Escritos Aleatórios #36

“Dizemos que não aos nossos desejos com medo que estes traiam os nossos sentimentos, mas não lhes conseguimos resistir na sua totalidade. Há sempre um ceder, um momento em que achamos que tal palavra ou reacção não irá ter qualquer efeito em nós… até que tem. Até que tudo volta redobrado; a intensidade das emoções, a fúria de sabermos melhor, a constatação de que afinal ainda nos deixamos levar por impulsos primários que nada trazem de bom. 

O tempo passa e não vivemos, limitamo-nos a esperar que chegue o próximo segundo, a próxima hora, o próximo dia. Embrenhamo-nos nas recordações, nas amarguras, nos porquês sem respostas que sabemos que nunca chegarão. Vivemos confinados aos desejos irrealizáveis desprezando todo um mundo que está ao alcance da nossa conquista. Fechamo-nos para o novo, para o desconhecido, preferindo a familiaridade da tristeza, da resignação. 

Por vezes visitamos os pântanos da redenção, a dolorosa caminhada no sentido de atravessarmos os cantos mais escorregadios de nós mesmos com o sentido de nos libertarmos, porém a desistência chega rápida. Às vezes damos luta e quando parece que estamos quase a ultrapassar o último bocado lamacento, lá escorregamos e desesperamos.

Torna-se imperativo tomar as rédeas de nós mesmos. Respirar, acalmar, delinear novos objectivos. Já Pessoa dizia que “se te é impossível viver só, nasceste escravo” e nunca uma declaração foi tão certeira. Basta de tentar compensar desejos fatais com aventuras fatalistas, de sair de um buraco para nos enfiarmos noutro, de cedermos à tentação da anestesia através de uma vivência fútil e sem significado. 

Viver e saber viver, conquistar a felicidade, são experiências maravilhosas. Basta olharmos à nossa volta para encontrarmos razões de sobra para nos sentirmos parte integrante de algo maravilhosamente complexo e belo que espera pacientemente que decidamos qual a marca que queremos deixar da nossa parte. Como é que seremos capazes de tomar consciência disto se vivermos amarrados aos falhanços, sonhando com o quão diferente poderia ser a nossa vida se fôssemos mais fortes, se tomássemos nós o controlo da nossa própria vida. 

Tenho para mim que só sonhar não basta. É preciso ir mais longe. É preciso intervir, manifestar, lutar. Passar das expressões aos actos, do idealismo à realidade. Ultrapassar os medos, as barreiras que impomos a nós mesmos com receio dos resultados. Há que sentir na pele a conquista, rejubilar com a vitória e gravar na história da vida que um dia ousámos desafiar o que é ordinário, o que é esperado, o que é comum. Todos os génios/artistas da História foram tidos como loucos em alguma altura da sua vida, mas isso nunca os impediu de perseguirem os seus gostos, de se afirmarem e lacrarem a sua passagem. 

Eu escolho ser o génio da minha própria vida mesmo que para isso tenha de arriscar uma boa dose de insanidade e outra de loucura, alguma dose de indiferença alheia e outra de crítica, porém, ainda assim, ser eu o criador de tudo o que toma forma à minha volta e em mim, ao invés de me moldar à realidade dos outros e ser o que os outros esperam.”

Morrighan 13/11/2013 – 10h40  EDIT: 17/11/2013 – 12h23 EDIT2: 19/11/2013

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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