Lembram-se de quando o blogue era praticamente só livros e entrevistas a escritores? Pois, quase que eu também não. Mas a verdade é que já tenho algumas saudades, principalmente porque não deixei de ler autores portugueses, apenas me tornei um bocado preguiçosa no que toca a tomar a iniciativa de os contactar. Verdade seja dita, a maioria mostra muito menos disponibilidade para dar entrevistas do que os músicos, por exemplo. São muito mais distantes em relação a este tipo de proximidade do que a maior parte do pessoal do meio musical. Mas há quem fuja a esse estigma e por isso aqui estou eu, a tentar voltar, lentamente, ao contacto mais próximo com a literatura portuguesa. A desculpa é o novo romance do Filipe Faria, A Alvorada dos Deuses. Sigo a sua escrita desde os primórdios d’As Crónicas, cheguei mesmo a fazer parte da apresentação do Oblívio, e eis que à sua décima obra ele aborda temas tão familiares às origens do blogue – mitologia e religião. Já li o livro, e podem ler a opinião aqui: http://www.branmorrighan.com/2016/04/opiniao-alvorada-dos-deuses-de-filipe.html
Entretanto fiquem com a entrevista, que basicamente complementa outras já anteriormente feitas aqui no blogue. Tudo sobre o autor aqui: http://www.branmorrighan.com/search/label/Filipe%20Faria
Acaba de fazer 14 anos que saiu a primeira edição de A Manopla de Karasthan, pela Editorial Presença. Ainda te lembras de como era o Filipe Faria de há 14 anos?
Era um puto peculiar que andava de sobretudo mesmo no Verão e que devia sofrer de uma forma de acalculia, pois vivia convicto de que estaria a perder dinheiro se ajudasse alguém a dar-lhe troco quando lhe perguntavam se tinha um euro, e por isso dizia sempre que não tinha.
Entretanto, acabaste As Crónicas de Allaryia, iniciaste uma nova série chamada Felizes Viveram Uma Vez e ainda lançaste a tua décima obra literária – A Alvorada dos Deuses. Duas mãos cheias de livros é um número bastante considerável para um autor tão jovem. Queres fazer um balanço de cada uma destas três aventuras, tão diferentes umas das outras?
É como dizes; são muito diferentes umas das outras. Fantasia épica, contos de fadas deturpados, romance histórico fantasioso… Cada uma delas foi escrita numa fase distinta da minha vida, é verdade, e até poderia ser de certa forma reflexiva do Filipe que eu era na época em que me senti impelido a escrevê-las… mas também não vale a pena entrar no ramo da psicanalítica, até porque uma delas, A Alvorada dos Deuses, foi inicialmente concebida há quase dez anos, e só a lancei no ano passado.
No fundo, cada uma delas coçou à sua maneira uma “comichão” que é sempre a mesma: a de contar histórias; histórias que eu gostaria de ler. O resto são romantizações.
Felizes Viveram Uma Vez é sabido que não vingou em termos de vendas. Sei que tinhas planeado mais uns quantos volumes para a mesma. Em que formato é que se vai dar o fecho da série?
A única coisa que posso adiantar é que irei condensar num só os quatro volumes que faltavam para acabar de contar a história, e que o terceiro e último volume será forçosamente maior que os dois primeiros.
Qual a razão que encontras para os teus leitores, sempre tão ávidos com As Crónicas, não terem pegado nesta segunda série?
Talvez a maior parte dos leitores das Crónicas gostassem das Crónicas, e não propriamente de Filipe Faria. Talvez o Felizes Viveram Uma Vez tenha passado a imagem errada no início, a de que era uma obra de teor infantil, e não mais a tenha conseguido limpar. Talvez tenha saído em má altura. Talvez estes três motivos, mais outros tantos, ou mesmo nenhum deles. Falta de qualidade sei que não foi, e isto dos livros e da adesão aos mesmos é sempre uma lotaria, por isso tento não remoer o assunto e limito-me a acabar a série, para não deixar “pendurados” os leitores que lhe deram uma hipótese, e aos quais devo isso.
A Alvorada dos Deuses saiu no final de 2015. Passado o primeiro trimestre de 2016, tens obtido feedback sobre o mesmo?
Muito positivo, até agora. Foi inclusive escolhido para integrar o lote de obras da Final Distrital de Lisboa do Concurso Nacional de Leitura, o que muito me surpreendeu e lisonjeou, até porque tive ocasião de falar com um público que eu muito sinceramente não imaginava como os leitores-alvo de uma obra deste género, e que me surpreenderam com aquilo que extraíram do livro. Estou muito curioso por saber mais, e conto sabê-lo nas vindouras feiras do livro.
O que é que te levou a escrever este livro?
Foi um trabalho de paixão e interesse académico, nascido da minha relação de amor com a Islândia, o meu antigo fascínio pela mitologia nórdica, uma embirração com a forma como esta acabava em todas as histórias e relatos que dela li, e a pretensão de escrever uma obra que transmitisse uma mensagem.
Tenho de confessar que me fez lembrar um pouco a série Vikings que passa no canal História. Semelhanças são pura coincidência?
A única semelhança entre o meu livro e a série (que acho excelente) é a existência de personagens escandinavas e um padre cristão.
Por onde é que passa o futuro próximo, e longínquo, do escritor Filipe Faria?
Por mais aventuras fantásticas, quiçá outro romance histórico fantasioso, e por um regresso a Allaryia, certamente.
Página Filipe Faria na Editorial Presença: