[Diário de Bordo] Três meses e uns dias. Três meses e uns dias. Três meses e uns dias que não chegaram para nada.

Quem acha que percebe e compreende a vida, claramente não se viu de frente com a morte.

Há um ano atrás o meu melhor amigo dava os primeiros sinais de que o fim estava para breve. Quando escrevi isto não fazia ideia que só tinha mais três meses e pouco para me agarrar a ele. Aliás, claramente não queria acreditar. Não houve um segundo susto, apenas o vazio.

Há um ano atrás, saía eu da maravilhosa apresentação d’O Cavalheiro Inglês, da Carla M Soares na Bertrand Picas, quando por momentos fiquei sem chão. O mundo está cheio destes contrastes absurdos, a alegria para logo a seguir a profunda tristeza.

Depois veio a esperança, o optimismo desesperado de quem não se consegue preparar para uma perda irreparável, de quem acha que os milagres são possíveis. E os três meses passaram quase como se nada fosse, ele no seu tom despreocupado e alegre, eu querendo parecer despreocupada.

Três meses e mais uns dias.

Passou um ano, continuo a tentar parecer despreocupada e alegre, mas e quando nos bate à porta? Parece que foi ontem.

Acho que nunca escrevi sobre este momento. O momento em que pego no telemóvel e estranho a ausência de resposta dele. Falávamos praticamente diariamente. Sobre banalidades, os nossos trabalhos, os nossos projectos imaginários, as nossas famílias, o que fosse. Naquele dia… o silêncio. Enviei nova mensagem a perguntar se sentia bem, recebo uma resposta, mas não dele. De um familiar. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma. Em coma.

Subo de Picoas até ao Técnico, onde tenho o meu carro. Valeu-me os pés saberem o caminho e terem-me guiado automaticamente até lá. Sentei-me no carro. Foram precisos minutos, horas, não sei. Conduzo até casa. Quero notícias, quero que… não seja verdade. Não me consigo lembrar quando é que recebi novas notícias e o mundo ganhou nova cor novamente. Três meses e uns dias. Três meses e uns dias. Três meses e uns dias. Três meses e uns dias. Três meses e uns dias. Três meses e uns dias. Três meses e uns dias. Três meses e uns dias. Três meses e uns dias. Três meses e uns dias que não chegaram para nada.

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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