Nas palestras que fui convidado a realizar debatia-me sempre com a ideia de passar 90 minutos a falar de mim e da Trilogia Nocturnus. Não que não tivesse uma apresentação para fazer neste tempo, mas por me parecer um tanto ou quanto narcísico estar tanto tempo a falar de mim e das minhas obras.
Deste modo, optei por revelar um pouco dos bastidores da criação de um livro e assim tentar fazer florescer novos escritores por entre as camadas jovens.
Foi então então que nasceu Livro: da Ideia à Publicação: uma palestra simples, com todos os passos e informações necessárias para a criação de um livro – na minha perspectiva, claro.
Quando convidado pela Sofia para escrever um artigo para o Morrighan, optei por apresentar um dos meus capítulos favoritos deste trabalho: Criar o enredo. Mas para isto preciso antes de apresentar alguém: Joseph Campbell.
Joseph Campbell foi um estudioso de mitos e lendas, norte-americano, nascido em 1904. Com um percurso académico exemplar, recolheu milhares de histórias, de diferentes épocas e culturas, e analisou-as “anatomicamente” tentando responder à questão: porque existem histórias que se imortalizaram? O que faz com que estas histórias passem de geração em geração?
O que ele descobriu – e que agora é certamente senso comum – é que antes de mais o leitor (ou receptor) tem que se identificar com o Herói, ou com a história em si, tem que se comover com ela e, no final, percebendo ou não, ter-se transformado.
Campbell percebeu então que havia um padrão, etapas, nestas histórias e descreveu-as como A Jornada do Herói que passo a descrever de uma forma muito resumida.
1. Mundo Normal
O herói está na sua vida quotidiana.
2. Chamamento para a aventura
Dá-se um acontecimento fora do comum que quebra a rotina do herói.
3. Recusa do chamamento
O herói recusa o chamamento. Afinal, será melhor manter a vida no seu ritmo normal.
4. Encontro com o mentor
Neste ponto, o herói pode encontrar-se literalmente com alguém mais experiente. Pode ser também uma situação metafórica na qual o herói supera o seu medo de agir.
5. Travessia do limiar
Neste ponto, o herói, forçado ou de maneira espontânea, sai da rotina e entra num mundo de situações especiais.
6. Testes, aliados e inimigos
É aqui que se passará a maior parte da narrativa. O herói será testado pelo destino, ou pelos inimigos, encontrará aliados e aprenderá lições importantes. Verá uma realidade que nunca viu.
7. Aproximação do objectivo
O herói aproxima-se do seu objectivo. O clima adensa-se e a tensão aumenta. As situações tornam-se incertas, mas ele sente que está mudado, preparado para enfrentar o destino.
8. Provação suprema
É o auge. O herói enfrenta o seu maior desafio. Quanto maior o risco, maior será a emoção para o leitor. Muitas vezes o herói enfrenta a sua morte.
9. Conquista da recompensa
É o final da crise. O herói conquista o que desejava e é recompensado.
10. Caminho de volta
Esta fase é habitualmente muito curta. O herói volta ao seu mundo normal e à sua rotina diária.
11. Depuração / Ressurreição
Aqui, o herói pode ainda enfrentar uma situação secundária que tenha ficado em aberto na história. Poderá ser uma surpresa ou uma má notícia, um gancho que poderá deixar a história aberta para continuar no futuro.
12. Regresso transformado
O herói volta à sua rotina diária, mas esta aventura mudou-o, fê-lo ver uma realidade completamente diferente da que conhecia. Está transformado.
Depois de lermos estas etapas e pensarmos um pouco naquilo que já lemos ou filmes a que assistimos, podemos reconhecer que (grande) parte usa esta “fórmula”.
Apesar de este ser um molde digno de grande reconhecimento (como é óbvio!), aos novos escritores o meu conselho é sempre o mesmo: ser criativo!
Por fim, deixo um vídeo que vem ilustrar o acima citado.
Espero que tivessem achado útil ou pelo menos curioso. 🙂
Rafael Loureiro