Opinião: Rooftoppers – Os Vagabundos dos Telhado, de Katherine Rundell, Antigone Konstantinidou (Ilustrador)

Rooftoppers – Os Vagabundos dos Telhados

Katherine Rundell, Antigone Konstantinidou (Ilustrador)

Editora: Lápis Azul (Individual Editora)

Sinopse: Sophie é resgatada por Charles Maxim das águas do Canal da Mancha, após o barco em que viajava ter sofrido um naufrágio. Sozinha no mundo, a criança não terá mais de um ano e fica a viver em Londres sob a tutela provisória de Charles, que a ama e educa como uma filha de verdade. Sophie cresce na esperança de vir encontrar a mãe, perdida no naufrágio. Mas cresce também num misto de felicidade e angústia, pelo receio de um dia ser forçada a ir para um orfanato. E é naquela esperança, que no amor funde a irracionalidade da crença com a audácia e a astúcia da vontade, que chegado esse dia, Charles e Sophie decidem que há só uma saída: fugir de Londres e ir para Paris, à “caça” da mãe. É aqui que Sophie conhece os vagabundos dos telhados e os torna cúmplices leais da sua aventura. É uma história de amor e de afetos, de laços de amizade e cumplicidade, de medos, angústias, sacrifícios, de hesitações e coragem, de argúcia e destreza. Dá voz aos mais pequenos e aos ignorados e marginalizados da sociedade. Os atos mais simples são os mais generosos, e a bondade é uma virtude relembrada a cada som que a música, sempre a música de um violoncelo, vai ecoando ao longo das páginas, por cima dos telhados. E é uma história sobre a mãe. E sobre a filha. E sobre um homem que, não sendo pai, foi o melhor pai de sempre. “Talvez seja, pensou ela, o que amor faz. Não existe para te fazer sentir especial. Mas para te dar coragem. Era como uma ração para o deserto, como uma caixa de fósforos num bosque escuro. (…) Era o que a mãe sempre tinha sido para ela. Um lugar para repousar o coração. Um refúgio para recuperar o fôlego. Um conjunto de estrelas e mapas.” – K. Rundell, Os Vagabundos dos Telhados.

Opinião: Há muito mais sobre este livro do que o que pode saltar à primeira vista. Se há algo que julgo bastante importante é que os livros juvenis tragam com eles não só o tom encantador do (im)possível, como também, de forma sublime e quase sem darmos conta, pequenas lições e demonstrações de como lutar por aquilo em que acreditamos. São precisos heróis de todas as idades para que nos acompanhem ao longo do nosso crescimento, sendo que na idade adulta torna-se fundamental reencontrarmos um eu perdido, mais crente, mais fantasioso e mais fantástico do que aquele em que nos vamos tornando à medida que a vida real nos abana e nos endurece. Rooftoppers acabou por ser uma surpresa neste aspecto. Obra de estreia de Katherine Rundell em Portugal, este é um livro com potencial para deslumbrar tanto miúdos como graúdos, transportando-nos de Londres para Paris e apresentando-nos todo um novo mundo imagético vivido nos telhados desta última.

Charles e Sophie são dois protagonistas deliciosos. O primeiro não quer minimamente saber de normas da sociedade, de preconceitos ou de quaisquer regras que não façam sentido, escolheu acolher Sophie após o naufrágio e esta teve a oportunidade de crescer num ambiente que a estimula a nunca desperdiçar uma oportunidade e a não ignorar as suas crenças. A ligação entre os dois consegue ser tão ou mais forte do que muitas ligações de parentesco, e quando tentam tirar Sophie de Charles eis que surge o derradeiro momento de ir atrás da réstia de esperança em encontrar a mãe desta. Chegados a Paris, um pequeno passei pelo telhado do local onde ficaram hospedados acaba por abrir portas a um mundo completamente desconhecido, mas também fascinante. Conhecemos então Matteo e os Vagabundos do Telhado e a verdadeira aventura começa.

Não vou contar muito mais sobre a história porque se já a achei curtinha demais, dar-vos a conhecer um pouco que fosse já seria desperdício. Penso que é este o único real defeito que tenho a apontar a esta obra, de tão delineada que está acaba por carecer de mais pormenores, de um maior aprofundar e detalhar os vários cenários que vamos vivendo ao longo das páginas. Cariz cinematográfico é coisa que não falta à escrita de Katherine Rundell, conseguimos projectar mesmo muito bem o que nos é descrito, porém é nas mais discretas observações que a magia se concentra. Pequenas pérolas que nos aquecem o coração, que nos enternecem, mas que também nos enchem de coragem.

É preciso ter em mente que é um livro juvenil, que adultos mais impacientes e sem qualquer tendência a descontrair numa bela história de aventura não encontraram aqui uma boa opção de leitura, mas para os sonhadores e para aqueles que não deixam morrer a criança que há em si, é uma óptima aventura. Ainda assim, não podia não dizer que gostava que houvesse uma continuação em que também pudéssemos conhecer melhor cada um dos outros vagabundos. Pode ser que a autora se lembre disso um dia! Um último elogio à estética e formatação do livro, lê-se mesmo muito bem e nem damos pelas páginas passarem. 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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