Quando eu conheci a Débora ela ainda tinha o cabelo comprido e fazia parte de uma banda – os Backwater and the Screaming Fantasy. Hoje em dia usa o cabelo curto, tem um projecto a solo e já não sei se já faz dois anos ou coisa parecida, mas o que é certo é que acompanhar o seu percurso na música tem sido uma espécie de expectativa e deslumbramento. Primeiro em banda, na minha opinião, ela era uma das vocalistas/baixistas mais fixes do universo. Agora sozinha, com o seu projecto Surma, a Débora vem mostrar um outro lado seu enquanto artista que não vê igual no nosso país. A sua multiplicidade no que toca a tocar instrumentos e a experimentar sonoridades não cansam, pelo contrário, fazem-nos pedir-lhe mais. A maior frustração tem sido o tempo – não vejo a hora de ela ter o seu primeiro trabalho cá fora. Mas está a caminhar para lá – lentamente, mas de forma consistente num crescimento pautado pela descoberta e afirmação do seu espaço no universo musical português. Ela hoje vai dar um concerto aqui em Lisboa, no The Decadente Bar (Príncipe Real), e aceitou responder a umas perguntas muito rapidamente. No final ficam com alguns mimos! É ler e ouvir!
Fotografia Ricardo Graça |
Débora, antes de mais nada conta-nos: qual é o teu segredo para seres tão fixe? (risos)
Hmmm és só tu que achas que sou fixe ahah :b porque afinal de contas sou uma outsider que aqui anda ahah!
Qual outsider! (Acreditem, esta miúda é a maior) Brincadeiras à parte, fala-nos um pouco sobre a tua paixão pela música. Como é que surge e quando é que descobriste que era isto que querias fazer a nível criativo?
Bem a música sempre esteve muito presente na minha vida e tenho a agradecer isso aos meus pais. O meu Pai sempre me deu a ouvir coisas novas desde miúda de vários géneros musicais e possui uma colecção de CD’s e vinis incríveis. Passava dias e dias a cuscar as coisas que ele tinha por lá! E acho que foi isso que me influenciou a ouvir mais e mais e mais e a entrar neste mundo. Acho que desde sempre que me vejo neste mundo. Sempre foi “aquela cena” para mim.
Estiveste nos Backwater & The Screaming Fantasy. Aliás, tinhas vindo com eles tocar ao Musicbox quando te conheci! Como é que correu essa experiência?
A banda para mim era tudo, já tocávamos há bastante tempo juntos e tínhamos uma relação muito boa uns com os outros tanto em palco como fora do palco. Foi uma experiência muito muito boa, ajudou-me a crescer imenso como pessoa e como música mas às vezes tem que se tomar decisões tramadas na vida. E deixar a banda foi uma dessas decisões, teve que ser!
O que é que te levou então a criar o teu próprio projecto a solo- Surma?
Bem como já tinha mencionado na pergunta anterior, às vezes tem que se tomar decisões tramadas na vida. E deixar a banda foi uma dessas decisões. Com a escola em Lisboa e com as poucas vezes que ia a Leiria era complicado ensaiar e decidi deixar a banda. Mais vale sair e eles continuarem na deles do que estar lá a prejudicá-los. Já tinha umas ideias em mente gravadas no telemóvel, uns riffs de sintetizador, outros de guitarra, umas melodias assim perdidas e resolvi atirar-me um bocado de cabeça. Comecei a agarrar-me mais a sério ao projecto e lancei a página no facebook mesmo com low expectations e assim foi! Tenho tido uma adesão mesmo muito boa e só tenho a agradecer ao pessoal que me tem apoiado desde o início.
As sonoridades são completamente diferentes e não há dúvida que passaste de uma banda para uma one-woman-band! É teclas, é baixo, é guitarra, basicamente é o que for preciso. Como é passar da partilha em palco para a construção solitária?
É totalmente diferente, não vou dizer que não tenho saudades de ter uma banda atrás porque tenho. Com banda não te sentes tão nervosa (pelo menos eu), tens mais pessoas no mesmo barco do que tu e sendo one-woman-band estás só tu em palco e tens que te desenrascar em qualquer situação. No que toca ao processo criativo também acaba por ser totalmente diferente, sendo sozinha sinto-me mais livre de mandar coisas cá para fora, não te sentes limitada. Não tens que estar dependente das opiniões dos teus colegas. Se gostas gostas, se não gostas não pões. E não prejudicas ninguém no que toca a ensaios. Estás por ti! Ensaias quando podes, prejudicas-te a ti mesma!
Fotografia Ricardo Graça |
Falando do teu processo criativo, de onde é que surgem as ideias, as texturas e a imagética com que pontuas todo o universo Surma?
As ideias surgem de uma maneira totalmente random. Posso estar na sala de ensaios e começar a brincar um bocado com o sintetizador depois junto baixo, outras vezes vice versa e junto guitarra, é brincar com tudo o que vês à frente basicamente. Bem, às vezes tenho umas ideias de umas melodias no meio da rua e gravo no telemóvel para não me esquecer ahah e assim que chego a casa complemento com os instrumentos que acho que são essenciais para tal. Quero que Surma chegue às pessoas como se fosse um outro mundo envolvente para elas, quero que se sintam numa outra atmosfera.
Das tuas influências e daquilo que mais ouves, o que é que nos podes contar?
As minhas referências são a Annie Clark (st.vincent), Grouper, Agnes Obel!
Mas tento fugir sempre das inspirações, nunca ouço nada antes dos ensaios. Ando a ouvir muita coisa ao mesmo tempo, mas talvez ande a ouvir mais Nanome. É génia mesmo!!
Tu própria categorizas Surma como sendo Noise e Experimental. Para quem não percebe nada disto, mas até gostava de te conhecer melhor, o que é que é isso ao certo? Como é que podes caracterizar a música que fazes?
Não gosto de labelizar a música, pus esse nome porque nem eu sei ao certo de que género a minha música é. Está na fase experimental ainda sim porque ainda estou à procura de uns certos sons e como posso pôr mais coisas a funcionar dentro dela. É o que sai fica :b
Ainda não tens músicas gravadas, mas já vamos podendo ver alguns vídeos. Quais são os teus planos para o futuro próximo?
Os meus planos para o futuro…ora bem primeiro de tudo gravar um bandcamp para ter cá fora e só depois então um EPzito 🙂 e acima de tudo muiiiiitos concertos hehehe
https://www.facebook.com/surmapt
Surma no Musicbox Lisboa
http://www.branmorrighan.com/2015/06/fotografia-surma-twin-transistors-les.html
PS: Uma das minhas covers preferidas da música “Archangel” do Chet Faker continua a ser a que é cantada pela Débora, nos Backwater and the Screaming Fantasy. Ouvi-a ao vivo quando a tocaram em Lisboa e fiquei só apaixonada! Podem relembrar as fotos aqui: http://www.branmorrighan.com/2014/06/foto-reportagem-backwater-and-screaming.html