Time for T começou com Tiago Saga, a solo, mas neste momento é uma banda que agrega várias nacionalidades, conferindo, assim, um toque diversificado e ecléctico à sua música. Já com algum tempo de existência, é neste Verão de 2014 que a sua actividade em Portugal tem disparado, actuando, inclusive, no Super Bock Super Rock e ainda no Meo Sudoeste. Residente em Brighton, Tiago aproveitou a sua estadia por terras algarvias para conversar comigo e é essa mesma conversa, sobre todo o percurso dos Time for T até hoje, que partilho convosco.
Fotografia Sam Luck |
Nascido em Inglaterra, com três semana veio viver para Portugal e só há cinco anos é que regressou a Inglaterra. Neste momento, vai oscilando entre Portugal e Inglaterra, à conquista de um dia poder viver só da música «é o sonho de todos o que fazem música, não é?». Em relação aos Time for T, Tiago começou por ter uma banda, quando era mais novo, no Algarve, mas aos 19 anos decidiu então dedicar-se a sério à composição de música e mudou-se para Brighton: «Quando me vi lá sozinho, comecei a compor mais canções e comecei a tocar sozinho. Pouco a pouco, fui conhecendo mais pessoal fixe, de bandas que curtia, e fui escolhendo alguns para formar a minha banda (risos). Fui quase roubando os melhores membros dessas bandas (risos). Começou com uma brincadeira, mas com o tempo passou a ser a banda prioritária para todos.»
Quanto à diversidade das nacionalidades e a localização inconstante, Tiago contou-nos que: «Por eles, passavam cá o tempo todo, mas é lá que têm as namoradas e a família, para além de ainda não ser possível a nível financeiro.» Recentemente tocaram em alguns locais do nosso país, e a aventura acaba sempre por ser engraçada: «Conduzimos de carrinha para baixo, tocámos no Super Bock Super Rock, depois tocámos na FNAC, depois conduzimos para o Algarve, levei-os ao aeroporto, voltam dia 6 ou dia 7 para tocarmos na Casa Independente dia 7, depois fazemos uma pequena digressão – tocamos no Meo Sudoeste, no Algarve e depois conduzimos de volta para Inglaterra.»
A gestão não é fácil e o Tiago acaba por ser o próprio manager da banda: «É lixado fazer de manager de seis personagens. Não só amigos, mas personagens, mesmo. (risos) Ninguém gosta que lhe digam o que fazer. Mas também tenho a opção de tocar sozinho e nos últimos três meses tenho vindo a Portugal tocar sozinho e é fixe, porque cá pagam bem o suficiente para eu pagar as viagens e ainda poder levar alguma coisa para Inglaterra. Temos também, agora, pessoas a ajudarem-nos por cá. A NOS Discos, a Sara Espírito Santo que trata da nossa Comunicação, o João Vaz Silva que faz os nossos bookings e muito mais – tem sido bom. Já em Inglaterra é muito mais difícil. Aquilo é uma espécie de Meca dos músicos, mas é muito difícil conseguires ganhar algum destaque. Ouvem-te, acham-te fixe, mas é difícil chamares mesmo à atenção.»
Tiago trabalha num bar e contou-nos que, por Londres, toda a gente acaba por fazer alguma coisa relacionada com algum tipo de arte. «Londres é bom para ganhar experiência e evoluir, mas não para fazer dinheiro suficiente. Há mais oferta do que procura.»
Enquanto toca sozinho, acaba por fazer algumas versões diferentes das músicas da banda, mas também algumas novas que muitas vezes transformam-se em músicas da banda: «Tenho quatro ou cinco canções, neste momento, que ainda não tive tempo de mostrar à banda. É interessante, é tipo ver o bebé antes dele nascer. E não sei o que prefiro, gosto tanto de tocar sozinho como com a banda. Tocar sozinho é muito mais íntimo e, para mim, sou um compositor, muito mais que um performer.»
Apesar de outros membros da banda comporem muitas vezes algumas músicas, é o Tiago que acaba por assumir a direcção que a sonoridade toma: «Todos eles contribuem com o seu lado criativo, mas a maioria das vezes, eu entro com uma ideia definida do que quero e por vezes digo que sim às suas ideias, outras vezes digo que não (risos).» Já a inspiração para as suas composições vem do seu subconsciente: «Vem de qualquer coisa que nos influenciou a nós, e que nós digerimos e que sai para fora de outra forma. Os momentos mais inspiradores que tenho são mesmo antes de ir dormir. Como sou muito ocupado, todos os dias estou sempre a andar de um lado para o outro, quando me deito, quando o consciente está a passar para o subconsciente, mesmo antes de dormir, é quase sempre quando tenho que me levantar e pegar na guitarra, porque é aí que me surgem as coisas. Tenho centenas de vídeos no meu Mac, eu todo cansado, a cantar qualquer coisa com a minha guitarra, super baixinho para não acordar ninguém. Quando acordo de manhã ouço, algumas vezes acho que posso melhorar e criar alguma coisa, outras vezes só me pergunto “Mas que raio estava eu fazer?” (risos).»
Oficialmente, o EP dos Time for T ainda só saiu em Portugal, com saída prevista em Inglaterra para Setembro. A recepção tem sido muito positiva e eles já andam a oferecer alguns discos por aí. O Tiago considera-o: «Um bom cd para ouvir no carro. Dado o tempo que passamos na carrinha a viajar, ouvimos álbuns e álbuns e isso acabou por passar um bocado para o disco.»
Também a plataforma Tradiio tem sido importante para a divulgação de vários artistas e os Time for T não são excepção. “Free Hugs” tem sido a música alvo de grande sucesso e tem estado várias semanas nos tops do Tradiio. «Tem sido muito bom e acho que devem todos apostar em nós! (risos)»
Sendo um pouco uma espécie de outsider «Quando estou em Portugal, não me sinto bem português, mas quando estou em Inglaterra, também olham para mim como se fosse estrangeiro. (risos)», acaba por ter o seu lado positivo de se conseguir adaptar aos mais variados palcos. «Temos tido muito sucesso em Espanha, demos um concerto mesmo muito fixe em Madrid em que, apesar de termos dormido quase nada, estávamos completamente em sintonia, correu tudo bem. No Super Bock Super Rock também correu muito bem. O pessoal da organização ficou suspeito por querermos acampar com o resto do pessoal, mas em Inglaterra isso é um hábito e cá fizemos isso. Gravámos um vídeo e tudo. Queríamos também usufruir do festival, ver Cat Power e Eddie Vedder. Mas o concerto foi bom, e apesar de ter sido numa hora meio esquisita, no final do concerto já lá estava imensa gente.»
Este ano vão tocar ao Sudoeste, que é precisamente o festival a que o Tiago ia em miúdo, no tempo em que até Oasis ia lá tocar. «Quando nos ofereceram para ir tocar ao Sudoeste, não ia dizer que não, apesar de hoje em dia o festival estar num estilo um pouco diferente do que quando ia em miúdo.» Quanto a festivais, o Tiago partilha um gosto comigo: «Paredes de Coura foi o melhor festival a que fui em Portugal. Aquilo é o Woodstock em português.»
Em relação ao álbum de longa duração, o plano é a partir de Setembro começarem a trabalhar nele: «Ainda não temos músicas suficientes para um álbum. A ver se quando voltarmos em Setembro hibernamos e nos dedicamos a isso. Pode ser que na próxima Primavera esteja pronto. Para mim um álbum é uma obra de arte, sempre gostei, desde miúdo, de edições de disco e para mim, gravar um álbum, é um sonho.»
Não existem muitas bandas portuguesas que estejam a fazer grandes digressões pela Europa, mas é uma ambição dos Time for T alcançar tal feito: «Nós queremos fazer com que a nossa música chegue a todo o lado. Estamos a falar agora em fazer uma digressão entre Holanda, Bélgica e Alemanha. Achamos que vai correr bem porque temos amigos em todos esses sítios, e bandas que conhecemos, e os nossos concertos ao vivo são sempre muito bem recebidos. Estão a ficar um bocadinho cada vez mais malucos (risos). Começámos como algo Folk, mas ultimamente até mosh tem havido. Mas ao mesmo tempo, conseguimos com que estejam todos sentados e calados concentrados na nossa música. É bom conseguirmos fazer as duas coisas. Algo mais íntimo e outras vezes mais divertido.»
As referências para estas misturas, acabam por surtir das várias influências que cada um têm. Uma coisa em comum, são as músicas do deserto e a música do mundo. «Todos gostamos de Talking Heads, The Beatles e eu, em particular, gosto muito de bandas em que as vocalistas são mulheres. É raro, mas eu gosto. Joanna Newsom, é tipo a minha heroína. Mas é tudo música um bocado psicadélica dos anos 70. Depois o guitarrista gosta muito de hip hop e eu também, e isso reflecte-se no facto de não conseguirmos classificar bem este último disco.»
A nível de oportunidades, é claro para o Tiago que hoje em dia as bandas fazem muito por si só, mas que a editora cá em Portugal e também o trabalho com a Sara e em Inglaterra, têm ajudado a que a palavra se espalhe.
Toda a sorte do mundo, é isso que lhes desejo! 🙂