Entrevista a We Bless This Mess, Banda Portuguesa – Love and Thrive

We Bless This Mess é liderado por Nelson Graf Reis, já conhecido nas lides da música noutros projectos. Decidiu arrancar a solo, mas cedo se rodeou de amigos e agora toca em banda com outros companheiros. Num belo dia em Sintra, estive à conversa com eles e ainda deu para assistir a algumas gravações e showcases. Uma coisa é certa, a boa disposição e a sensação de tranquilidade é algo que nunca falta quando estamos por perto de We Bless This Mess. Bem gratos por tudo o que a vida lhes tem trazido, não deixam de ir atrás do que querem e do que sonham. Fiquem então com a pequena conversa que tivemos: 

Fotografia Nuno Capela

Tanto o Nelson como alguns companheiros vêm já de outro projecto Punk – Blackjackers. Perguntei então ao Nelson como e onde surge We Bless This Mess já que o EP de estreia foi gravado no Brasil: «O projecto começou cá. Foi com o Nuno Fangueiro, começámos a filmar uns vídeos e umas músicas e, de repente, decidi publicá-las e fazer um projecto. Só que não estava a pensar que acontecesse o que aconteceu. Eu já tinha o projecto há quase dois ou três meses, fui para o Brasil, por acaso mostrei-o a uma pessoa, que mostrou a outra e a outra e a outra, e as coisas avançaram.» O que é certo é que passado pouco tempo esgotaram um auditório, ainda no Brasil: «Foi um trabalho feito tanto da minha parte, como dos músicos, como de quem organizou o espectáculo. Toda a gente esteve focada para que aquilo acontecesse da melhor forma possível e aconteceu. Quando as coisas são bem trabalhadas, o fruto é equivalente.»

Tendo começado no Brasil, inicialmente o grupo não era o que podem ver na foto, mas outro com pessoas de lá: «Exactamente. Eu, no Brasil, decidi juntar uma banda e isso influenciou também o facto de eu chegar a Portugal e querer tocar em formato de banda. Já tinha pensado em fazer isso, mas depois decidi mesmo porque acho que o projecto ganhava outra dimensão. O meu trabalho aqui foi um bocado fácil porque eu já tinha na mira as pessoas para o projecto. Claro que, por acaso, o caso ali do Bacelar foi um acaso. Já em Portugal, ele estava connosco no dia em que fizemos o primeiro ensaio em banda e ele toca guitarra. Eu disse-lhe: “Ó moço, põe-te aí a tocar um bocadinho, fica aí…” e depois ficou na banda. (risos)»

Do Punk ao Folk ainda vai alguma distância, porquê a mudança? «Não sei. Eu gosto do Punk Rock, mas há uns anos para cá comecei a ouvir mais a onda Folk. Foi uma coisa que aconteceu com naturalidade. Não foi tipo, não houve uma rotura de “Ei, olha, agora deixei de ouvir Punk e agora só vou ouvir Munford & Sons” Neste momento acho que caminho para algo como Folk misturado com Punk, com Rock, mas tudo acústico, lá está.»

Fotografia Nuno Capela

Ao ouvir o disco, fiquei com a sensação que todo ele trazia uma onda muito positiva, de estar em paz e de bem com a vida. Foi propositado? «Eu acho que nem é de ser positivo ou negativo. É exactamente retirar isso e estar só experienciar isto que temos à nossa volta. Não é preciso colocar etiquetas “Ah, o bom, o certo e o errado”, não. Retiras isso tudo e tens… pronto, tudo. (risos) Retiras a mente e começas a ver com o coração.» A composição parece também ela minimalista, simples. Natural ou propositado? «Foi natural, mas quis também simplificar. Porque acho que quanto mais retiro, a música parece ficar mais preenchida por uma coisa que está lá, mas que não dá para ouvir – que é o silêncio. O silêncio entre as palavras, entre os sons é mesmo importante e estar uma atmosfera limpa na gravação também acho que é importante porque quando uma pessoa ouvir a música vai haver um ambiente, vai sentir-se em paz.»

O que mais se tem destacado quando se lêem artigos sobre WBTM é o facto de a performance ao vivo ser muito intensa ao nível de interacção com o público. Como é da tua perspectiva? «É isso, porque eu acho que este projecto sou eu, são as pessoas que tocam comigo, que me acompanham e toda a gente que está lá na sala. Porque uma coisa não acontece sem a outra. Então a interacção com o público… Eu acho que nem sequer há que designar público e o artista… Isso é tudo a mesma coisa. Estamos todos ali para nos divertir. Acho que não há muita diferenciação entre músico, público, técnico de som, gajo do merch ou o rodie. Acho que isso é tudo na cabeça das pessoas porque estamos ali todos juntos para a mesma coisa – que é ter um bom tempo.»

Também são muitos os concertos surpresa e as actuações não tão planeadas assim nas ruas das cidades. Porquê essa opção? «Porque é espontâneo e às vezes na espontaneidade surgem as melhores aventuras. Não sei… Não tenho muito aquela cena de ter tudo planeado, ter tudo pensado e estar-me a massacrar com isso. Eu passo para o papel tudo o que tenho a fazer e depois retiro o resto que tenho na minha cabeça.» Mas também costuma existir sempre a questão do dinheiro que muitas vezes preocupa os músicos e que com estas abordagens tal não é garantido. O dinheiro é ou não é uma preocupação? «Não. O dinheiro só falta quando nos preocupámos com ele. Se não nos preocuparmos nunca nos vai faltar. Não nos falta nada e nunca nos vai faltar.»

Fotografia Nuno Capela

Uma curiosidade da minha parte, a juntar a estas actuações espontâneas nas ruas, etc., é o facto de o Nelson ter claramente o “carimbo” de tatuador e ele próprio estar cheio de tatuagens. Perguntei-lhe se alguma vez se sentiu descriminado ou se as pessoas implicavam com isso: «Acho que não implicam muito. A minha avó no início implicava (risos), mas de resto… acho que não. Acho que a cena de te sentires discriminado pelas tatuagens parte de ti e não das pessoas que te discriminam. Só te sentes discriminado se quiseres. Por isso, essa história do  “Ai não sei quê, tenho tatuagens e as pessoas olham de lado para mim” isso é só vítimas. (risos) Ter tatuagens ou não ter, não me faz diferença nenhuma.»

Voltando à banda, a parte da promoção “gratuita” por parte de blogues, rádios, também é importante. No caso de WBTM, a Biruta Records tem feito um trabalho muito bom com a comunicação, mas esta não fica por aí: «Nós atingimos o público de várias formas. É um trabalho diário. Tanto o Rui, como o Bernardo, como eu, o Chico, o Fangueiro, o Bacelar, o Nuninho e muitas mais pessoas, elas estão a trabalhar todos os dias para que isto cresça. Claro que cada um tem a sua área – no caso do Rui (Biruta) é mais a cena da Assessoria –, mas cada um está focado na sua área a fazer o que faz melhor e a trabalhar todos os dias para isso e acho que não há muito segredo para fazer uma coisa bem-feita. É só fazê-la.»

Então e onde é que este projecto quer chegar? «Eu não é gostar de chegar. Eu vou chegar a todo o lado. Vou fazer tours mundiais, tocar nos melhores festivais no mundo. Eu tenho a certeza disso. (risos). Eu acho que aqui, às vezes, nós também nos diminuímos um bocadinho e tipo… se abrimos uma fronteira… Isto é tão global e mesmo funcionando diferente em todos os sítios, o objectivo é o mesmo. Trata-se da ligação com o público, se há uma conexão forte aí, tudo tem que funcionar. Hoje em dia, com a Internet, se uma pessoa quiser arranjar um contacto na Austrália, arranja em cinco minutos, e por aí fora.»

Para terminar, qual o palco máximo a ser pisado? Assim que seja um desejo realizado? «O sonho já está realizado, que é diferente. Porque estou vivo, o sonho já está realizado. Agora ambições que eu terei? Tocar em Glastonbury e tocar nessas cenas todas aí, mas lá está, acho que o maior palco de todos é a minha vida e a minha experiência

Recentemente lançaram um novo vídeo, que deixarei aqui e que contém cenários da tarde que passámos juntos, mas também vos deixo o link para a minha opinião do EP aqui.

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Sejam felizes e até já!

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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