Opinião: Uma Casa na Escuridão, de José Luís Peixoto

Uma Casa na Escuridão

José Luís Peixoto

Editora: Quetzal

Sinopse: «Então, fechei os olhos com força e fixei-me no que via. Esta era uma das coisas que fazia desde pequeno, que tinha descoberto por acaso e que imaginava ser eu a única pessoa a fazer no mundo. Fechava os olhos e via. Via o que se vê com os olhos fechados (…) Isto é o que se vê quando fechados os olhos e continuamos a ver: a cor negra e os pequenos seres de luz que a habitam. E não se consegue olhar fixamente nem para o negro nem para a luz. Os pontos ou as linhas ou as figuras de luz fogem da atenção. O negro é tão absoluto, tão profundo, tão infinito que o olhar avança por ele sem encontrar um lugar onde possa deter-se. Mas, naquela noite, comecei a distinguir algo dentro desse negro.»

Opinião: Este foi o primeiro livro que li de José Luís Peixoto e foi quase sem querer. Estava na casa do meu afilhado e ao passar pela sua estante deparei-me com Uma Casa na Escuridão, entre outros, mas um qualquer impulso fez-me pegar nele e pedi-o emprestado. Isto numa altura em que tinha imensos livros da rentrée literária que queria ler… Ainda assim, acredito que cada obra literária tem o seu timing, que existem livros que querem ser lidos em certas alturas e não quando nós queremos. Gosto quando são os livros que me chamam, que me convocam, e não o contrário. Por isso não resisti. Terminei a leitura que tinha em mãos naquela altura e comecei este. Não sabia ao que ia e acho que ainda não sei explicar bem em que estado fiquei quando terminei. 

Estamos perante uma obra que poderia ser dividida em duas ou três partes. Duas se formos mais genéricos – uma belíssima e sonhadora, outra terrível e arrebatadora. Ao longo da leitura fui deixando alguns excertos no blogue, mas dificilmente alguma fará jus à oscilação entre o deslumbre e o horror que se fez sentir do início ao fim. Nunca irei esquecer a sensação que foi acabar de sublinhar um excerto por achá-lo tão bonito e na página seguinte (mais coisa menos coisa) ficar quase fisicamente mal disposta com o cenário violento que se desenrolou. Foi frustrante, muito frustrante, ser uma espectadora inerte perante tudo o que se desenrolava na minha mente enquanto lia. 

É um livro que tem tanto de humano como de pérfido, na dormência que se faz notar quando a desesperança e o desespero se instalam. Existe um surrealismo patente na escrita de José Luís Peixoto, uma estética que coloca em causa os limites daquilo que é real e possível dentro da sua história. Muito resumidamente imaginem um escritor que um dia tem uma visão de uma bela mulher e a forma de comunicar com ela é escrevendo. Ele vive intensamente aquela paixão, escrevendo fervorosamente, ao mesmo tempo que vamos sabendo mais sobre a sua família. O seu pai está morto, a sua mãe apenas respira, já desistiu de qualquer outra forma de vida, mas pequenas coisas começam a mudar depois de a sua mãe descobrir a música e do seu melhor amigo de infância voltarem. Temos aqui o pico de êxtase de que as coisas até estão bem, para logo a seguir a casa ser invadida por uma série de soldados e todas as pessoas presentes ficarem mutiladas. Mutiladas, mas vivas, porque o sofrimento é algo que só é sentido verdadeiramente quando prolongado. 

Uma Casa na Escuridão representa a mortandade interior, a solidão, o sofrimento e até uma certa apatia. Ainda assim não quero que pensem que é um livro totalmente negro, não. Existe uma beleza muito profunda e perturbadora em boa parte das páginas que exploramos sofregamente. Tinham-me dito que provavelmente este não era o melhor livro do autor para uma primeira vez, mas talvez tenha sido melhor assim porque quero ler mais. Recomendo, mas com a cautela das emoções fortes e da violência breve, mas atroz, que algumas passagens contêm.

Citações:

http://www.branmorrighan.com/2015/10/citacoes-aleatorias-22-jose-luis-peixoto.html

http://www.branmorrighan.com/2015/10/citacoes-aleatorias-23-jose-luis-peixoto.html

http://www.branmorrighan.com/2015/10/citacoes-aleatorias-24-jose-luis-peixoto.html

http://www.branmorrighan.com/2015/10/citacoes-aleatorias-25-jose-luis-peixoto.html

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2 Comentários
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Unknown
Unknown
9 anos atrás

Obrigada 🙂
tenho vários livros do José Luís Peixoto na estante há anos, compro por impulso, mas ficam sempre para um dia mais tarde.
Acho que é desta que pego 🙂
Já me disseram o típico "lê que vale a pena", nunca foi suficiente para me convencerem
A sua opinião foi 🙂
Obrigada. Beijinho

Morrighan
Morrighan
9 anos atrás

Olá Vanessa,

Obrigada eu pelo comentário 🙂
Acho que é uma leitura muito pessoal, mas claro que vou querer saber a tua opinião quando o leres. Deixa aqui um comentário, sim?

beijinho e boa semana!

  • Sobre

    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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