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A primeira vez que me cruzei com os Salto foi no ano em que fiz parte da direcção da Associação dos Estudantes do Instituto Superior Técnico e ajudei a organizar o tão famoso Arraial do Técnico. Ainda não tinha introduzido a música no BranMorrighan, só passado um ano é que isso aconteceria, mas o bichinho já se andava a formar na minha cabeça. As minhas funções na organização deste Arraial não eram extraordinárias, muito mais de logística que outra coisa, e ainda por cima estava com um braço imobilizado. Lembro-me que nem sequer pude curtir muito os concertos e se houve algum a que prestei alguma atenção foi ao dos Salto. Que energia! Lembro-me de ouvir comentários como “estes gajos são do caraças” e quando fui ver estavam como que a tocar o primeiro disco de longa duração. Bom prenúncio, pareceu-me.
Só me voltei a cruzar com os Salto algum tempo mais tarde. A onda POP nas minhas playlists é um pouco sazonal e confesso que na altura, com a tese de mestrado para terminar e tantas outras coisas, voltei às músicas do conforto e só quase um ano mais tarde é que me comecei a dedicar à música portuguesa e aí sim, os Salto voltaram a ficar debaixo de olho. Encontrei o Guilherme e o Luís num evento da Tradiio, onde estavam apenas os dois com o trabalho mais electrónico Beat Oven #1, e depois no Fusing, em 2014. O ano passado estive com eles no Festival Bons Sons e a coisa boa de os ter apanhado a espaços mais ou menos longos é que deu para constatar o quanto têm crescido e o quanto o palco se tornou algo natural para eles.
Penso que o concerto que deram no Festival Bons Sons foi dos melhores que já vi, também gostei muito do do Fusing, mas confesso que o concerto de apresentação do novo disco “Passeio das Virtudes” nos estúdios Time Out me soube a pouco. Talvez por o formato ter sido mais rígido, ou seja, o alinhamento era o do disco, talvez porque o som não me pareceu estar com a qualidade que mereciam, não sei. Para mim, depois de os ver umas quantas vezes em ambientes tão “livres” e algo frenéticos, acho que não me diverti tanto. Mas uma coisa eu vi, vi que a nível instrumental estão cada vez melhores. Que existe uma maior sintonia, que tomam uma maior liberdade de expressão, embora o Tito continue um pouco tímido na bateria, que são muito mais banda. O que acaba por ser normal, depois de andarem na estrada durante tanto tempo e terem passado por palcos como o Super Bock Super Rock, o NOS Alive, etc etc.
Este texto já vai longo, mas onde eu quero chegar é ao último disco, ao Passeio das Virtudes, lançado em Janeiro deste ano (2016). E antes de avançar tenho a dizer que este disco merecia ter palco montado por lá, pelo real Passeio das Virtudes, com vista tão linda o concerto só podia ser bonito! Continuando, este foi um disco que funcionou um pouco ao contrário, em 2015 tivemos uma tour de apresentação em que o disco ainda era um mistério, só quem fosse aos concertos poderia conhecer as músicas novas, e só então em Janeiro é que foi lançado. Um dos grandes pontos positivos desta abordagem, e pelo que pude perceber quando falei com a banda no Verão, é que ao menos vão percebendo de que forma podem tocar mais e melhor cada uma das músicas. E se se cansarem, podem sempre mudar alguma coisa. Houve mudança no estilo, a meu ver. Continua pop, sim, mas a riqueza sonora aumentou. Existe uma maior diversidade de sons explorados e o espectro de estilos que percorrem também é maior. As guitarras são mais ousadas, o baixo mais atrevido e a componente mais electrónica encaixa que nem uma luva. Gosto de como a cada música passamos de um tom dançante, para um rock mais electrizante a ainda temos um groove que puxa ao etéreo, ao horizonte com um por-de-sol belíssimo.
E depois existe a parte lírica, que muitas vezes ao vivo, ou com a distracção dos vídeos, não prestamos a devida atenção. Eu mesma já tinha caído nesse erro e confesso que quando recebi o disco há pouco tempo em casa fiz questão de explorar o caderninho com as letras e de mergulhar nas mesmas. Entre metáforas mais ou menos evidentes, e numa interpretação muito pessoal, penso que este Passeio das Virtudes mostra um pouco do que é perder a inocência da adolescência e entrar na idade adulta. O perceber que há tanto mais do que aquilo que muitas vezes vemos e percepcionamos, que existe tanto por explorar e viver, que tudo é bastante volátil, fica apenas a vontade de contiuar um caminho qualquer que nos leve à realização pessoal. Tenho a certeza que ainda me vou cruzar muitas vezes com eles por aí. Foi pena os ficheiros do Verão ainda não terem sido recuperados (tive uma conversa lindíssima com eles, em que a meio tivemos uma invasão brutal de gente bonita como o André Tentúgal, Vera Marmelo e Noiserv), mas há-de surgir nova entrevista por aqui. Entretanto, algumas coisinhas têm sido escritas sobre eles e podem consultar tudo aqui: http://www.branmorrighan.com/search?q=salto