Ela leva-o até ao destino. Sente-se bem, feliz, as coisas não estão como deviam estar, não são como podiam ser, mas existe este local de tranquilidade, de acesso com prazo de validade limitado e prestes a expirar, onde por momentos se pode permitir sorrir, imaginar uma vida diferente.
Ela para o carro, liga os quatro piscas e acciona o travão de mão. Ele está a olhar lá para fora, a chuva tinha começado de repente e com uma força considerável. Por momentos parece perdido. Ela olha-o, espera uns momentos, pousa a sua mão na dele e pergunta-lhe, precisas de alguma coisa?, diz-lhe que não, estou bem, estava a apenas a pensar em quando é que nos voltaríamos a ver.
Aquele fugaz momento de sinceridade abrupta iluminou-a por dentro. Não que houvesse esperança, mas pela simplicidade do momento e das palavras que lhe tocaram de forma tão terna. Havemos de encontrar o nosso caminho, cada um o seu, pensou ela. Na ausência da resposta verbal, tornada sonora através da voz, ele despediu-se com um beijo na sua testa e deixou o carro. Ela viu-o correr para a porta do seu prédio e arrancou, uma lágrima rolou-lhe pelo rosto. As suas opções tinham sempre um preço, e a solidão, o isolamento emocional, seria sempre o que lhe custaria mais.
Morrighan