O Voo do Corvo (Shadowfell #2)
Juliet Marillier
Editora: Grupo Planeta
Sinopse: Depois de concluir a sua longa e árdua viagem até à base dos Rebeldes em Shadowfell, Neryn tornou-se uma parte vital da rebelião contra o tirânico rei Keldec. Cada passo que dá no sentido de aperfeiçoar os seus dons e afirmar-se como uma Voz poderosa e única na sua geração leva-os mais perto da meta pretendida. Mas, primeiro, Neryn terá de procurar os Guardiães das quatro Vigias para completar o seu treino e o tempo escasseia. Entretanto, Flint, o espião rebelde por quem se apaixonou, foi de novo chamado à corte de Keldec. O laço que os une é tão forte que, mesmo à distância, se procuram em sonhos, partilhando momentos preciosos – ainda que inquietantes – da vida um do outro. Os Rebeldes vêem com desconfiança este novo amor. Permitir que a emoção se sobreponha à lógica fria do movimento pode pôr tudo em risco. No fim, o amor poderá revelar-se a força motriz da esperança ou a brecha traiçoeira na armadura da rebelião.
Opinião: A história de Neryn e Flint começou em Shadowfell e a promessa de que muito ainda estava para acontecer cumpriu-se. O Voo do Corvo, continuação dessa narrativa, é uma obra que não apazigua, pelo contrário, revolve-nos por dentro semeando a ansiedade e a necessidade de avançar sempre cada vez mais na história. Acima de tudo acaba por ser um ponto de paragem obrigatório entre o início e o fim da trama, servindo mais como uma ponte entre o que aconteceu e o que está para vir.
Neryn, depois da sua recuperação, começa finalmente algum treino físico antes de partir à procura do conhecimento que os Guardiães lhe podem fornecer para se tornar na Voz que todos esperam. É Tali quem fica encarregue de a acompanhar e assim partem as duas, rumo a um destino incerto, mas cujos resultados esperados funcionam como força motriz.
Para quem iniciou a sua aventura na escrita de Juliet Marillier com o mundo de Sevenwaters, será sempre complicado evitar fazer comparações no que toca às histórias de amor e até à contribuição das personagens femininas. Neryn não é uma personagem tão forte e empática como Liadan ou até Sorcha, nem Flint um Red ou um Bran. Talvez por ser virado para o público jovem-adulto a autora tenha optado por fazer algo mais leve, mas que ainda assim enternece os mais românticos.
Gosto da forma como Juliet Marillier continua a aplicar a sua costela druida nas suas obras. Sendo eu uma curiosa pela doutrina druida, agrada-me a conjugação da aprendizagem da Voz com os elementos, a dinâmica do respeito e da manipulação dos mesmos sempre consciente da importância e da ligação à natureza. Cada elemento tem as suas características e a forma como cada um é abordado está original e solene.
A narrativa alterna entre boa dose de acção e emoção com alguns momentos mais parados. Ficamos muito tempo sem notícias dos Rebeldes e quando chegam nem sempre é para nos deixar de sorriso no rosto. Não esperem paninhos quentes nem finais totalmente felizes. Adorei o papel de Tali e admiro-a imenso. Também gostava de ver esta história narrada através de Flint, penso que daria uma perspectiva muito interessante e com mais informações sobre o reino de Keldec. As poucas visões que nos são dadas sabem a pouco.
Resumindo, quando se começa fica difícil largar e o fim deixa-nos a sofrer pelo próximo capítulo para que possamos fechar a história da rebelião. Tem amor, violência, crueldade, sentido de lealdade e uma capacidade de sacrifício estonteantes. A escrita é fluida e intensa e os personagens de personalidades fortes e únicas. Uma bela continuação que nos deixa a querer mais.