Entrevista a João Batista, Editor Português [Livros de Ontem]

Conheci a Livros de Ontem há algum tempo, muito por causa do lançamento d’O Relógio de Samuel Pimenta. Desde então, tenho acompanhado com alguma regularidade as actividades desta jovem editora e estive, inclusive, recentemente na apresentação do segundo livro do Samuel, o Geo Metria. Suscitou-me a curiosidade em relação ao método da publicação – através de crowdfunding. Mais, fiquei com vontade de explorar todo este conceito muito por ter noção que, hoje em dia, avançar com projectos inovadores não é fácil – seja por existir um grau de insegurança em relação ao mercado, seja por falta de apoios. Após essa apresentação em que estive presente, eu e o João tivemos uma pequena reunião em que discutimos várias coisas, entre elas o estado do mercado livreiro e editorial, o papel dos blogues que falam de livros, entre outros. O resultado foi um convite, do João para mim, em amadrinhar uma obra enquanto Blogue Morrighan. Já foi desvendado num dos Diários de Bordo e, como tal, chegou a altura de expor todas estas ideias pela voz do próprio João – ou, neste caso, pela escrita!

1.João, fala-nos um pouco sobre ti e sobre o que te levou a criar uma editora.

Acima de tudo sou escritor. Gosto de escrever e é na categoria de escritor que eu me sinto melhor. No entanto, sou uma pessoa que gosta de inovar, de empreender. Estou sempre à procura do que está errado ou menos bem nas coisas que me rodeiam e sou obcecado pela tentativa de as melhorar. Juntando essas duas características pessoais, que penso serem as mais inatas e profundas, surgiu a oportunidade de criar uma editora. Para além disso, posso também identificar as questões situacionais: o estado do mercado editorial e livreiro, a inércia completa das editoras existentes na altura, a minha experiência de contacto com editoras e o meu absoluto fascínio por livros. Tudo isto, em conjunto, fez-me criar a Livros de Ontem e abandonar por completo a carreira que vinha então a construir na área das Relações Internacionais.

2.A Livros de Ontem é uma editora que funciona de forma diferente das restantes e que, no vosso site, foi considerada como a “claridade na escuridão que então dominava o panorama editorial português.” A que escuridão é que se referem e como é que pretendem bani-la?

A experiência e o know-how que reuni antes de criar a Livros de Ontem foram consolidados enquanto escritor e enquanto livreiro. Através dessas duas experiências profissionais consegui formar um juízo sobre o mercado editorial português que, com os devidos ajustes, ainda me orienta nos dias de hoje enquanto director da editora. É um lugar comum dizer que o mundo está em constante mudança e que as novas tecnologias estão a transformar a forma de viver e de fazer negócio, são frases feitas e banais, mas parece os responsáveis das empresas do mercado editorial ainda não as ouviram ou não as interiorizaram. O mercado livreiro, enquanto conjunto, está caduco, estagnado, mergulhado nessa escuridão a que aludimos no nosso site. A inovação é praticamente inexistente, a aposta nos best-sellers internacionais é recorrente, a qualidade das publicações e de toda a cadeia de valor é incrivelmente baixa, e andamos todos a tentar furar um esquema que se tornou pesado demais para a dinâmica que o mercado português tem. E não estou a dizer nada de novo. É frequente ouvir-se queixas de todas as partes do sector e ninguém se apresenta para oferecer as soluções. Os autores andam demasiado preocupados em tentar agarrar uma editora que vá lançando os seus trabalhos, seja a que custo for. Os livreiros ainda actuam no mercado subjugados às grandes editoras, dificultando a entrada de novas editoras e autores. As editoras vivem na ganância do lucro fácil e imediato, esquecendo qualquer tipo de estratégia sustentada e de futuro. Anda cada um a puxar para seu lado e é isso que a Livros de Ontem quer travar. Entramos no mercado com a missão de trazer mais transparência, mais inovação, mais qualidade e mais oportunidades para aqueles que querem trabalhar connosco.

3.As publicações são feitas através de Crowdpublishing. Porquê este método? 

Quando iniciámos actividade, recorremos ao crowdfunding porque nos pareceu um método interessante para lançar uma nova editora. Na altura este modelo estava ainda a dar os primeiros passos e a Livros de Ontem deve ter sido um dos primeiros projectos a recorrer a este método de financiamento em Portugal. A coisa correu tão bem que reestruturámos a nossa forma de actuar e introduzimos em Portugal o Crowdpublishing. Esta opção deveu-se à percepção que tivemos de que este modelo adequava-se na perfeição aos valores que defendemos. Queremos mais transparência, mais inovação, mais envolvimento dos leitores na publicação livreira. O Crowdpublishing permite que o leitor se envolva com o livro de uma forma nunca antes vista, chegando ao ponto de acompanhar todo o processo de publicação, decidir quais os livros que merecem ser publicados e receber recompensas inéditas como a inserção do seu nome nos agradecimentos impressos dento do livro. Estamos a falar de níveis de interacção altíssimos que são a melhor forma de lançar no mercado novos autores que ainda não têm bases de leitores formadas. Por outro lado, para o autor é a primeira vez que dá a cara pelos seus livros, que aparece em público defendendo a sua obra e as suas ideias. Para além de fazer crescer o autor, permite-nos despistar quais os escritores determinados a fazer carreira e empenhados na divulgação dos seus projectos. O Crowdpublishing é um método onde todos ganham.

4.Há quem o confunda com o facto de se ter que pagar para publicar. Queres esclarecer os leitores em relação a essa diferença tão fundamental?

Esse é um dos nossos principais desafios. Estamos a entrar num mercado que está sobrelotado de esquemas mais ou menos duvidosos e de livros de má qualidade, a todos os níveis. É complicado afirmar uma nova forma de publicar que é tão inovadora que vem romper com muitas ideias formadas e muitos preconceitos. A principal barreira é levar as pessoas a ver o Crowdpublishing como um método para dar mais poder aos leitores. Queremos acabar com a ideia de que as editoras são organismos fechados que decidem sozinhos o que as pessoas lêem. Queremos também acabar com a ideia de que os livros são uma mercadoria para comprar em supermercados. O Crowdpublishing é uma evolução natural da indústria editorial por combinar o melhor de dois mundos: a democraticidade da auto-publicação e a qualidade e o rigor de uma chancela editorial. O Crowdpublishing não é solidariedade nem donativos, trata-se de uma pré-compra de um livro que garante ao leitor vantagens como um desconto no preço de capa e a inclusão do seu nome na página de agradecimentos do livro. Quanto a estratégias de pagar para publicar, somos fundamentalmente contra e achamos que esse tipo de abordagens prejudicam ainda mais um sector moribundo.

Acreditamos que a confiança na Livros de Ontem e no nosso método de publicar é algo que se constrói e que requer o seu tempo para solidificar. Trabalhamos todos os dias nesse sentido e desenvolvemos programas específicos para essa questão, tais como a doação de uma parte dos nossos lucros de crowdfunding a outros projectos.

5.Quais os princípios desta jovem editora? 

A Livros de Ontem rege-se por princípios de qualidade, rigor, inovação e transparência. Acima de tudo estamos a desenvolver um trabalho que mais ninguém faz: pegar em novos autores de língua portuguesa e publicar os seus trabalhos em livros com uma qualidade muita alta para os valorizar. As editoras que ainda vão publicando trabalhos de autores portugueses, frequentemente fazem-no seguindo padrões de qualidade duvidosa, seja nos materiais de impressão, seja no design do livro ou na revisão do texto. Adicionalmente, apostamos na exclusividade. Fazemos pequenas tiragens de livros numerados e assinados. Quando um leitor compra um livro com a nossa chancela, tem a certeza que está a comprar um objecto de qualidade e um livro de grande valor cultural.

6.Que tipo de obras pretendem publicar?

A Livros de Ontem, desde que se apresentou ao mercado, afirma-se por não ter formatos pré-definidos, colecções, géneros ou qualquer outro tipo de limitações à criatividade. Publicamos qualquer tipo de livro desde que tenha qualidade e que o seu autor seja um novo autor de língua portuguesa e por novo autor entendemos um autor que tenha poucas ou nenhuma obras publicadas, ou seja, queremos trabalhar os autores que não são conhecidos no mercado e que não têm a facilidade de chegar a uma grande editora. É aí que está o desafio, não nos best-sellers internacionais que já provaram lá fora o seu sucesso. Pegamos num autor desconhecido e crescemos com ele, é esta lógica que nos interessa. 

7.A recepção dos leitores a este método inovador tem sido positiva?

A recepção dos leitores não podia ser melhor. Por outras palavras, a recepção dos leitores tem sido tão boa quanto a nossa capacidade de chegar até eles. É isto que falta, a capacidade financeira para uma promoção em larga escala. Assim sendo, temos crescido devagar e de forma sustentada. No primeiro ano de actividade publicámos 3 livros. No segundo ano já vamos com 5 lançados, 1 em pré-venda, 3 em fase de espera para entrarem na plataforma de crowdfunding e mais alguns em  fase de trabalho. Em todos estes livros podemos encontrar O Relógio que esgotou e já vai na segunda edição, o Cancro com Humor que também esgotou e sofreu uma reimpressão e o Chegaste Primeiro vai esgotar muito em breve. O balanço é muito positivo e é inspirador para nós ver o quanto conseguimos fazer com tão pouco. É também fantástico perceber que livro após livro, alguns leitores vão fazendo a pré-compra e repetindo a experiência, o que nos deixa radiantes e confiantes de que o nosso modelo é bom e veio para ficar.

8.Outro aspecto em que a Livros de Ontem se destaca é o facto de dar muito valor aos blogues literários. Recentemente, também a categoria Guest Bloguer foi criada. Explica-nos este conceito.

Confesso que quando entrámos no mercado editorial esperava alguma condescendência pela parte dos media tradicionais. Trata-se de livros, cultura, novos autores, uma matéria que é extremamente apetecível de ser trabalhada. As nossas expectativas não podiam estar mais erradas. Deparámo-nos com uma imprensa que pura e simplesmente ignora a literatura e, infelizmente, o problema não é só nosso. Basta folhear um qualquer jornal ou revista, ver um telejornal ou ouvir rádio. É raríssima qualquer menção a um livro, a um escritor ou a uma editora. Para mim isto é algo completamente inaceitável e que coloca sérios entrave ao desenvolvimento do sector. Tive então de procurar alternativas e dei de caras com os blogues literários. Fico absolutamente fascinado como alguém consegue fazer tanto pelos livros com tão poucos ou nenhuns recursos. São passatempos, entrevistas, notícias, divulgações, tudo. Os blogues literários assumiram, literalmente, o papel dos media tradicionais na divulgação editorial. Como marketeer que sou identifiquei logo os principais problemas de tudo isto: alguma falta de qualidade que inegavelmente existe em alguns blogues, o que se deve ao seu amadorismo, e a insustentabilidade do modelo, não conheço nenhum blogue literário que não seja apenas um hobbie devido à falta de capacidade de monetização. A Livros de Ontem, devido à sua gratidão para com os blogues e devido também à compreensão da sua importância neste meio, decidiu procurar programas para ajudar os bloguers a monetizar os blogues para assim contribuir para a sua profissionalização. O programa Guest Bloguer nasceu disto mesmo. Trata-se de uma série de livros que serão lançados pela editora em conjunto com os seus blogues parceiros em que o bloguer convidado desempenhará o papel de editor, escolhendo o autor a publicar e seleccionando o seu original. A editora fará todo o trabalho inerente como a revisão, paginação, capa, divulgação, venda, etc., e os direitos de autor são pagos ao bloguer e não ao autor que é também convidado a ajudar este canal que tanto faz pelas suas obras e carreiras. Teremos também outras iniciativas e programas que iremos aplicar num futuro próximo, mas temos a consciência de que sozinhos não conseguiremos mudar o paradigma do sector.

9.O Morrighan, precisamente, vai lançar, brevemente, uma colectânea enquanto guest bloguer. Que expectativas é que tens para essa colaboração?

O livro que será lançado em colaboração com o blogue Morrighan será o projecto piloto, o primeiro livro desta série. A Sofia, editora do blogue, sugeriu que fosse criada uma colectânea que juntasse os novos autores e os autores já mais conhecidos que, de certa forma, estão ligados ao Morrighan. Surgiu ainda a ideia de abrir o concurso para um ilustrador e de ligar tudo isto ao aniversário do blogue. Achámos a ideia fantástica e temos grandes expectativas. Esperamos ter trabalhos de grande qualidade e que os grandes nomes da literatura portuguesa actual consigam alavancar a carreira dos 5 novos autores que irão vencer o concurso. Não podíamos estar mais contentes com a ideia.

10.Queres fazer disto regra ou algo esporádico?

A série Guest Bloguer será para continuar e o desafio será lançado a mais blogues parceiros da editora. Queremos também expandir o conceito para outros blogues e estamos abertos a ideias neste sentido. Quanto à ligação da Livros de Ontem com os blogues literários, essa é para manter e para reforçar. Estamos a trabalhar em planos e em formas de aproximar os bloguers e de criar condições para que os seus blogues sejam uma fonte de rendimento.

11.Apelando a um lado mais pessoal, com que olhos vês o mercado editorial e livreiro em Portugal?

Com esperança. Tenho consciência de que está praticamente tudo errado com o mercado e estou na linha da frente para o fazer mudar. Tenho escrito crónicas sobre isto e continuarei a desenvolver pensamento e acções para alterar o estado de coisas. As editoras entraram numa corrida insana pelas fusões e aquisições, esquecendo que o mais importante não é a dimensão da sua sede, mas sim a sua capacidade de gerar oportunidades para os outros intervenientes do mercado. Os livreiros parecem adormecidos, subjugados pela maneira antiga de vender livros. Fecham as portas aos novos autores e às novas editoras, bajulam os best-sellers internacionais e não têm qualquer critério de qualidade para os produtos que vendem. Os leitores são cada vez menos pró-activos, não procuram o diferente e premeiam as lógicas de mercado prejudiciais à cultura. Os escritores encontram-se no meio de tudo isto, demasiado focados em abrir caminho pelas vias tradicionais e de olhos fechados para as novas lógicas do século XXI. É preciso uma grande reviravolta no sector. São precisas empresas de qualidade e referência. É preciso que os autores venham para a rua, que os editores se apresentem e saiam dos seus escritórios e que os leitores procurem as novidades e ajudem a florescer quem de facto faz alguma coisa pela cultura do país.

12.Que mudanças é que achas que são necessárias fazer para estes evoluam? 

A mudança é, essencialmente, na mentalidade de todos os agentes envolvidos. É preciso que as gerações antigas abram espaço para as novas e que não façam precisamente o contrário. É urgente que os escritores instalados percebam que a entrada de novos players para o mercado é boa para a renovação cultural e para a abertura de novas possibilidades. Ninguém ganha com este sector moribundo. É também importante que as editoras percebam que o livro é, em primeiro, um bem cultural e não um produto de supermercado. Há uma razão lógica para que o livro seja vendido com um IVA de 6%, com um carácter de excepção, e essa razão é a componente cultural e artística que o mesmo deve ter. Em Portugal lê-se muito, mas deve-se ler e publicar melhor e com mais qualidade.

13.Para terminar, que mensagem queres deixar aos leitores do Morrighan?

Que façam jus ao título de leitores e não deixem de ler. Blogues como o Morrighan são fundamentais para que as editoras e os autores consigam divulgar as suas obras. O Morrighan tem feito um papel notável nesta área e está em constante evolução. Gostaria que os leitores do blogue procurassem o que de melhor se faz no país a nível de literatura, e há coisas mesmo muito boas, e que não caíssem na tentação de aceitar cegamente o best-seller internacional. 

Comunicado – Estatuto Guest Bloguer & Blogue Morrighan – Esclarecimentos – goo.gl/NjIiXS

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8 Comentários
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Rita Cordeiro
Rita Cordeiro
10 anos atrás

Olá Sofia/Morrighan,
Já sigo o teu blog há uns anos e tenho seguido o trabalho que tens feito em termos de divulgação literária; confesso que tenho uma pontinha de inveja, no bom sentido, gostava de ter habilidade para fazer o mesmo 😉
Em relação a esta entrevista em particular, concordo com o João em muita coisa e fiquei curiosa sobre esta editora, não apenas como leitora (quase compulsiva, mas sobretudo como escritora e gostaria muito de saber como posso contactar o João e a Livros de Ontem. Obrigada e continuação de bom trabalho

Morrighan
Morrighan
10 anos atrás

Olá 🙂

Muito obrigada pela tua mensagem. Penso que o poderás contactar através do site da editora (http://livrosdeontem.pt/) ou até através do facebook https://www.facebook.com/livrosdeontem

Se não conseguires avisa-me 🙂

Um grande beijinho e obrigada por estares desse e por todo o apoio e incentivo transmitidos!

Rita Cordeiro
Rita Cordeiro
10 anos atrás

Obrigada, bem-haja! 🙂

Anton Stark
Anton Stark
10 anos atrás

Olá. Depois de lida a entrevista, e concordando com grande parte dos pontos levantados pelo João, gostaria apenas de salientar isto:
"(…) A editora fará todo o trabalho inerente como a revisão, paginação, capa, divulgação, venda, etc., e os direitos de autor são pagos ao bloguer e não ao autor que é também convidado a ajudar este canal que tanto faz pelas suas obras e carreiras. (…)"

Isto não faz sentido algum. O autor gastou anos, horas, meses, possivelmente anos do seu tempo pessoal e não-remunerado a suar as estopinhas para terminar um manuscrito. E depois, se tiver a falta de claridade mental para participar neste esquema que é essencialmente roubo, atira os seus direitos a uma pessoa não-especializada (mas desde quando é que ser bom blogger tem a ver com saber editar-se seja o que seja?) e recebe o quê, exactamente? Remuneração não é, porque isso é que constitui os direitos de autor. Fama? Nunca com a presente extensão e abrangência da Livros de Ontem. Currículo? Só se for, mas isso seria o mesmo que andar a atirar os seus esforços à rua.

Como autor, não posso deixar de me sentir ultrajado pela existência de uma proposta deste calibre, vinda de alguém que se propõe a fazer tanto. Creio que quem respeita o autor e o seu trabalho deve boicotar e não apoiar esta iniciativa.

Enfim, é sempre bom terminar numa nota boa. A entrevista foi uma boa leitura e bem conduzida, e o blog está sempre de parabéns 🙂

Livros de Ontem
Livros de Ontem
Reply to  Anton Stark
10 anos atrás

Caro Anton Stark,

Antes de mais queremos agradecer o seu comentário e nota positiva que deu a está entrevista.

Quanto à nossa iniciativa "Guest Bloguer" não podemos deixar de tecer alguns comentários às suas críticas e clarificar a situação.

O programa "Guest Bloguer" é uma iniciativa que pretende reconhecer perante a comunidade o trabalho e dedicação dos bloguers que, até aqui, têm sido incansáveis na divulgação de livros, autores e editoras, fazendo por vezes verdadeiros amadrinhamentos de carreiras sem nunca receberem nada em troca.

Quem acompanha o trabalho da Livros de Ontem sabe perfeitamente que trabalhamos com rigor e transparência e que somos totalmente contra o trabalho gratuito e a exploração. Por isso mesmo queremos retribuir aos blogues que, até agora, têm trabalhado de forma gratuita.

Quanto à retribuição aos autores, neste caso não poderá haver direitos de autor e é compreensível o porquê:

– trata-se de uma coletânea com mais de 10 autores e apenas 500 exemplares. Qualquer tipo de remuneração resultaria numa quantia irrisória para cada um.

– os autores são chamados a retribuir aos blogues o trabalho de divulgação que os mesmos têm feito.

– trata-se de um conto de cerca de 5 páginas e não um romance de uma vida.

– os autores recebem em troca exemplares da obra e NÃO perdem os seus direitos futuros sobre o conto, apenas os cedem para a presente edição.

Esta iniciativa pretende, acima de tudo, publicar livros de carácter comemorativo pela actividade dos blogues e de apontar um caminho absolutamente novo na monetização dos mesmos.

Anton Stark
Anton Stark
10 anos atrás

Se me é permitido defender a minha posição, coloco aqui a resposta que dei a uma cópia desta réplica da Livros de Ontem no blog The Spine Collector:

"Preocupa-nos o facto de o seu blogue publicar um artigo de carácter parcial e eminentemente influenciado por opiniões externas à iniciativa sem que exista a mínima tentativa de compreensão da ideia."

Carácter parcial, cara Livros de Ontem, começando por concordar com a maior parte dos pontos levantados? Ou é carácter parcial porque se calhou discordar de qualquer coisinha? Haja lata, enfim.

Não há qualquer tipo de explicação que consiga tornar a frase "os direitos de autor são pagos ao bloguer e não ao autor" em algo aceitável", ponto. Não há qualquer mínima tentativa de compreensão de uma ideia quando ela ultrapassa o limite do estapafúrdio. Pior ainda foi a vossa atitude arrogante e sobranceira nesta resposta:

"neste caso não poderá haver direitos de autor e é compreensível o porquê" – Não é compreensível, JAMAIS, que um autor não seja recompensado pelo seu trabalho numa colectânea que se quer oficial. Fim da história, acabou a discussão, e afirmar-se tal barbaridade é estar a ser palerma por inteiro. Nem que os direitos se resumam a um cêntimo por autor, esse é um cêntimo que é do seu pleno e total merecimento e que não deve ir para absolutamente mais ninguém.

"os autores são chamados a retribuir aos blogues o trabalho de divulgação que os mesmos têm feito." – Este é um ponto no qual eu me sinto dividido por várias questões, mas vou só avançar uma: se por um lado me agrada ver os bloggers recompensados pelo por vezes excelente trabalho que fazem, por outro, esta recompensação tem mesmo de vir da parte da editora, dado que os bloggers estão a ajudar a editora a fazer o seu trabalho, não o trabalho do autor.

"trata-se de um conto de cerca de 5 páginas e não um romance de uma vida." – E daí? Não deixa de ser trabalho. Passaria pela cabeça de alguém ir falar com um carpinteiro e dizer-lhe que não lhe vai pagar porque "foi só um banquinho de três penas"? E quem lhe diz a si quanto tempo se gasta em cinco páginas de texto? E isto ignorando a multitude de contos de quatro, cinco, seis páginas, que por esse mundo fora levam altos galardões.

"os autores recebem em troca exemplares da obra e NÃO perdem os seus direitos futuros sobre o conto, apenas os cedem para a presente edição." – Só porque se rouba uma vez, isso não deixa de ser roubo. Ainda que este roubo em específico parta da ignorância dos autores que queiram participar neste esquema.

Em suma: louvo a vossa filosofia geral, mas não vos gabo de todo esta ideia em particular e ainda menos vos gabo a forma como a defenderam. Mais valia terem estado quietos, diria eu.

Livros de Ontem
Livros de Ontem
10 anos atrás

Caro Anton Stark,

Divergimos de opinião quanto à validade da nossa iniciativa e quanto à honestidade da mesma. A iniciativa deveria ser entendida como um prémio aos blogues e não como uma penalização aos autores. Os autores participantes são convidados e aceitam claramente as condições pois reconhecem que é a sua maneira de retribuir algo. Não há aqui nenhum roubo ou acto ilegítimo, mas um acto simbólico.

Toda esta questão já foi reformulada e comunicada na pagina de facebook da editora.

Quanto à parcialidade do artigo do blogue referido, a mesma não se deve ao facto de discordar de nós mas sim de emitir uma parecer tão exclamativo e tão claro sem antes se dignar a consultar a editora ou o blogue Morrighan para obter mais esclarecimentos. O direito ao contraditório é uma lei básica do jornalismo e do bom senso.

Ana C. Nunes
Ana C. Nunes
10 anos atrás

Olá,
Antes de mais há que dizer que esta é mais uma entrevista interessante que é publicada no blog. Contudo tenho de concordar a 100% com o que diz o Anton Stark.
Apoio completamente que o blogger/editor convidado receba uma parte das vendas pela sua participação e divulgação, mas não apoio o facto de essa remuneração ser tirada directamente aos autores, sem cujo trabalho não haveria colectânea nenhuma.
Já para não falar que o livro é financiado pelos leitores e a editora parece ter praticamente nenhum risco financeiro, se se tratar do crowdpublishing que a Livros de Ontem tem vindo a adoptar.
O conceito é inovador e interessante mas como podem dizer que têm o melhor interesse dos autores em mente quando fazem este tipo de publicações?
Mesmo que o autor só recebesse 1/2% das vendas (por culpa de ser uma colectânea) ao menos seria algo para validar a sua participação.
E mais, as despesas de publicidade devem ser da editora, e as parceirias com blogs, se remuneradas, deverão por isso ser da competência da editora e não do autor.

Mais uma vez digo que a ideia base é boa, a execução é que deixa muito a desejar.

  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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