Normalmente, nos dias em que nada me sai e tenho de escrever a minha crónica, gosto de pegar no carro e sair sem destino . Escolho um disco, um que chegue o mais perto possível do coração. Enquanto acelero nas rectas as coisas vão se escrevendo na minha cabeça. Agora, enquanto acelero nesta recta que vai da Praia da Vieira para a Praia de S. Pedro de Moel, na minha cabeça vai-se escrevendo sobre tanta coisa: sobre ti, de tudo em ti que me fascina, de tudo em ti que me assusta. És uma curva daquelas fechadas, perigosas, em que nos curvamos todos dentro do carro para a fazer, com medo que venha alguém de frente. Tenho medo que venhas de frente. Agora, entrei na auto-estrada. Gosto de ultrapassar carros. Pudéssemos nós deixar as coisas para trás como os carros que ultrapassamos. Gostava de te deixar para trás. Enquanto ultrapasso mais um carro na minha cabeça vai-se escrevendo sobre dia 9 de Abril em que vou ao Os Filipes Bar passar música. Vai ser a minha estreia! Ao lado do meu amigo, Ricardo Ribeiro. Vamo-nos chamar Supersonic Overdrive. É uma coisa que tenho curiosidade para experimentar. Estou ansioso. Não sei que música escolher se apareceres. Talvez, passe a “Everything You’ve Como To Expect” dos The Last Shadow Puppets, gosto em especial desta parte:
Everything that I’ve tried to forget
Everything that you’ve come to expect
Everything that I live to regret
Ou talvez finja passar música para todas as mulheres que entrarem. Saio agora da auto-estrada, com a via verde é mais simples, não temos que parar e fazer de simpáticos para o senhor da portagem ou se for o caso pagar naquelas máquinas em que nos temos que esticar todos até chegar a elas. Acho que me tornei uma via verde: comodista. Estou a chegar ao Baleal – até lá tenho mais duas rectas – o suficiente para na minha cabeça se escrever que conto com todos vocês no dia 9 de Abril no Filipes com a música mais palpitante da actualidade; e para te dizer que agora antes de entrar na outra recta tenho uma curva e tenho medo que venhas de frente.
João Pedrosa