Opinião: Lugares Escuros, de Gillian Flynn

Lugares Escuros

Gillian Flynn

Editora: Bertrand

Sinopse: Passados vinte e cinco anos, Ben encontra-se na prisão e Libby vive com o pouco dinheiro de um fundo criado por pessoas caridosas que há muito se esqueceram dela.

O Kill Club da Matança é uma macabra sociedade secreta obcecada por crimes extraordinários. Quando localizam Libby e lhe tentam sacar os pormenores (provas que esperam vir a libertar Ben), Libby engendra um plano para vir a lucrar com a sua história trágica. Por uma determinada maquia, estabelecerá contacto com os intervenientes daquela noite e contará as suas descobertas ao clube… e talvez venha a admitir que afinal o seu testemunho não era assim tão sólido.

À medida que a busca de Libby a leva de clubes de striptease manhosos no Missouri a cidadezinhas turísticas de Oklahoma agora abandonadas, a narrativa vai voltando atrás, à noite de 2 de janeiro de 1985. Os acontecimentos desse dia são recontados aos olhos dos membros condenados da família de Libby, incluindo Ben, um miúdo solitário cuja raiva pelo pai indolente e pela quinta degradada o leva a uma amizade inquietante com a rapariga acabada de chegar à cidade

Peça a peça, a verdade inimaginável começa a vir ao de cima e Libby dá por si no ponto onde começara: a fugir de um assassino.

Opinião: Gillian Flynn já publicou três livros – Objetos Cortantes, Lugares Escuros e Em Parte Incerta. A minha estreia na sua escrita está a dar-se em ordem inversa à das publicações originais, sendo que comecei pelo último e terminei agora o do meio. Se Em Parte Incerta foi extremamente aclamado por todo o mundo, inclusive na sua adaptação cinematográfica, e Objetos Cortantes – que ainda me falta ler – foi quem mandou a escritora para a ribalta, Lugares Escuros parece tomar o tal lugar intermédio. Foi uma leitura fácil, o trabalho editorial de tradução está muito bem feito, mas quando comparado com a adrenalina que Em Parte Incerta provocou, fica muito aquém deste.

Há algo que para mim é claro – Gillian Flynn escreve muito bem e sabe como intercalar os capítulos das suas histórias, oscilando entre narradores e deixando as peças suspensas no ar à espera de pistas para serem encaixadas. Nestes dois livros que li da autora achei notável essa capacidade de ir deixando migalhas a um bom ritmo, dando destaque a um conjunto de personagens e deixando os pormenores que podem fazer a diferença para os mais atentos. É importante não esquecer que Lugares Escuros foi escrito antes de Em Parte Incerta, por isso quando digo que esta leitura foi mais fraca o que a outra talvez se deva às altas expectativas e ao facto de o final não ter tido um impacto tão brutal.

Este livro acaba por pecar por ter uma espécie de passividade ao longo de todo o decorrer da história. A protagonista não é tão entusiasmante como o dia fatídico que se vai revelando, aos intervalos com o tempo presente, através do seu irmão Ben e da sua mãe Patty. Ao início, Libby tem todo um potencial que não vi concretizado, porém a aura de mistério à volta de Ben faz crescer, e mantém, o interesse do leitor. Os crimes foram violentíssimos, o trauma inultrapassável, mas seria Ben realmente capaz de tamanha frieza e brutalidade? Flynn acaba por misturar uns quantos conceitos interessantes: aproveitou o facto do espaço temporal na altura dos homicídios coincidir com uma grande onda de satanismo e ainda pega na altura em que as promessas aos agricultores – de plantarem e plantarem – saíram completamente furadas e várias famílias se viram aflitas. Com uma família falida, um pai ausente/violento, uma mãe sem soluções e quatro filhos em que apenas um deles é homem… Alguma coisa tinha de desmoronar.

Sinceramente, mesmo não achando Lugares Escuros tão bom como Em Parte Incerta, gostei de ler. É sempre um desafio tentar antecipar quem é que serão os verdadeiros culpados e, novamente, a escrita é muito boa. O formato com que apresenta o enredo é aliciante e a trama contém curiosidade suficiente para uma página se seguir à outra compassadamente. Hoje é a antestreia cinematográfica e estou muito curiosa por ver como é que certas cenas foram adaptadas. O fim, para mim, não foi imprevisível, mas fico sempre com aquela curiosidade em saber como é que as outras pessoas terão pensado. Por isso, se leram, tentem deixar aqui a vossa perspectiva sem spoilers! Eheheh. Nas próximas semanas a leitura será Objetos Cortantes! 

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3 Comentários
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Unknown
Unknown
10 anos atrás

Eu adorei este livro! Li-o em apenas um dia! Foi tão emocionante e fui enganada pela autora. Tinha meio palpite certo mas fiquei tão confusa que me perdi.

Morrighan
Morrighan
10 anos atrás

Olá Sara!

Eu por acaso tinha as minhas suspeitas… Agora fui ver o filme e não gostei muito 🙁 Já viste?

Sofia Araújo
Sofia Araújo
10 anos atrás

Já vi ambos os filmes mas não li os livros… Mas achei o Gone Girl fantástico enquanto que o Dark Places é apenas bom…

  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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