“Estou furiosa.
Contigo.
Mas principalmente comigo.
Esta agonia da tempestade que não passa, que não me larga.
Sinto-me como um quarto que acabou de ser invadido por uma corrente de ar tão forte que explodiu com a janela e atirou tudo pelos ares, para o chão, fazendo-me esquecer a que lugar é que cada coisa pertence.
É assim que me sinto.
Desarrumada.
Caótica.
Desesperada.
Por ti.
Pelo toque que não chega.
Pela emoção que não se concretiza.
Pelo desejo não saciado.
São loucos aqueles que pensam que controlam as emoções. Estas são a expressão máxima da liberdade. Não pedem permissão para aparecer e ficarem a beber um copo. Ou dois. Ou três. Até que fiquemos tão embriagados que percamos a noção de nós mesmos. Chega uma altura em que ansiamos pela chegada da inconsciência, da ausência da sensibilidade. Que esta embriaguez traga um dia seguinte sem qualquer memória do que o levou até ela. Que houvesse a libertação de algo que está condenado sem ter começado. Que, na estupidez absurda, se ignora, optando por transportar tudo para um mundo paralelo possível.
Um segredo escondido, o nosso segredo. Mas existe sempre uma linha que cruza o universo e nos faz ver que mais tarde ou mais cedo somos reclamados pela realidade sem dó nem piedade.
Quero aplacar esta fúria em ti.
Quero ter-te.
Quero sentir-te.
Quero ultrapassar as barreiras e reclamar-te como meu.
Quero o teu cheiro na minha pele.
O teu sorriso nos meus lábios.
As tuas mãos no meu corpo.
Quero que me olhes nos olhos enquanto te puxo para mim, enquanto conquistas o teu espaço dentro de mim.
Quero o teu respirar no meu ouvido enquanto te entregas e te dás a mim.
Quero os teus braços à minha volta enquanto repouso no teu peito.
Depois podes-te ir embora.
Podes não mais voltar.
Podes.
Desaparecer.
Libertar-me.
Esquecer-me.
Esqueço-te.
Enquanto te quero.
Enquanto te amo.
Enquanto te odeio.”
Morrighan