Fotografia Luís Macedo |
Ora bem, desde que ouvi a house in iceland que fiquei com esta obsessão com o disco e com o trabalho do Duarte, tão amorosamente complementado com o apoio e suporte da Teresa. Não tenho tido tempo nenhum para entrevistas e para me dedicar ao que realmente gostava no que toca a interagir com os músicos, mas tive de arranjar uma maneira de continuar a ter a sua presença na primeira pessoa por aqui. MAHOGANY actuou no 7º Aniversário do Blogue, mas como poderão ler no seu texto, apesar de já terem passado uns bons meses da saída do disco, ele não costuma tocar muito. Sabia que ao convidá-lo para o Musicbox que o estava a tirar da sua zona de conforto e ainda mais quando começaram a surgir convites de entrevistas e o seu nome começou a aparecer em publicações que talvez ainda não tivesse aparecido. Desafiei-o a escrever sobre toda esta experiência. Logo no dia a seguir ao aniversário, ele também viajou para o Porto para mais um Label Day da Zigur Artists, por isso imaginei que houvesse muito para contar. Ele é meio tímido e ainda lhe custa encaixar a sua imagem no meio disto tudo, mas eu tenho para mim que é só o início. Fiquem então com o seu texto e, já agora, espreitem a bela entrevista que o Música em DX lhe fez: http://www.musicaemdx.pt/2016/01/21/descoberta-mahogany/
Uma nota prévia. A Sofia, a aproveitar que sou novo nestas andanças de músico que dá concertos e tudo, propôs um texto sobre a minha experiência recente e, como é difícil dizer-lhe que não, apesar de não achar que tenho muito para dizer, aqui fica. Considerem o que se segue uma espécie de entrada num diário que nunca se materializou.
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Com o aniversário do blogue da Sofia na sexta em Lisboa e o Label Day da ZigurArtists no sábado no Porto, o fim-de-semana que passou foi inédito para mim. Quando me sentei no quarto (então, em casa dos meus pais) para gravar o que acabou por ser ‘a house in iceland’, os concertos não faziam parte da equação – o objectivo era a viagem do álbum, dar som a imagens e questões, não mais. Na verdade foi preciso que o António M. Silva da Zigur me convencesse a tocar ao vivo, com alguma insistência amistosa.
Conto com uma mão cheia de concertos (exactamente) e isso ainda me faz confusão. Não evito os nervos, que na primeira vez dei por eles só no dia da actuação, mas que desta vez me roubaram o sono durante a semana. O calo há-de vir, dizem-me e acredito, mas a ideia de perder os nervos por completo também assusta um pouco, que com estes vá o entusiasmo. É uma experiência curiosa tocar ao vivo, em grande parte porque espaço que tornava anónimo quem ouve a minha música desaparece. De um momento para o outro estou num palco (maior ou menor) que acarreta uma distância e um destaque inevitáveis e que me expõe num projecto que fiz para mim e que quis que fosse de cada um em privado.
Mas tudo vale mais se for partilhado (usurpo, parafraseando, a epifania de Christopher McCandless) e tocar ao vivo tem-me ensinado isso. O prelúdio é incómodo, confesso, não tem como não ser – a exposição, os nervos, os inevitáveis desafios técnicos, as expectativas imaginárias que atribuo a quem está a assistir – mas há algo de especial em saber que alguém se prestou a deslocar-se para estar no concerto e a gratificação é enorme quando tudo corre bem (ou pelo melhor).
Até agora seguiram-se elogios, mesmo quando me condeno por um ou outro prego – foi assim o balanço do fim-de-semana -, e fico feliz com a extinção da distância, abandonado o palco. Há quem se aproxime para agradecer, dar os parabéns e trocar dois dedos de conversa, o que é sempre simpático. E assim se conhece gente gira, gente que vai ficando dos concertos ou dos contactos com sites e blogues, fotógrafos…
O ego, contudo, por muito que os elogios o engrandeçam, volta a pequenino e confortável. Isto porque a mão cheia de concertos que dei foi sempre no seio da família Zigur (petit nom institivo) e é impossível sentir outra coisa que não deslumbramento quando confrontado de forma tão próxima e natural com projectos como O Manipulador, Cajado e daily misconceptions, e tantos outros, que admiro em palco e com quem partilho a viagem de carro de três horas com o porta-bagagens cheio, uma guitarra ao colo e uma mochila aos pés. Não se distingue a pessoa do músico e é reconfortante saber que assim o é.
E, por todas as histórias macabras que se ouvem deste mundo, só me deparei com boas pessoas – os técnicos de som, em particular, parecem ter uma genética incomum que os torna uns tipos bem-dispostos e à maneira. Há toda uma lista de malta, “heróis anónimos” que organizam, promovem e montam festas como a de sexta-feira e Label Days, como o de sábado, e que não recebem aplausos, a quem basta a festa bem feita e o (merecido) eterno agradecimento dos músicos. Tocar ao vivo levou-me a conhecer pessoas novas, pessoas que de outra forma admiraria à distância ou, na pior das hipóteses, não viria a conhecer sequer. Permanecem o incómodo e a maravilha lado a lado. Acho que tenho de agradecer ao António pela insistência. Mais concertos virão, mais músicas (idealmente, mais um álbum) e aventuras. Vou ficando com as histórias para quando for velho me lembrar.
Duarte Ferreira