Isto de fazer um doutoramento tem tanto de desafiante como de frustrante. Pelo menos ao início, digo eu, que estou inscrita desde Setembro e há muito tempo que não me sentia tão sem rumo no que à investigação científica diz respeito. Enquanto fiz parte de projectos concretos, o objectivo estava definido, a forma como lá chegávamos é que podia ser mais ou menos linear. Com o doutoramento, até esse chão desaparece e vamos deambulando por ideias e especulações que boa parte das vezes não dão em nada.
Mas há que não desmotivar! Há que pensar que havemos de encontrar um significado na vida e que tudo vai correr bem! Ahahah, pois, bem sei, devo estar a soar um pouco lunática, mas estão a ver aquela primeira imagem inicial? É o resumo da minha semana de trabalho. Há uns meses sugeriram-me que trabalhasse com uma plataforma nova, de uma área da informática que andei a evitar estes anos todos, mas como o desafio até me poderia vir a ser útil no futuro lá comecei a trabalhar nisso. Resultado? Devia ter entregue um trabalho em Janeiro e, depois das idas aos hospitais e de todos os azares, quando lá consegui avançar como deve ser, eis que quando passo de pequenos casos de teste para testes em larga escala tudo deixa de funcionar. Erros que não aparecem quando pesquisamos no google, coisas que não fazem sentido nenhum, e como não conheço nem mais uma pessoa que trabalhe nisto… Bem vinda ao mundo encantado da descoberta frustrada, do cai-levanta-volta-a-cair-volta-a-levantar…
Existe o reverso da medalha que é, nestas alturas dou graças aos deuses de ter o basquetebol e aqui o BranMorrighan porque entre comer toneladas de chocolate (o que acontece com muita frequência) e bater com a cabeça nas paredes (este já no sentido figurado), de vez em quando posso dar uma escapadela aqui perto e ir conversar sobre coisas mesmo fixes com pessoal interessante e que de alguma maneira acaba por ter um papel no meu dia-a-dia.
Com Linda Martini – Fotografia Nuno Capela |
Para vocês terem noção, por exemplo, à Segunda-feira dou duas aulas, tenho uma reunião do corpo docente, tenho de viajar até Oeiras, ter uma aula no Taguspark pelas 18h e com isto tudo só termino o meu dia pelas 22h na Póvoa de Santa Iria, se tiver sorte. Poderia descrever o resto da semana, mas não vale a pena, é sempre tudo assim na correria. Entre estas correrias, e porque andei a recusar entrevistas durante muito tempo – julguei mesmo que Março ia ser mais calmo e que poderia retomar todas as outras actividades descontraidamente -, esta semana estive à conversa com três projectos musicais e ainda dei uma escapadela para ir à apresentação da Manuela Gonzaga. Tudo a uma distância pedonal, ou quase, que começou com a Rita Braga na Segunda-feira, Linda Martini e We Trust na Quarta. Claro que Quinta-feira mal me mexia e o raio do trabalho continuava a aumentar a minha frustração, mas com estes pequenos escapes a coisa fica mais suportável.
As entrevistas correram todas muito bem, a Rita é um amor de pessoa, os Linda Martini são uma banda icónica para mim, que tanto tenho acompanhado e que, por fim, tive a oportunidade de falar cara a cara com eles, o André (We Trust) tem uma boa disposição contagiante, um optimismo admirável e um sotaque que me faz sentir saudades de casa (Porto)! A apresentação do Xerazade da querida Manuela Gonzaga foi muito bonita, momentos muito emotivos e a energia foi muito positiva, muito carinhosa em torno de uma autora que já me é muito querida. Foi excelente rever ainda o nosso Samuel Pimenta e a Margarida Ferra.
Com Manuela Gonzaga e Samuel Pimenta – Fotografia Margarida Ferra |
Não querendo cair no erro de me tornar repetitiva, mas porque nunca sei o que passa na cabeça das pessoas quando me contactam, quero apenas reforçar a realidade de que o BranMorrighan não me dá um ordenado ao final do mês, não me pagam para fazer entrevistas, tirar fotografias ou escrever opiniões. Eu adoro a liberdade que o blogue me dá para fazer o que bem entender, mas é necessário que também exista compreensão do lado de quem pede e espera intervenção. Um exemplo prático é que só ontem consegui transcrever uma entrevista que foi feita há quase cinco meses. Cinco meses! Só que a vida é feita de momentos imprevisíveis e nem sempre reunimos as condições que precisamos para avançar com os projectos que desejamos. Pedirem-me prazos é, neste momento, algo irreal. Eu sou aluna de doutoramento, professora universitária, tenho o campeonato de basquetebol e o que poderia ser uma questão de “ah, mas tu queres é tudo e depois não consegues é nada!” é antes uma necessidade de “só me sinto completa com cada uma destas coisas, mas vão haver alturas em que vou ter de sacrificar umas mais que outras”. Só com este balanço é possível manter tudo e, portanto, é normal que as ondas oscilem. Uma coisa é certa, só uma delas me dá dinheiro e essa será sempre prioridade.
Por fim, e porque tenho de ir treinar daqui a nada, deixo-vos o lembrete deste magnífico projecto que tive a honra de organizar. A colectânea “Desassossego da Liberdade” já está em crowdfunding e à vossa espera para se tornar uma realidade. Podem ler tudo sobre o projecto e apoiar aqui: http://ppl.com.pt/pt/livros-de-ontem/desassossego-da-liberdade
Contos de Carla M. Soares; Manuel Jorge Marmelo; Nuno Nepomuceno; Pedro Medina Ribeiro e Samuel Pimenta.
Autores convidados: David “Noiserv” Santos e Guillermo de Llera Blanes.
Autores vencedores: André Mateus; Cláudia Ferreira; Eduardo Duarte; Márcia Balsas e Márcia Costa.
Capa: João Pedro Fonseca
Organização: Sofia Teixeira
Editora: Livros de Ontem
Uma ajuda a partir de 5€ garante, pelo menos, o nome na página de agradecimentos do livro e vai ser muito bom ver-vos por lá, afinal o livro vai ser mesmo de todos os que apoiarem!
Grande beijinho a todos e até ao próximo Diário de Bordo!
PS: Para a semana são as finais universitárias, tudo a torcer pelo I S T ! :))