A reposta vem na sequência de uma mensagem deixada por um leitor na página do facebook da editora, em que deixa bem claro o seu descontentamento em relação a alguns aspectos da editora nos dias de hoje. A mensagem pode ser lida aqui. Dadas as várias respostas a essa mensagem, o editor decidiu responder aos seus leitores esclarecendo uma série de aspectos. Aqui fica a sua mensagem:
Por Luís Corte Real
Editor
Boa tarde a todos os fãs da Saída de Emergência,
Queria agradecer ao Fiacha e a todos os fãs da editora que deixaram as suas opiniões. Sem elas podemos ficar na ilusão de que estamos a fazer um trabalho perfeito quando na verdade os nossos leitores estão insatisfeitos com algumas questões. Vou tentar abordar todas, da forma o mais transparente possível, sendo que não prometo que as respostas sejam exatamente aquelas que todos gostariam de ouvir. Ao trabalho, então!
COMUNICAÇÃO
Tanta coisa mudou em 11 anos. Nem havia Facebook quando começámos. A SdE tem crescido, mudado, e também a sua forma de comunicar com os leitores tem sofrido mutações constantes. Blogues, vários fóruns, Twitter, emails diretos, Facebook, há muitas formas de chegar à editora e tentamos marcar presença em todas. Talvez nos tenhamos estendido demais e complicado a nossa vida. Mas uma coisa é certa, aqui, no Facebook, estamos a esforçar-nos por não deixar nenhuma pergunta por responder. Mesmo quando a mesma pergunta já foi respondida várias vezes. Apesar das nossas atuais falhas, que reconheço, os nossos fãs mais justos também terão de reconhecer que não há muitas editoras que tentem responder com tanta prontidão como nós. Mas quero deixar uma mensagem bem clara: a SdE pode, quer e vai melhorar a sua comunicação.
BRASIL
Alguns fãs têm receio que a nossa ida para o Brasil signifique que voltámos as costas a Portugal, que temos menos tempo para os nossos fãs originais. Só posso dizer uma coisa: nunca! São projetos diferentes, com pessoas, na sua maioria, diferentes. Pelo contrário, se o projeto no Brasil continuar a correr bem, vai dar-nos uma solidez maior para fazer frente à crise que o mercado editorial português está a sentir. A crise, essa sim, e não o Brasil, obrigou-nos a desacelerar. Aliás, a crise é um assunto tão importante que merece o seu próprio parágrafo.
A CRISE
A palavra de ordem, e que já ninguém consegue ouvir, é AUSTERIDADE. Empresas vão à falência, lojas fecham, o desemprego aumenta, os impostos também. O mercado livreiro e editorial, como os mais atentos devem reparar, não ficou imune (a lista de editoras, distribuidoras e livrarias que fecharam nos últimos anos não é curta). No entanto a SdE continua aqui, a publicar, a tentar deixar os seus fãs satisfeitos. Gostávamos de estar a fazer as coisas de forma diferente, e quando o país sair deste período negro, certamente que o faremos. Mas não é justo pedir que continuemos a trabalhar como fazíamos há 5 ou 6 anos quando o país, aparentemente, tinha um futuro risonho e toda a gente tinha dinheiro para gastar num bom livro. Apesar de tudo, este ano vamos ter apostas fortíssimas na fantasia, como é o caso do Brandon Sanderson. Mas há mais!
DIVISÃO DOS LIVROS
Não é uma coisa de agora, já dividimos livros há muitos anos, e sempre pela mesma razão: se não dividirmos, o projeto é comercialmente inviável e não poderá sair do reino dos sonhos. Lembrem-se que o próprio George R.R. Martin, quando foi publicado pela primeira vez há 7 anos, estava longe de ser o fenómeno que é hoje e foi um tremendo risco para a SdE apostar tanto nele. Se não o tivéssemos dividido teríamos perdido dinheiro com todos os livros até a série da HBO ter estreado. Outros autores que dividimos são autores que amamos, de uma qualidade tremenda, mas que vendem pouco e se não forem divididos NÃO podem ser publicados: é o caso dos fenomenais Dan Simmons, Robin Hobb e Guy Gavriel Kay. Seria melhor pura e simplesmente não os publicar? Duvido que essa fosse a melhor opção. Acreditem: não dividimos os livros de forma leviana ou para ganhar mais. O objetivo é não perder. E garantir no nosso catálogo os MELHORES nomes do fantástico.
ALTERAÇÕES DE DATAS DE PUBLICAÇÃO
Há uma boa razão para praticamente nenhuma editora adiantar datas de publicação: a facilidade com que um agente, tradutor, revisor, paginador, designer, editor, impressor ou comercial se atrasa a entregar o seu trabalho… e lá se falha uma data. E depois os fãs cobram. A solução mais inteligente é não adiantar datas. Mas preferimos continuar a fazê-lo, correndo o risco de vocês se zangarem connosco. Prometo, no entanto, que estamos a tentar falhar cada vez menos!
SAGAS QUE FICAM A MEIO
Este ponto tem relação direta com a crise. Quando não há fãs suficientes para manter uma série em pé, por melhor e mais fascinante que ela seja, a única solução é interrompe-la. Caso contrário é o descalabro financeiro. Mas não pensem que interrompemos séries com agrado, por vezes até já temos os direitos comprados e não conseguimos publicar os livros todos. Mas este infortúnio não é um exclusivo da SdE: todas as editoras que publicam fantasia, onde imperam séries com vários volumes, correm o risco de as abandonar a meio. Felizmente algumas das que estão paradas (Patricia Briggs ou Kim Harrison) têm volumes autónomos e a ação não foi interrompida num cliffhager. Outras conseguimos voltar a recuperar (Sherrilyn Kenyon). Se os livros tiverem procura e o mercado permitir, não duvidem, somos os principais interessados em recuperar as séries.
Penso que respondi às principais queixas que os nossos fãs fizeram neste post. Há sempre mais perguntas a fazer, novas perspetivas a abordar, mas uma coisa quero deixar bem claro: não nos aburguesámos, não crescemos demais, não deixámos de ser fãs de fantástico. Somos uma editora média, a viver num mercado de grandes grupos, num país meio falido. Não é fácil oferecer um serviço perfeito nestas condições, mas estamos a dar o nosso melhor e contamos convosco para nos acompanharem neste caminho.
Um abraço e votos de boas leituras,
Luis CR