Entrevista a Tio Rex (Miguel Reis), Músico Português

Hoje trago-vos uma entrevista que aconteceu há três meses.
Bem sei, passou demasiado tempo, mas isto de fazer mil e uma coisas ao mesmo
tempo por vezes tem o seu preço e a transcrição de entrevistas acaba por ser
sempre algo ao qual preciso de me dedicar durante umas boas horas sem
interrupção, o que não é fácil de conseguir. Meteram-se os preparativos do
aniversário do blogue, tenho o doutoramento, o basquetebol, enfim! Mas eu sei
que o Miguel Reis, mentor do projecto Tio Rex, me perdoa e que sabe que faço o
melhor que posso J

E é também um pouco sobre esta característica do Miguel que
quero falar antes de passar à entrevista em si. É que ele não só é um músico
que admiro, como também o seu entusiasmo pela música e reconhecimento por quem
luta por ela é de louvar. Para além de me ter dado a prenda de aniversário do blogue mais original de sempre – um vídeo de Parabéns para o Morrighan – a sua consciencialização sobre os tempos que atravessamos e a importância que se dá ao facto de se ter que trabalhar muito, e de forma única, para singrarmos mostra-nos que por muito difícil que seja fazermos aquilo que queremos e gostamos, existe alguém que nos pode inspirar nesse sentido. E o Tio Rex, sem dúvida alguma, é um projecto inspirador.

Fotografia por You Name It Portugal

O Técnico é uma área de referência para mim. Dado que passo
lá a vida, muitas das entrevistas que vão acontecendo são lá à volta. Se a
entrevista anterior tinha decorrido nas escadarias do IST, desta vez o local
escolhido foi o mítico café Império, ali perto. Na altura, pouco ainda tinha falado com o Miguel e tinha acabado de conhecer o seu trabalho – 5 Monstros – através da Birtua
Records. Assim, a primeira coisa que lhe pedi foi que me contasse como é que se
tinha dado o seu primeiro contacto com a música: «A minha primeira guitarra
foi-me oferecida há muito pouco tempo, em 2010, na Madeira, quando estive lá a
estagiar. Um casal sul-africano, que acabou por ser a minha família enquanto
estive lá sozinho, tinha uma guitarra e eu pegava nela de vez em quando para
umas brincadeiras à noite, no restaurante-bar em que eles trabalhavam. Mais
tarde, quando voltaram para a África do Sul, deixaram-me lá a guitarra. A minha
primeira guitarra foi essa e foi só aí que comecei a pegar nela com alguma
disciplina e a estudar um bocadinho as sonoridades do instrumento em si. Ainda
assim, as minhas bases vêm muito do que os meus pais me passaram, sem dúvida
alguma, artistas dos tempos deles, mas que são hoje ícones, como Leonard Cohen e
Simon & Garfunkel. O que acabou por acontecer foi que quando peguei na
guitarra, não me preocupei logo com as bases teóricas, mas antes aprendi a
tocar as músicas que gostava de outros artistas que ouvia na altura, como Iron
and Wine, Kings of Convinience e por aí fora. Foi assim que aprendi a tocar
guitarra. Não tenho nenhuma formação musical, nem andei em nenhuma escola. Sei
lá, está tudo cá dentro e tem que sair de alguma forma. (risos


Disse-me também que, antes desse ano que iria marcar o início
de uma nova etapa, 2010, nunca tinha pensado em tornar-se músico. Perguntei-lhe
então quais as maiores mudanças que se tinham dado na sua vida desde então:
«Nessa altura mudou muita coisa na minha vida. Eu até estava a trabalhar aqui
perto, na Alameda, num hotel. As coisas começaram a mudar à minha volta e eu
senti aquela necessidade quase terapêutica de escrever sobre isso. Foi quando
gravei o meu primeiro EP, todo gravado em casa, com uma qualidade horrível e com
pouquíssimo material (risos). Gravei o primeiro EP por causa disso, por
necessidade, por terapia, aquilo era para mim, afinal. Depois um amigo meu, o
Hugo, que produziu o EP, chegou ao pé de mim e disse-me que íamos gravar isto
nem que fosse só para a família e para os amigos. E foi assim, de um momento
para o outro dei por mim com um EP. “Olha, sou músico!” (risos), foi um bocado
isso, não foi nada premeditado. Vim foi a
descobrir que há mais coisas sobre as quais eu gosto de falar, quero e preciso
de falar, e então fui continuando a escrever e a lançar canções. (risos)
»


O primero LP – Preaching to a Choir of Friends and Family
também foi gravado em casa, mas já com condições um pouco melhores: «Com o
dinheiro dos primeiros concertos, conseguimos comprar um microfone de estúdio,
uma placa de som, por aí fora. Na altura do primeiro EP não tínhamos nada, foi
tudo gravado com os áudios a serem metidos dentro do áudio do computador em si,
(risos) não passou por uma placa de som, por uma mesa de mistura, por nada!
Equalizávamos e pronto. Foi a maneira como aprendemos a gravar discos sem saber
nada sobre como gravar um disco.
»


Ao recordar os primeiros concertos, que viriam a
proporcionar condições melhores nas gravações de trabalhos posteriores, a
reacção do Miguel quando lhe perguntei pela sua estreia em palco foi quase
desconcertante: «Foi horrível! Estava muito nervoso, houve algumas
circunstâncias dessa própria noite que não ajudaram à situação e, no fundo, é aquela história: ok, sou músico, tenho um EP, tenho que o apresentar, será que
estou preparado para isso? Não sei se naquela altura estava. Acho que não. Senti os meus erros todos, naqueles microssegundos senti as falhas
todas. O incrível foi que as pessoas gostaram. Talvez por ainda não terem
referências nenhumas, não repararam em nada disso e mais, compraram-me os
discos todos. (risos) Nesse aspecto foi positivo, mas foi uma experiência um pouco
penosa.
»


Perguntei-lhe se essa percepção não se devia ao facto de, talvez, ele ser um pouco perfeccionista, dado ser ele o autor e compositor das
suas músicas, ao que me respondeu: «Não acho que seja propriamente perfeccionista, quando acho que
já tenho no papel ou sonoramente aquilo que quero transmitir, não mexo mais.
Sei que há erros que por vezes passam, mas alguns são propositados (quer dizer,
talvez no primeiro não, mas nestes últimos sim (risos)), são coisas que dão
humanidade à minha música. Eu quando começo a escrever alguma coisa, uma música,
uma estrofe, o que quer que seja, sei que a vou utilizar para alguma coisa. Eu
escrevo pouco, por isso quando escrevo sei que é porque quero tirar alguma coisa
de genuína e algo que quero realmente dizer. Talvez
também escreva pouco por ser um pouco preguiçoso (risos), mas quando escrevo
sei que é o espelho daquilo que quero transmitir.
»


Antes do 5 Monstros, todos os trabalho de Tio Rex foram
sempre apresentados com a língua inglesa como predominante. Terá havido a
necessidade de mudar?: «Não se trata propriamente de uma necessidade. Tem de
haver sempre um ponto de partida,  às
vezes é uma imagem, outras vezes é uma memória, um pensamento ou sentimento. A
partir disso eu escrevo uma palavra e é daí que parto para a frente. Quando
isso acontece em português acho que não faz sentido mudar para inglês e o mesmo
acontece quando é ao contrário. O que aconteceu foi que esses discos, apesar de
serem maioritariamente em inglês, têm uma música em português que eu achei que
fazia sentido estarem ali por fazerem parte daquela temática. Os meus discos
têm essa característica conceptual e apesar de ter peças em línguas diferentes,
fazem parte do mesmo todo. Com o
5 Monstros, quando dei por mim tinha cinco
músicas que tinham monstros em comum, a temática dos monstros, eram as cinco em
português – perfeito! “Vou lançar um EP só em português e ver como as pessoas
reagem”,  foi um pouco isso.
»

Admitindo o carácter
conceptual dos discos, quis saber mais sobre a verdadeira essência deste 5
Monstros
: «No fundo é o conceito dos monstros em si. 5 Monstros não quer dizer que
sejam cinco monstros diferentes, não se trata de uma categorização. De uma
infinidade de monstros que eu vejo à minha volta, quer sejam palavras, pessoas,
histórias, o que quer que seja – eu acho que há muitos montros há nossa volta,
mas andamos tantas vezes com a cabeça enfiada nos telefones que nem damos por
eles. Escolhi cinco e decidi falar sobre eles, mas é só isso que une as músicas, em termos cronológicos não estão
ligadas nem contam uma história continua. Cada uma é um acto isolado.
»

A edição física do disco é uma espécie de livro ilustrado,
com um pequeno ensaio fotográfico. Desde a capa a cada página ilustrada com a
letra de cada música e uma fotografia a completar, o trabalho merece ser
apreciado no seu todo, quase como quem lê um livro de contos, mas cantado: «Sim,
sem dúvida, acho que pode ser visto dessa forma. Mas isso também é um bocado
consequência da excelente arte da Ana Polido que desenhou os cinco monstros e com
o pouco que lhe dei, montou aquele objecto. Foi idealizado para ser um
livro, à semelhança do meu trabalho anterior, mas este já foi pensado para ter
as letras das músicas. Tendo as letras, achámos que fazia sentido haver algo a decorar a
página das letras, etc. Inicialmente até era para ser um conjunto de postais em
que na parte da frente estava a letra da música e atrás a fotografia. Estava tudo idealizado, mas houve total liberdade de todos, não só da Ana como da Marta a tirar
as fotos, só lhe disse que tipo de foto é que se associaria a cada música e
ela tirou à maneira dela. Cada um teve carta branca para dar o que queria, não
é um trabalho 100% meu.
»

A origem deste tipo de edição vem pelo facto do Miguel
admirar o disco enquanto artefacto físico e não se contentar com aquela
caixinha tradicional de plástico com o disco lá dentro: «Isso tem sido uma
aposta desde o
Preaching. Quando dei por mim e soube que queria fazer edições
físicas dos meus discos, não queria a caixainha de plástico com o livrinho e o
disco lá dentro e o disco ser igual para toda a gente. Prefiro ter um artefacto
que as pessoas possam levar para casa nem que seja como recordação de um
concerto. Hoje em dia muito poucas pessoas compram discos e se forem assim,
naquele estilo tradicional da caixa de plástico, ainda menos. Mesmo o primeiro EP
teve uma edição física em que fui eu que fiz tudo, mesmo
trasher, mesmo sujo
(risos). Comprei cds virgens, autocolantes, eu próprio fiz a
jewelbox, tudo.
Mas só pude fazer uns 40 exemplares porque ao preço que vendia, uns 3€, estava a
ter imenso prejuízo. (risos).  Daí para a
frente, com a ajuda da Experimentáculo, tornou-se possível alguém ajudar-me e
trabalhar as edições físicas como artefactos, que podem ter um bocadinho mais
de significado e conteúdo, espero eu! (risos)
»


A cultura portuguesa atravessa uma boa fase mas, ainda assim, parece que ainda se aposta pouco neste tipo de iniciativas. Perguntei-lhe se
ele achava que se dava o devido valor a projectos destes: «Acho que sim e acho
que não. Quem está realmente atento e interessado no mercado da música, em
descobrir novos artistas, etc., como as rádios e os blogues, no fundo pessoal
que nos ajuda, notam claramente a diferença. Quando vêem algo que não é todos
os dias que aparece, muita gente quer ter por marcar por essa diferença. A mim
dá-me gozo fazer isto para ter para dar às pessoas e é uma oportunidade para se
quiserem, por outro lado, apoiar o projecto porque sem dúvida alguma acaba por
ajudar um pouco com os custos. Mas é uma oportunidade de levarem alguma coisa
física, diferente e especial – ou pelo menos assim tentamos que seja – dos concertos,
do que for, para casa.
»

Completamente fã deste pequeno objecto tão especial, ao percorrer
as páginas da edição física e ao deixar-me levar pela música do disco, ficou a
impressão que tudo convergia para uma espécie de caminho solitário, algo
bastante pessoal. O Miguel confirma: «Aqui há tempos perguntaram-me se a minha
música era a minha autobiografia e é engraçado que eu nunca tinha pensado nisso
dessa maneira, mas acaba por ser. Todo o conteúdo que coloco nas minhas músicas
é tão pessoal que nem a maior metáfora poderia esconder isso. Talvez por isso
te tenha dado essa sensação. De uma maneira geral, tudo o que faço tem origem em algo muito forte que me está a incomodar. Esse caminho solitário
acaba por se dar no sentido em que primeiro escrevo as músicas para mim,
falando dessas coisas, e só depois é que as outras pessoas ouvem. Acho que
essas sensações de quem ouve também acontecem porque se calhar, de alguma
maneira, também já passaram por aquelas coisas. Ou não! Não sei. (risos)
»


Uma grande ajuda na concepção destes trabalhos, deve-se à
colaboração de Marta Banza: «Eu tenho consciência das minhas limitações e
daquilo que não consigo fazer. Existe uma proximidade inevitável e a Marta é já um
membro inseparável do projecto – ela canta nos discos, tira fotografias, filma
os vídeos, toca piano, por vezes tocamos juntos em circunstâncias diferentes, é
uma ajuda brutal.
»

Fotografia tirada do
Facebook de Fast Eddie Nelson

Outra colaboração foi a do Fast Eddie Nelson, um guitarrista
de enorme qualidade, que dá a sua contribuição na última música do EP: «Eu
tenho a sensação que sou o maior
stalker do Fast Eddie! (risos) Conheci-o no festival
Fumo, 2013, e antes de ele tocar apresentaram-nos, estivemos a falar, a beber
um copo, rimo-nos um bocado – aquelas cenas assim platónicas, ele para mim é
uma referência – e quando estava em estúdio, já com os arranjos preparados,
pensámos que seria fixe ter uma participação. Inicialmente ia ser só a minha
guitarra, mas ao acharmos que outra guitarra ali, em espécie de duelo de
guitarras, ficaria bem, foi fácil – Fast Eddie Nelson!  Mandei-lhe um mail, ele curtiu da ideia,
trouxemo-lo ao estúdio e gravámos. Nunca houve qualquer entrave, foi  sempre impecável.
»


Lançando um olhar para o futuro próximo, mais propriamente
pelas expectativas: «A única expectativa que eu tenho é que consiga
sobreviver com isto. Isto é o que eu gosto de fazer e a minha rotina anual é
trabalhar metade do ano para juntar dinheiro para depois na outra metade poder
lançar o disco e que as pessoas o ouçam, que gostem, e dar concertos por aí
fora. Mas é uma rotina que gostava que, de alguma maneira, se transformasse em
algo a tempo inteiro para a música. Espero encontrar o meu lugar para dar o meu
contributo. A recepção tem sido boa, então do
5 Monstros nem me posso queixar
nada! (risos)
»

Atendendo à necessidade de encontrar espaço no meio musical, questionei-o
sobre se sentia que existe falta de apoio aos artistas: «Não sei se serão tanto
os apoios que estão em falta se é a indústria em que está completamente monopolizada pelos espaços. Quando queres marcar um concerto e falas com alguém, dizem-te que
só têm X ou que ficas com certa percentagem das entradas e depois quando fazes
as contas às despesas, dás por ti com vinte ou trinta euros. Isto para mim tem sido uma loucura, porque se até agora tocava sozinho, com o 5
Monstros e com um formato mais dinâmico, tendo um grupinho a andar comigo – o Tio
Rex e os sobrinhos! (risos) – acaba por ser mais difícil essa gestão. No fundo
ou tens um manager ou contratos que te colocam a tocar em certas salas e já só
tocas por X ou então, como é o meu caso, vais dando o braço a torcer e esperas
que a qualquer altura caia algo do céu. Eu tento, procuro imensas coisas, mas
talvez tenha de passar por algo como agenciamento ou um contrato para chegar ao
ponto de subsistir. Entrar no mercado não é difícil, difícil é manteres-te.
Vender discos, vendes pouco, se não fazes concertos ainda vendes menos. O que
eu quero é fazer mesmo só isto, mas por enquanto ainda não consigo.
»


Tio Rex, no fundo, é um exemplo da filosofia Do It Yourself
em que é o Miguel que trata de tudo o que diz respeito à marcação de concertos,
etc. Não é fácil, mas a motivação é muita. Tanta que ele já tem novas músicas
em mente. «Neste momento já tenho projectado um novo EP, metade já está escrita
e composta, e lá para Abril, se tudo correr bem com a gravações, há-de ser
lançado.
»  Aquando desta entrevista, o
Miguel preparava-se para gravar um disco de banjos! Ainda não sei do resultado
desse fim-de-semana, mas fica aqui a curiosidade para lhe irem cobrar esse facto!
Em relação ao nome Tio Rex, ele até poderia dizer, mas lá se ia a mística e nós
não queremos isso, pois não?

Resta agora verem por vós mesmos, caso ainda não o tenham
feito, e aparecerem num concerto de Tio Rex. Ele diz que tende a ser falador,
com muito boa disposição, para compensar um pouco a densidade das suas músicas.
Por último, mas com uma observação pertinente na sua resposta, perguntei-lhe
que palco é que ele gostaria de pisar e ele respondeu-me o Mexefest.  Quanto ao porquê, para além das razões evidentes, depois da resposta, faz todo
o sentido:  «Tem de haver quase um mote
social e cultural para fazer as pessoas mexerem-se e procurarem coisas novas só
porque é fixe. Se as coisas não são fixes ou nunca se ouviu falar, hoje em dia
é assim, já não se dá o benefício da dúvida a ninguém. Temos tudo na palma da
mão e a tendência é procurar na internet e ler sobre quem já tenha ouvido ou
visto – já vais com uma opinião formada à custa de outra pessoa. Por isso
iniciativas como o Mexefest, que são mais dinâmicas, são uma boa montra para
mostrar novos talentos e, disfarçadamente, enfiar música nova e artistas novos na
cabeça das pessoas.
»

O meu muito obrigado ao Miguel pelo tempo que me dispensou e deixo-vos com as ligações de referência:

Facebook

https://www.facebook.com/tiorexmachine

Bandcamp

http://tiorex.bandcamp.com/

Mais sobre o Tio Rex no Morrighan (inclui opinião do 5 Monstros): 

http://www.branmorrighan.com/search/label/Tio%20Rex

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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