“- Há gente que me diz: «Fica-te com as boas recordações e não com a última, pensa no muito que se amaram, pensa em tantos momentos fantásticos que outros nem sequer conheceram.» É gente bem intencionada, que não consegue entender que todas as recordações estão agora tingidas por este final triste e sangrento. Sempre que me lembro de algo bom, no mesmo instante me aparece a imagem última, a da sua morte gratuita e cruel, tão facilmente evitável, tão parva. Sim, é o que me faz pior: tão sem culpado e tão parva. E as recordações turvam-se e tornam-se más. Na realidade já não me resta nenhuma boa. Todas se me revelam ilusórias. Todas se contaminaram.”
Javier Marías, Os Enamoramentos