Fotografias por Sofia Teixeira
Considero-me uma pessoa sortuda. À parte da minha vida profissional enquanto investigadora científica e professora universitária, tenho o prazer de me poder dedicar a este blogue que tanto me tem dado e ensinado. Sim, porque as experiências que vou vivendo graças à sua existência enriquecem-me mais do que eu acabo por conseguir transmitir, e isso é de um valor inestimável. 2014 tem sido um ano particularmente prolífero em relação à descoberta de projectos portugueses de qualidade no que toca à cultura musical.
Descobrir a plataforma Tradiio foi uma espécie de doce proibido, pois apesar de o meu tempo livre ser, por vezes, altamente limitado, na primeira fase da aplicação aquilo tornou-se um verdadeiro vício. Mais ainda quando constatei que um dos meus mais recentes artistas preferidos se encontrava por lá. Mr. Herbert Quain, o projecto de Manuel Bogalheiro, é conhecido aqui pelo blogue. Não só já o entrevistei como escrevi uma pequena review do seu último álbum. Ou seja, para quem me lê, espero que este nome não seja de todo desconhecido. Na verdade, na minha modesta opinião, não conhecer Mr. Herbert Quain devia ser considerado perto de crime. Quanto mais não fosse por ter o mesmo nome de uma personagem de Jorge Luís Borges!
Se por vezes ser admirado por um nicho tem a sua magia, a verdade é que muitas vezes esse nicho só não se torna maior por haver poucas apostas no desconhecido. A música por samplagem, cá em Portugal, não é assim tão conhecida nem divulgada, porém temos pessoas de grande talento. Mr. Herbert Quain é, para mim, um talento mais do que confirmado e uma aposta mais do que ganha. Assim o foi no Tradiio, e assim espero que as pessoas se venham a aperceber do quão deliciosa e emocional pode ser a descoberta da música de Mr. Herbert Quain.
Não me quero estender muito mais – afinal cada um de vocês poderá comprovar por si próprio a qualidade do trabalho do Manuel. Dito isto, digo-vos também que ao vivo consegue ser ainda mais brutal. No Tradiio Live, o Manuel acabou por actuar sozinho, mas normalmente faz-se acompanhar por um VJ – o João Pedro Fonseca. Sem essa parte, que complementa imenso a imagética da música de Mr. Herbert Quain, Manuel Bogalheiro não se fez de rogado e deu ele mesmo um belíssimo concerto em que o ambiente e a sinergia com quem o ouvia foi-se tornando cada vez mais especial. Houve músicas e passagens que não me lembro de alguma vez ter ouvido antes e, mesmo estando a fotografar, foi impossível não me deixar transportar, por momentos, para a sonoridade, ganhando o corpo vida própria e um possível resquício de inércia desaparecendo por completo.
Se já gosto de fotografar a preto e branco, com Mr. Herbert Quain ainda faz mais sentido. Gostei imenso de o ver no Tradiio Live. Atentem neste rapaz, Tradiio e planeta Terra, porque ele ainda tem muito para dar. Isto é só o início.