“Sereia Louca” faz precisamente um ano.
Um ano em que CAPICUA se confirmou como um dos maiores talentos da nova música portuguesa e uma das mais incontornáveis artistas da sua geração.
Os seus seguidores multiplicaram-se, o respeito da crítica e dos seus pares consolidou-se, e sucederam-se os concertos nos principais palcos e festivais do país.
Para celebrar tudo isto, chega “Medusa”, como um presente de aniversário.
Neste disco, verdadeiramente surpreendente, marcam presença alguns dos mais estimulantes projectos de Hip Hop e da actual música urbana de raiz electrónica.
Amigos e parceiros, que CAPICUA muito admira, convidados a manipular a sua voz e as suas palavras, usando-as em contextos absolutamente novos, na construção colectiva de um álbum de remisturas, que conta também com dois originais arrebatadores (um com Valete como convidado especial e outro com M7, a sua companheira de sempre, numa espécie de tríptico).
Sam the Kid, Virtus e D-One exploram a estética mais clássica do Hip Hop e do R&B. Octa Push, Roger Pléxico, Expeão, DJ Ride e Lewis M trilham caminhos mais futuristas, uns mais cósmicos e outros mais funcionais. DJ Marfox e Puto Anderson representam a mais fresca cena lisboeta, tão aclamada lá fora, do Afro-House pós-Kuduro, à mais moderna Tarraxinha. E White Haus, Stereossauro & Razat e Ninja Kore levam-nos para alguns dos territórios que dominam as pistas de dança actuais. Sempre com resultados surpreendentes.
Como um bom prenúncio, “Medusa” vem para festejar as conquistas do último ano, de olhos postos no tanto que ainda há para construir. E assim festejamos todos a carreira duma artista, com lugar garantido na história da música portuguesa, mas sobretudo no seu futuro.
Concertos de estreia da tour “Medusa”:
11 de Abril – Casa da Música (Sala 2) – Porto
16 de Abril – Lux – Lisboa
LETRA:
(Capicua)
Ela é medusa.
A vítima que toda a gente acusa.
E de quem a vida abusa.
Ela é Medusa e recua e recusa
E resiste, ele insitiste e arranca-lha a blusa e usa-a
Escusa, ela acua, sozinha na rua
Seminua
Semi-sua
Semi- morta
Porque mais ninguém se importa!
Ela é Medusa
O corpo pra que toda a gente aponta
Que posta, não gosta,
faz troça, desmonta
Comenta, ali exposta na montra,
De fita métrica pronta
Examina-se a carne
E critica-se a “coisa”.
O resto não conta
É uma sombra…
É uma sombra…
É uma sombra…
_
Por cada vítima acusada
E transformada em monstro
Em cada casa, cada caso,
Cada cara e cada corpo
Em mais um dedo apontado ao outro,
Cresce a ira da Medusa que me vês no rosto
_
(Valete)
Em cima da ponte está a tua irmã desaparecida
em interação com aqueles instintos suicidas
abatida na depressão duma história nunca esquecida
vencida por um trauma de uma violação aos 15
Em cima da ponte está a mulher que bombardeiam
Por usar a liberdade sexual tão proclamada
Degolada por tantas ofensas que vocês fraseiam
Exterminada por aquele nojo daqueles que a rodeiam
Em cima da ponte está Maria Conceição
Vítima de uma relação e de um amor tirano
Marcada pela opressão e traumatismos cranianos
Golpeada por quase 20 anos de agressão doméstica
Em cima da ponte está a tua vizinha acanhada
Há muito aniquilada por esperanças que se esfumam
Há muito rebaixada por vexames que se avolumam
Envergonhada pelo próprio corpo que todos repugnam
Em cima da ponte…
_
Por cada vítima acusada
E transformada em monstro
Em cada casa, cada caso,
cada cara e cada corpo
em mais um dedo apontado ao outro, Oh!’
Cresce a ira da Medusa que me vês no rosto
_
(Capicua)
Ela é Medusa
A miúda de que toda a gente fala.
Na rua, na sala de aula, e à baila
Vem ela, a cadela, a perdida, sem trela,
Vadia, cautela com ela,
Que é livre, e vive
A vida dela
Como se atreve?
Aquela…
Como se atreve?
Aquela…
Como se atreve?
Aquela…
Ela é Medusa
Aquela de que mais ninguém tem pena
Que apanha, sem queixa, que deixa e aguenta
Aquela que pensa que o amor é pra sempre,
E na crença, sofre em silêncio…
Só.
Completamente só.
Esconde a nódoa negra com o pó.
Só.
Completamente só.
Esconde a nódoa negra com o pó.
_
Por cada vítima acusada
E transformada em monstro
Em cada casa, cada caso,
cada cara e cada corpo
em mais um dedo apontado ao outro, Oh!’
Cresce a ira da Medusa que me vês no rosto
é a minha ira, a nossa ira, a ira…
a minha ira, a nossa ira, a ira…
a minha ira, a nossa ira, a ira...