O Teorema Katherine
John Green
Editora: ASA
Opinião: Ler John Green requer sempre algum tempo de preparação. Sejam os seus livros uns melhores que outros, a verdade é que os temas abordados acabam sempre por tocar num nervo qualquer do leitor. O impacto nem sempre é estrondoso, mas a reflexão acaba sempre por acontecer em algum momento da leitura. Deste escritor já li o clássico A Culpa é das Estrelas, À Procura de Alaska e Cidades de Papel.
Chegou a vez de O Teorema Katherine e o traço de John Green na narrativa da história é inegável. O autor conquistou uma voz tão própria que só ao descrever a estória em si, seria possível adivinhar que tinha sido o mesmo a escrevê-la. O problema neste livro é que a intensidade das personagens a que Green nos habituou não é a mesma. Se normalmente os seus enredos são pontuados com uma fortíssima dose de drama, em O Theorema Katherine esse drama parece quase banal. A forte componente desta estória é, sim, a busca pela fórmula matemática que preveja a duração de uma relação.
«Continuava a pensar em duas palavras – para sempre – e sentir a dor ardente por baixo da caixa torácica. Doía como o pior pontapé no rabo que já levara. E já tinha levado muitos.»
Sei que é injusto comparar obras, mas sendo do mesmo autor acaba por ser inevitável. Colin tem-se apaixonado, consecutivamente, por raparigas chamadas Katherine e a cada vez acaba por sair desiludido. Tirando uma vez que só mais tarde vem a recordar e em que dá conta que essa é a origem do seu teorema não funcionar. Mais, dado ter sido um menino prodígio, tornou-se o seu objectivo mostrar que pode ser um génio e não apenas mais uma criança prodígio que quando cresce deixa de ter qualquer destaque. Toda esta busca à volta da previsibilidade das relações, torna-se então numa obsessão em busca do momento *Eureka*, termo que teve origem em Arquimedes.
«Penso em demócrito: “Por um lado, o homem culpa a natureza e o destino, contudo, o seu destino não é mais que o eco do seu carácter e das suas paixões, dos seus erros e das suas fraquezas.”»
Toda esta obra, aborda muito do que é ser adolescente e de como se vivem determinadas paixões, a maneira inocente e simbólica como muitas vezes é visto o amor, principalmente no fim desta fase complexa e no início da idade adulta.
«(…) não podia deixar de reparar no sorriso dela. Um sorriso capaz de acabar com guerras e curar o cancro.»
A citação acima foi uma premissa abonatória, mas que acabou por arrefecer, acabando por não existir a conotação algo trágica a que Green habituou os seus leitores. O contraste da extrema paixão e da imprevisibilidade do final, com que o autor tem pontuado as suas obras, é algo que neste livro não está tão forte. No entanto, quero realçar que é um bom livro para se ler antes dos restantes do autor. Isto porque a temática em si, de discriminação, bullying, traição, carências afectivas e dúvidas existenciais quanto ao futuro após terminada a escolaridade obrigatória, está bem trabalhada e, com a linguagem cuidada mas descontraída do escritor, dá que pensar e faz reflectir jovens e adultos.
Uma das partes que mais me divertiu neste livro foi a dita cuja, a fórmula, que iria definir o Teorema Katherine, ou seja, prever através do comportamento da relação com uma Katherine quem é que deixaria quem para partir para uma generalização de todas as relações. Mais giro ainda é a espécie de anexo que o livro traz em que o amigo matemático de John Green, que o ajudou nesta parte, dá as suas explicações e palavreado matemático sempre com muito humor. Também as notas de rodapé enriquecem a leitura de forma hilariante fazendo o leitor comprometer-se com a leitura página após página.
Também o vocabulário usado, utilizando calão inglês e alguns termos muçulmanos, devido à personagem Hassan, uma das minhas preferidas, que é o melhor amigo de Colin e que apregoa ser muito religioso. Kafir e sitzpinkler, por exemplo, são duas palavras que me ficaram na cabeça e que por vezes até utilizo com outras pessoas que já leram este livro. Mesmo carecendo um pouco da magia a que me habituou anteriormente, é nestes pormenores que John Green é e será sempre um mestre. Para mim é um autor que merece ser lido e relido, sem dúvida alguma.