Opinião: O que não pode ser salvo, de Pedro Vieira

O que não pode ser salvo

Pedro Vieira

Editora: Quetzal

Sinopse: Um triângulo amoroso que liga França, o Norte rural português, Lisboa e a margem sul. Uma jovem francesa, filha de emigrantes portugueses, que vem viver para a terra a que não pertence; um rapaz que luta para sair do meio devorador em que nasceu; um miúdo burguês, canhestro, com uma família de fachada; e um quarto elemento que completa o elenco de uma tragédia contemporânea de ressonâncias clássicas: história de amor, racismo, ciúme, traição, vingança e inquietação, qual Otelo de Shakespeare e de fancaria na era do rap, do Facebook e do call center. O Que Não Pode Ser Salvo é também o retrato dos males sociais e culturais que afligem um país enfraquecido pela crise económica e pela falência dos valores.

Opinião: Estamos no tempo dos consumos rápidos, das vivências instantâneas e das aparências virtuais que parecem contar mais do que o contacto pessoal. Mudam os meios, mas há coisas que se mantêm, como a capacidade de as pessoas se usarem umas às outras, de por instintos mesquinhos se criarem intrigas que tomam contornos soberbos e descontrolados. O diz que disse, o ponto que é acrescentado ao conto, tudo isto e muito mais são as constatações tão bem retratadas em O que não pode ser salvo, de Pedro Vieira. Utilizando a fórmula do triângulo amoroso, o escritor português faz o leitor mergulhar num mundo de call centers, filhos de pais ricos e ainda elementos da sociedade tidos como marginais pelo ambiente em que ficaram condenados a viver desde que nasceram. Com uma mestria discreta e incisiva, somos encaminhados para os meandros tanto fúteis como assustadores deste século XXI. 

A escrita, ao início, estranha-se. Vamos sendo engolidos por um ritmo quase sem pausas, como se estivéssemos constantemente em acção e não fossem dadas pausas para grandes reflexões. A linguagem cola-se como uma segunda pele em termos de caracterização do enredo. Sem grandes filtros, mas com perspicácia, vamos conhecendo Janine, Mateus e Tiago, enquadrando-os em cenários provavelmente familiares a qualquer português. Embora exista uma geografia específica, as situações podem muito bem ser extrapoladas para outros locais e outros meios. A verdade é que vivemos numa sociedade que se tornou perita em criar ciclos viciosos e viciados, onde quem não tem bengalas sociais ou políticas tem de percorrer caminhos muito mais ardilosos, sendo que boa parte das vezes ou é enganado pelo caminho, ou trata de enganar toda a gente. 

É nas pequenas coisas que este livro se torna grande. Se podemos estranhar o formato e a estrutura, não conseguimos ficar indiferentes, de forma alguma, aos pequenos triggers accionados ao longo de toda a história. Ciúme, inveja e cobiça são três elementos que conseguem corroer, quando ainda não existem bases sólidas e imunes (raramente existe), as intenções mais puras e destroem qualquer inocência. E se acham que no meio da máfia estão os piores aldrabões, atentem naqueles que falam de mansinho e que se mostram com as melhores intenções. No meio disto tudo temos a facilidade com que as pessoas se descartam umas às outras ou como ficam obcecadas em magoar alguém só porque  “se não é meu, também não é teu”. Confiança e sinceridade parecem quase conceitos abstractos, de tão vazios. 

É uma leitura dos dias de hojel, sem grande lirismo ou estética, transpondo tal qual a precariedade laboral e emocional que se vive na era do virtual e do descartável. Um visão mais negra, mas de um Portugal real, que já fazia falta na nossa literatura. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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