Escritos Aleatórios #49

“Encontro-te enrolado em ti mesmo, aí, no meio do chão despido, gelado. Formas uma concha impenetrável que se tornou no meu maior desafio. Porque eu quero juntar-me a ti. Quero fazer parte dessa escuridão que te envolve, quero estar colada a ti, qual capa protectora. 

Movo-me devagar, observo-te e à tua beleza tão diferente da banal. É fácil adivinhar que adormeceste de exaustão enquanto, provavelmente, os teus demónios chamavam por ti e brincavam contigo. 

Estava indecisa se havia de voltar. Afastas-me tantas vezes sem uma única palavra que por muito que eu compreenda, e acredita que melhor do que ninguém eu vejo e sinto através de ti, sinto-me mais vezes derrotada do que amada. Ainda assim, não consigo permanecer longe de ti nem dessa tua tormenta. Está para lá de qualquer compreensão o que me liga a ti. De cada vez que quero fugir, de cada vez que quero escapar e dizer que já chega, vejo-me de novo a caminhar na tua direcção num ciclo vicioso imprevisível, cuja única certeza é a de que nos magoaremos, não fosse este um amor impossível.

Entre os teus demónios e os meus, procuramos apenas momentos de alívio um no outro. E, apesar do meu amor por ti ser real, é claro para mim, passado este tempo todo, que para ti não sou mais que um porto seguro, um abrigo para a tua insanidade. Porque tu não és de ninguém, mas de tudo e todos ao mesmo tempo. Porque enquanto não te entregares nem confiares, nem acreditares que alguém é capaz de te amar por inteiro independentemente do teu passado, dos teus pesadelos e assombros, estarás apenas a criar ilusões para ti e para quem te abre o peito às balas – como eu.

Sabendo disto tudo, mesmo estando exausta, escolho deitar-me a teu lado, encostar-me a ti e receber os teus braços à minha volta, como fazes sempre. O truque é ficar de costas para ti. Encostas o teu nariz ao meu pescoço, sempre de forma inconsciente, voltas a respirar profundamente e eu sei que agora estás em paz. E se os pesadelos voltarem, sei que me agarrarás em desespero, sem acordares totalmente. Eu acordarei em sobressalto, mas preparada, virar-me-ei para ti, colocarei as minhas mãos na tua face, beijar-te-ei lentamente os lábios e dir-te-ei que estou aqui. O teu corpo deixará de tremer, os teus medos serão libertados e voltarás ao mundo da inconsciência o resto da noite.

Começa a amanhecer e eu levanto-me. Bato a porta devagar e viro costas sem olhar para trás.”

Morrighan – 9/2/2014 – 11h23

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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