Quando o motivo me encontrar
vou pensar em assentar e fazer um enxoval
De todas as coisas sem razão
que deixámos pelo chão
sem saber onde arrumar
Como um outro lado em nós
que nos vire do avesso
que invente um recomeço
Que se foda o Panteão
dou os ossos a um cão que me roa a salivar
Faz que apetece
tudo apodrece se te for demais
Deixa que cura
sei lá se cura
morremos iguais
Há músicas que são assim, um todo nelas próprias, sem necessidade de apresentação ou de contextualização. Sempre verdadeiras, com um toque de insatisfação patente que não desaparece por muito que o tempo passe. Falam e expressam-se por nós, encontrando-se connosco num lugar e espaço onde nos sentimos livres, onde a realidade é aquilo que fazemos dela e não aquela que nos é imposta. Panteão é uma destas músicas, toca na alma, provoca-a e arranca-nos gritos a plenos pulmões para terminarmos com um encolher de ombros, com um voltar à consciência de que no fim a sensação de incerteza é a maior certeza que existe.