“Quando somos abandonados podemos fantasiar com um regresso, com que se faça luz um dia para quem nos abandonou e volte à nossa almofada, mesmo que saibamos que já nos substituiu e está enredado noutra mulher, noutra história, e que só vai lembrar-se de nós se de repente lhe correr mal a nova, ou se insistirmos e nos tornarmos presentes contra a sua vontade e tentarmos preocupá-lo ou adoçá-lo ou causar-lhe pena ou nos vingarmos, fazer-lhe sentir que nunca se livrará de nós de todo, que não queremos ser uma recordação minguante mas sim uma sombra inamovível que o vai rondar e espiar sempre; e tornar-lhe a vida impossível, e na realidade fazer com que nos odeie.”
Javier Marías, Os Enamoramentos