Ora aqui está um post que há um ano atrás não me imaginava a fazer. Sem ofensa, muito antes pelo contrário, um elogio. Desde que me conheço como gente que acho que passei por várias fases musicais. Gostar de música nunca esteve em causa, os géneros é que foram mudando, por vezes drasticamente, com os anos. E este percurso, parecendo que não tem importância nenhuma, até acaba por ter. Permitam-me não ter vergonha ao perguntar à geração de 80 se não passaram, com os vossos 10/14 anos pela fase Spice Girls, Backstreet Boys, Britney Spears, N’Sync, etc. etc? É que eu passei. Cheguei a fazer parte de um grupo de dança (no qual até eu dei aulas) que no desporto escolar chegou a vice campeã nacional e o que ouvíamos era disso e dance music. Claro que depois o salto para a fase mais profunda (e talvez existencial) da adolescência e o contacto com a internet (o meu deu-se apenas aos 15 anos) levou-me a descobrir outras coisas e larguei a vertente pop para passar para o rock, o metal (oh sim…), para depois estabilizar na música alternativa. Claro que hoje em dia consigo ter um gosto muito mais abrangente e eclético, cada macaco no eu galho (como quem diz que a cada ambiente sua música), mas o que eu não estava à espera era de redescobrir uma forma de pop com a qual me sentisse tão confortável e até passasse a ouvir com regularidade. Os D’Alva, com o seu #batequebate que faz apenas um ano mas que parece que já passou uma vida, devolveram-me um pouco esse gosto (à música pop) com um disco que sendo classificado como pop, é também muito mais do que isso.
Já os tinha entrevistado na altura do Portugal Festival Awards, onde tocaram a música Primavera (a minha preferida!) com uma orquestra, mas tive o interesse de falar com eles sobre esta comemoração e também sobre os concertos especiais no Rivoli (Porto) e no CCB (Lisboa). Como é que só num ano já percorreram/vão percorrer alguns dos principais festivais do país e ainda por cima já pisam palcos como aqueles dois? A fórmula secreta, na minha opinião e que está à vista de todos, tem sido a simplicidade e a garra dos dois líderes do projecto – Alex D’Alva Teixeira e Ben Monteiro. Se este primeiro já tinha o seu projecto em nome próprio em que algumas das canções já se tinham tornado conhecidas, foi também com a entrada definitiva de Ben no projecto que os agora D’Alva deram um salto significativo. A conversa aconteceu na Segunda-feira antes do concertos (que foi Sexta-feira) e acabou por durar mais de uma hora (quando estamos bem nem damos pelo tempo passar), acabando de forma abrupta por eu ter recebido um telefonema (estava atrasada para uma reunião!). O resto da semana foi tão intenso em termos de trabalho, em que ainda por cima num dos dias fiquei doente, que não consegui transcrever a entrevista e com a chegada do concerto achei que mais valia fazer um apanhado da conversa e ainda falar-vos do concerto, que foi só muito lindo. Mas já lá vamos.
No Rivoli as coisas tinham corrido muito bem! Se por um lado o cansaço que sentiam era evidente para mim, por outro era ainda mais claro que era um daqueles cansaços bons, de quem atravessa uma série de acontecimentos exigentes, mas que se tornam gratificantes. Disseram que a energia que se fez sentir pela capital do norte foi muito boa, que “disseram que o nosso concerto foi o mais fixe, quem trabalha lá (risos)” e houve ainda quem até filmasse o concerto todo e fizesse um vídeo para uma música que há muito eles queriam fazer algo do género – a Barulho. Podem vê-lo aqui! Outro facto especial destes dois concertos é que ambos contaram com a presença de convidados. No Porto calhou aos amigos Salto, um grupo que admiram e que consideram que o facto de terem conseguido furar o mercado com a sua música, acabou por abrir portas a que outros projectos mais pop, como eles mesmos (D’Alva), pudessem conquistar o seu próprio espaço. Foi a primeira vez que tiveram outra banda em palco com eles e a escolha foi simples “somos todos muito amigos e ainda por cima somos agenciados pela mesma agência. Fazia todo o sentido.”. A colaboração funcionou da seguinte maneira: “Fizemos um arranjo diferente numa canção nossa, em que fazia sentido o Guilherme cantar, e no meio tivemos uma parte instrumental para o Luís entrar e fazer um solo. Depois, começámos a cantar uma música deles dentro da nossa e acabámos com a nossa. Foi muito fixe, e ele canta bué! (risos)”.
Fotografia Vera Marmelo |
Para o CCB o Diogo Piçarra já estava anunciado, a Isaura estava a um dia de ser anunciada, e a expectativa era já muita. O convite ao Diogo Piçarra veio também por questões de amizade e admiração, mas não só. “O que muita gente não sabe é que ao início a ideia original era eu (Ben) produzir o disco dele. Uma espécie de aposta da Universal, fazer algo diferente do que é normal para as pessoas que ganham o tipo de concurso que ele ganhou. Na altura perguntaram-lhe coisas diferentes que ele andasse a ouvir e ele disse Alex D’Alva Teixeira e eu já estava a trabalhar com o Alex.”. Aconteceu que o Ben por questões de saúde não pôde terminar o disco do Diogo Piçarra, mas a amizade entre os três ficou. “O importante era que a escolha fizesse sentido, que nos dissesse algo e não servisse apenas como chamariz.” Ajuda também o facto de ambos o considerarem um óptimo cantor “Se as pessoas acham que eu sou um bom perfomance e acham que é bom ver D’Alva ao vivo, o Diogo dá-me 10 a 0! (risos)” Há muita coisa que eu estou a deixar de fora, mas um remake está prometido, sendo que houve algo que eles me contaram que eu gostaria de partilhar. Já imaginaram Diogo Piçarra, D’Alva e More Than a Thousand num único sítio? Pois é, aconteceu, gerações e géneros diferentes que se cruzam sem se repelirem.
Fotografia Vera Marmelo |
Veio o momento de partilharem comigo o convite à Isaura, que só iria ser anunciado depois, que teve uma das suas músicas produzidas pelo Ben. “É muito fixe veres outros projectos que vêm a seguir a nós a dizerem que estão a produzir música pop e estarem à vontade com isso”. Na minha opinião, sinceramente, os D’Alva acabam por ser uma espécie de catalisadores para quem quer experimentar coisas novas, sentindo-se confortável com isso. O próprio #batequebate experimenta imensas sonoridades ao longo de cada faixa, nenhuma é parecida a qualquer outra. O que coloca a questão, já em modo adiantado de um próximo disco. “As pessoas ouviram este porque estavam dispostas a isso. Será que querem ouvir um segundo disco? Os nossos próximos singles? Essa é a nossa preocupação. Já temos ideias de canções que pegam na última canção que fizemos para o disco e vão daí, mas também já temos outras coisas que são diferentes, um salto diferente. É perceber se conseguimos fazer a mesma viagem e continuar.” O Alex reforça ainda o papel do Ben neste processo: “Há coisas que me deixam confiante. O Ben está cada vez melhor como produtor, ele quase consegue desenhar uma emoção através de um som. E acho que isso vai funcionar a nosso favor.” O contacto com estas coisas novas ainda está por decidir quando acontece, mas aposto que muitos de vós já andam curiosos. Será que os concertos deste Verão trarão surpresas? Veremos.
Fotografia Vera Marmelo |
Focando-nos no CCB, a perspectiva de tocarem lá, ao início assustou-os. “Se tivéssemos esta conversa há dois meses atrás, ainda estaríamos apavorados. Vamos tocar no CCB, mas como é que isso se faz?” Há muita coisa em jogo, a disposição num palco daqueles, a postura, a linguagem, as imagens, tudo faz parte do espectáculo e quanto maior o palco, lá vem o clichê, maior a responsabilidade. No fim, o que interessa “Seja qual for a pergunta, a resposta é que nós estamos a dar tudo! (risos)”, mas pelo meio existe o desejo de que com o tempo os concertos se tornem numa grande produção. O cuidado com as roupas, as famosas camisas! (no sentido de terem uma espécie de entidade na banda), o poderem fazer outras coisas que tornem o concerto num grande espectáculo “neste momento tentamos que o concerto seja especial com aquilo que temos, mas com o tempo queremos que se torne gigante!”. Se neste momento a comitiva é uma carrinha cheia, há-de chegar a altura em que serão mais, mas é claro que o factor económico é relevante. O percurso, por si mesmo, em apenas um ano, tem sido, na minha opinião, estrondoso, só posso imaginar como será no futuro. Aliás, a Blitz bem tentou resistir ao fenómeno #somosdalva, mas felizmente agora têm alguém com bom gosto a trabalhar por lá e essa estreia também já se deu! Mas nem isso interessa quando se tem verdadeiro gosto no que se faz e bastam cinco minutos de conversa com o Alex e com o Ben para percebermos que esse é o seu foco.
Fotografia Vera Marmelo |
Falando agora do concerto em si, foi tão bom como aquilo que eu estava à espera. Eu ainda só os tinha visto em formato redux e ainda bem que recuperei da intoxicação alimentar a tempo pois foi uma noite que recordarei com muito orgulho pelas pessoas que estavam no palco e não só. Acho que quando passamos a usar a hashtag #somosdalva em fotos que partilhamos, não é só porque é fixe ou da cena, mas sim porque passamos a compreender que existe todo um espírito de união e admiração por quem faz e luta por este projecto. A querida Vera Marmelo esteve lá a tirar fotos e aconselho-vos vivamente a visitarem este link para percepcionarem um pouco as emoções que ali se sentiram naquela noite. O público ao início parecia algo tímido, mas o Alex é realmente um excelente frontman e num instante colocou toda a gente à vontade. Eu e a Rita saltámos logo dos nossos lugares, ver D’Alva sentado não combina, a não ser quando é especial e também esses momentos aconteceram, em tom de pausa e contemplação. Foi um concerto que viveu não só da energia dos seus intervenientes, mas também de um acumular de emoções. Os sorrisos foram uma constante, a dança também, as imagens projectadas bastante curiosas, os olhos a brilhar e as dedicatórias às mães de cada um foram só lindas e, confesso, também um pouco comoventes. Os momentos que Diogo Piçarra (nas músicas Só Porque Sim /Tu e Eu) e Isaura (Sempre que o Amor me quiser) proporcionaram também foram muito bonitos, em que houve solenidade e empatia suficientes para nos deixarem suspensos durante esses mesmos minutos. A música que Alex disse ser a mais difícil de cantar ao vivo – Primavera – sem dúvida que causou os devidos arrepios. O fim do concerto trouxe com ele uma pequena brincadeira, com o ornamento # a ser quebrado, soltando uma data de rebuçados que culminou numa invasão de palco e numa foto familiar bem espectacular.
Frescobol terminada, foi tempo de vir para fora do pequeno auditório e navegar entre aquele pequeno mar de gente à espera dos artistas para pedir autógrafos e trocar uns beijinhos e uns abraços. Tenho de dizer, o Alex dá dos melhores abraços! A Rita, amiga que arrastei comigo e que nunca os tinha visto, adorou-os e já a desafiei a escrever a sua própria experiência ao vê-los pela primeira vez. Se ela aceitar, depois publico aqui, assim vocês ficam com mais uma visão desta noite especial no Centro Cultural de Belém. Foi bom colocar alguma conversa em dia com a grande Vera Marmelo, dar um beijinho à Rafaela e reencontrar outras caras que só vejo em momentos como este. Dados os momentos menos bons que este 2015 me tem trazido, eis que estes dois dias me fizeram relembrar e rejubilar sobre o porquê de continuar com o blogue activo, mesmo que com alguns atrasos e percalços. Obrigada à Marta Faca (da aFirma) pela simpatia em todo este processo e pela paciência J
Dou conta que nunca tirei uma foto com eles, mas fica para a próxima! Abreijos e até uma próxima aventura!
Podem seguir os D’Alva aqui: https://www.facebook.com/somosdalva