Eu fiquei solteiro todos estes anos; sim, com histórias muito gratificantes, distraindo-me, à espera. Primeiro à espera de que aparecesse alguém que tivesse um fraco por mim, e por quem eu o tivesse. Depois… Para mim é o único modo de reconhecer esse termo que toda a gente usa com desenvoltura mas que não devia ser tão fácil visto que muitas línguas não o conhecem, só o italiano além da nossa, que eu saiba, e claro que sei poucas… Talvez o alemão, a verdade é que não sei: o enamoramento. O substantivo, o conceito; o adjectivo, o estado, que esse é mais conhecido, pelo menos o francês tem-no e o inglês não, mas esforça-se e aproxima-se… Achamos graça a muitas pessoas, divertem-nos, encantam-nos, inspiram-nos afecto e até nos enternecem, ou agradam-nos, arrebatam-nos, até nos enlouquecem momentaneamente, desfrutamos do seu corpo ou da sua companhia ou de ambas as coisas, como me acontece contigo e aconteceu outras vezes, umas poucas. Algumas até se nos tornam imprescindíveis, a força do costume é imensa e acaba por suprir quase tudo, ou mesmo por o suplantar. Pode suplantar o amor, por exemplo; mas não o enamoramento, convém distinguir entre os dois, embora se confundam não são a mesma coisa… O que é muito estranho é sentir um fraco, uma verdadeira fraqueza por alguém, e que no-la produza, que nos torne fracos. É isso o determinante, que nos impeça de ser objectivos e nos desarme para sempre e que faça que nos rendamos em todos os pleitos (…). Quase ninguém pode responder a esta pergunta que os outros, esses sim, fazem sobre nós, sobre qualquer um de nós: «Porque se terá enamorado dela? Que terá visto nela?»
Javier Marías, Os Enamoramentos