Opinião: Baloiço Vazio, de Carla Lima

Baloiço Vazio

Carla Lima

Editora: Pastelaria Studios 

Excerto: “Eu deitada na cama, de barriga para cima, com os olhos fechados e os braços cruzados sobre o peito,

– O que estás a fazer?

-Estou a fingir que estou morta

– Porquê?

– Porquê me apetece. Importas-te?

– Mas porquê?

– Porque antes estar morta do que viver assim

– Assim como?

– Numa prisão

– Numa prisão?

-Estou presa a ti

– Estamos presos um ao outro

– Nem a fingir de morta me deixas em paz”

Opinião: Há pouco tempo estive numa comunidade de leitores em que a principal discussão era o facto de a obra em causa, que agora não vale a pena mencionar aqui, não fechar a estória, não responder a todas as perguntas que iam sendo levantadas ao longo da leitura, mas antes que deixava muito em aberto, sujeito à interpretação do leitor. O resultado foi basicamente uma divisão ao meio em que metade adorou o livro e metade detestou o livro – não houve meio termo. Com o livro de Carla Lima, Baloiço Vazio, acredito que vá acontecer o mesmo – ou se vai gostar, reflectir e digerir este seu pequeno livro ou talvez nem se passe das primeiras páginas. Eu passei, cheguei ao fim e gostei.

No prefácio somos logo avisados. Uma leitura inquietante está prestes a começar. E começa. Com frases curtas, na primeira pessoa, diálogos que oscilam entre a descoberta, a loucura e a revolta, com pequenos capítulos que parecem oscilar em diversos espaços temporais e que caberá ao leitor juntá-los como achar que faz mais sentido. Não é uma leitura linear, de todo, mas antes desesperante, quer na busca pelo sentido quer nas emoções que a autora transmite. Trata-se de uma espécie de caminho pela insanidade de alguém, neste caso de Ana, que só quer ser aceite e amada como é, mas cuja insegurança e relações que estabelece fazem apenas com que se sinta descrente, triste, abandonada e com vontade de se ferir a si própria.

Quando ligamos os pontos todos, sujeito, mais uma vez, à interpretação de cada um, talvez não seja difícil associar uma infância complicada a uma adolescência instável e uma idade adulta que sofre as consequências. Os mistérios, segredos e sentenças mal explicadas, são também abordados como caminho para a alienação mental, em que a ajuda médica muitas vezes pouco pode fazer. É uma leitura diferente, enigmática, que, apesar de já ter terminado a leitura ontem à noite, ainda me faz pensar sobre qual terá sido o verdadeiro fim desta estória, o verdadeiro percurso de Ana. Existiu? Ou foram apenas pesadelos? Será que tal como um baloiço anda para a frente e para trás, também estas linhas são supostas oscilarem semeando a dúvida? Deixo para vocês encontrarem as vossas próprias respostas. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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