Moving on, as a concept, is for stupid people, because any sensible person knows grief is a long-term project.
A minha história com este livro é muito simples. Eu estava a passear sozinha por Paris e dirigi-me à livraria Shakespeare and Company. Mal entrei, de tantos livros por todo o lado, reparei logo neste, não muito grande, numa prateleira alta. Valha o meu metro e oitenta para reparar nestas coisas, mas na verdade acho que houve qualquer coisa de instintiva neste processo. Pousei a minha mala de viagem a um canto da livraria e lá peguei nele. Primeiro livro de um autor, algo assim a puxar para o poético, uma história sobre dois rapazes e o seu pai, tentando sobreviver ao luto da morte da mãe. E essa luta pela sobrevivência aparece sobre a forma de um corvo.
Sim, é verdade que o símbolo do blogue é um corvo, sim, é verdade que eu tenho queda para alguma escrita poética fragmentada, porém foi todo o conjunto de circunstâncias que me fez comprar o livro. Dois dias antes tinha feito um ano que o meu melhor amigo tinha morrido. Passei o dia sozinha por Dijon, foi um dia meio estranho, devo ter dormido boa parte do mesmo (um desperdício, talvez, mas fiquei doente). Ora, sem dúvida que foram dias de alguma reflexão, principalmente porque dei por mim a pensar que já tinham passado 365 dias, mas a dor era a mesma. As saudades as mesmas. Tudo igual. Não quero falar muito do meu luto neste caso, principalmente porque um mês antes tinha morrido um grande amigo meu de infância, não há muito que se possa dizer e aquela frase inicial é a maior verdade. No entanto, ter posto os olhos neste livro, com este tema, com o corvo como símbolo mensageiro e guia, criou logo uma grande ligação.
Li-o todo enquanto estava no aeroporto à espera do vôo de volta para Lisboa. É um livro extraordinário. Sei que o vou reler imensas vezes. Ao início não foi muito fácil habituar-me ao inglês – muito característico – porque só costumo ler literatura contemporânea em português, mas assim que apanhei os jeitos, o ritmo e a melodia, não mais parei. Não é um livro que vá agradar a toda a gente. A narrativa não é linear, não é bem comportadinha e não segue um rumo bem definido. Vamos tendo acesso a fragmentos de interacção, de reflexão, de esperanças e desesperos, de uma série de emoções tão pessoais e humanas que esta tornou-se numa das obras que mais me tocou. O luto é realmente algo muito, muito pessoal, sentido de forma única por cada pessoa. Neste caso assistimos às perspectivas de um marido e dois filhos pequenos. O corvo tenta ser o guia, este animal mitológico que tanto tem dado origem a obras primas, como o poema The Raven do Edgar Allen Poe, e tantas outras.
Não sei se vai ser traduzido e/ou trazido para Portugal, mas caso tenham gosto e oportunidade de ler este livro na sua versão original, avancem! Deixo-vos o link no Goodreads para perceberem que não sou a única fascinada! E imaginem, é um primeiro livro do autor! Leia muito, sintam muito, deixem-se levar e “lavar” através da literatura.
https://www.goodreads.com/book/show/25334576-grief-is-the-thing-with-feathers