influenciados pela cultura e música tradicional portuguesa, e em segundo lugar porque temos como premissa do projecto a ideia de explorar novas sonoridades e ideias – ou seja, lugares “desabitados”.
Como surgiu a ideia de se juntarem?
Demo-nos bem quando nos conhecemos e reparámos que tínhamos gostos e formas de encarar a música bastante semelhantes. Outro ponto em comum era a vontade em fazer música; a matemática foi simples a partir daí, e não demorou muito até começarmos a compor juntos. Como gostámos dos primeiros resultados, decidimos assumir um projecto comum.
Como é que caracterizam a vossa música? O que é que pretendem transmitir ou expressar com ela?
Somos sempre um pouco adversos a caracterizações musicais; não só porque a questão de géneros e etiquetas não nos parece prioritária ou sequer relevante, mas também porque no caso da música que fazemos os rótulos são difíceis de arranjar.
Somos sempre o mais sinceros possível naquilo que expressamos: depende muito do que sentimos ou daquilo que andamos a fazer ou a pensar em determinado momento. O nosso tópico mais recorrente é o de Portugal e de tudo o que isso implica (daí que seja um assunto tão vasto), mas isso não significa que nos limitemos a isso. Fazemos música sobre o que queremos e sobre o que nos faz sentido, pelo que muito simplesmente nos vamos expressando a nós mesmos.
Estão juntos desde 2011 e lançam agora o vosso primeiro Disco através da Optimus Discos. Como tem sido o vosso percurso até à edição do disco?
Tem sido um percurso positivo. Vamos seguindo o rumo habitual de qualquer primeira banda, mas sempre ao nosso ritmo e à nossa maneira. Os primeiros concertos chegaram em finais de 2011, inícios de 2012, e entretanto já pisamos vários palcos dos quais nos orgulhamos imenso: o Theatro Circo em Braga ou o Cinema São Jorge em Lisboa, por exemplo. Editámos em Outubro do ano passado o nosso primeiro EP e recebemos bons elogios da crítica, o que nos deu bastante alento; também participamos em algumas compilações muito interessantes, como a compilação bracarense “À Sombra de Deus” ou a compilação anual “Novos Talentos FNAC”. Finalmente, gravámos o álbum no final do Verão deste ano, com a ajuda do Luís Salgado dos Stereoboy.
Já ouvi o vosso álbum e posso afirmar, com grande orgulho, confesso, que este é de uma personalidade única que transborda a alma e o ser do português. Foi propositado? Que feedback é que têm recebido do público?
Obrigado pelas palavras. Quisemos desde o início tratar o tema do Portugal degradado e em crise dos nossos dias neste álbum, e essa é uma tarefa que só funciona se tivermos em mente o que é ser português do ponto de vista histórico e sentimental; uma boa descrição não se dá apenas através daquilo que vemos e observamos, mas também através de um bom entendimento das causas por trás de tudo o que vemos e observamos. Pelo que sim, houve um esforço no sentido de imprimir no álbum essa alma portuguesa.
O feedback tem sido bastante positivo e no geral as pessoas têm gostado do disco e tecido bons elogios! E ainda temos vários concertos de apresentação e alguns meses de promoção intensa do disco pela frente, pelo que ainda esperamos novas opiniões e novos ouvintes.
Que bandas/músicos é que sentem que influenciam a vossa música?
Não encontramos maneira de responder directamente a essa questão; não somos o tipo de pessoas que compõe a partir de referências a outras bandas ou músicos. Por outro lado, admitimos que a nossa música resulta como consequência de tudo quanto ouvimos; daí que se vá conseguindo manter eclética, distinta de canção para canção, e daí que nela se possam identificar semelhanças com vários géneros musicais de diferente natureza e origem.
Por parte do público, sentem que existe mais aceitação do que resistência à música que se faz em Portugal ou o contrário? Como tem sido no vosso caso?
Cremos que cada vez mais existe um maior interesse do público pela música que se faz em Portugal. Os media também têm dado a sua ajuda (não todos, obviamente), e hoje em dia pode finalmente dizer-se que compensa cantar em português em Portugal, e que a caracterização de um projecto musical enquanto “português” perdeu aquele sentido depreciativo que há uns tempos atrás muita gente tinha o defeito de supor.
No nosso caso, isto não se tem dado de forma diferente: agrada-nos sermos portugueses, e sentimos que o público português sente o mesmo a este respeito.
Sei que já têm datas de actuação fora de Portugal e que já actuaram no mesmo palco de outras bandas como os Unknown Mortal Orchestra. Na vossa opinião qual é a maior diferença entre o nosso mercado nacional musical e o internacional? Sentem que há mais oportunidades lá fora do que por cá?
Em Portugal é complicada a manutenção de um verdadeiro mercado musical; somos um país de 10 milhões de habitantes, e por consequência um país onde não existe assim tanta gente disposta a gastar dinheiro para ver concertos ou para comprar discos. Além disso, existe o crónico defeito de ver a cultura como uma coisa sem utilidade intrínseca, e que assim sendo não precisa de financiamento para sobreviver. A questão linguística também é complicada: o mercado internacional é dominado por artistas de origem ou tendência anglo-saxónica, permitindo escassas e pontuais excepções (Sigur Rós e El Guincho sendo bons exemplos disto).
Conseguem imaginar o que é que os vossos fãs sentem ao ouvir-vos? Já vos aconteceu dizerem que a vossa música os marcou ou que os mudou de alguma maneira?
É impossível conseguir acesso à experiência subjectiva de outra pessoa, pelo que só podemos especular acerca do que alguém pode sentir ao ouvir a nossa música. Ao longo do nosso percurso vamos encontrando algumas pessoas especialmente entusiasmadas com aquilo que temos vindo a fazer, e isso deixa-nos muito felizes: afinal, é cada vez mais complicado, numa sociedade de informação que funciona à velocidade de um clique, conseguir provocar esse sentimento de surpresa que por vezes sentimos em quem nos ouve pela primeira vez.
Em que locais gostaram mais de actuar? Há algum em específico que vos faça sentir como se estivessem a voltar a casa?
O Theatro Circo resultou numa experiência incrível; não só porque estávamos a apresentar para cerca de 900 pessoas um projecto na altura ainda muito jovem, mas também por se tratar de um lugar emblemático da cidade de Braga – faz de resto parte do imaginário de qualquer músico ou artista bracarense.
O MusicBox, em Lisboa (ao qual vamos regressar já dia 7 de Dezembro), foi outro sítio onde nos sentimos bastante bem; não só pela natureza do espaço em si, mas também pela diversidade que se sentia no público – não existe nenhum espaço nocturno capaz de transmitir de forma tão evidente o espírito multi-cultural da capital.
Finalmente, destacamos ainda o ZigurFest, festival organizado em Lamego, com o cunho da ZigurArtists, onde passamos dois dos melhores dias da nossa vida e fomos recebidos como família. Sem dúvida uma das pérolas do circuito de festivais portugueses.
Enquanto leitora não consigo desassociar a música da literatura. Quase todos os livros têm algum tipo de banda sonora e, inclusive, existem autores que só conseguem escrever a ouvir música. Que tipo de livro é que acham que a vossa música poderia inspirar?
Pergunta difícil! Mais ainda se pensarmos que as nossas canções partem sempre de conceitos perfeitamente literários… Não sabemos de todo que tipo de livro se poderia extrair da música de Ermo, mas gostaríamos imenso de o ler!
E vocês, costumam ler ou escrever? Algum livro preferido que queiram mencionar e que até vos possa ter influenciado de alguma maneira?
Somos ambos leitores frequentes e escritores ocasionais. Entre alguns dos nossos autores de preferência encontram-se nomes como Fernando Pessoa, Franz Kafka, Jorge Luís Borges, José Régio ou Voltaire (não é em vão que temos uma música chamada “Pangloss”).
Têm algum sonho, algum objectivo, que ainda não tenham concretizado, mas que anseiem?
O objectivo passa por continuar a construir caminho e fazer a nossa música chegar a mais pessoas dentro e fora de Portugal. Um sonho será o de poder um dia viver apenas para a música.
Que projectos têm em mente para o futuro?
Por ora pretendemos dar o nosso melhor nos concertos de apresentação do álbum e continuar a compor e a trabalhar. Planeamos ainda editar um EP já durante o próximo ano, que se encontra neste momento parcialmente composto.
Agora uma pequena pergunta da praxe que faço a todos os entrevistados: já conheciam o blog BranMorrighan? O que acham do espaço? Que mensagem podem deixar aos seus leitores?
Ainda não conhecíamos o blog. Achamos que se trata de um espaço interessante, bastante abrangente no que toca ao tipo de conteúdos. Aos leitores podemos apenas recomendar que continuem a visitar o BranMorrighan e a apoiar a cultura em Portugal.
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Só posso agradecer a simpatia e em breve farei um texto sobre o álbum!
Olá Sofia, eu segui aqui o blog, mas não vejo lá o meu, até de conta desligada e em outro pc. :c
Sou nova aqui e ainda não sei muito disto :s
Fabiana, eu consigo aceder ao teu blog facilmente 🙂
Hum, obrigada 🙂
Até pensava que não te estava a seguir. Estou ?
Estás sim 🙂
Beijinho e obrigada!