Opinião: A Partir de Uma História Verdadeira, de Delphine de Vigan

A Partir de Uma História Verdadeira

Delphine de Vigan

Editora: Quetzal Editores

Sinopse: A história é contada na primeira pessoa, com Delphine, a narradora, como uma das duas personagens. Todos os nomes são de pessoas reais: o da autora/narradora, o dos filhos, do namorado… A história é aparentemente autobiográfica e, no entanto, torna-se a certa altura um jogo de espelhos, em que é difícil discernir entre realidade e ficção. Nada previsível, cheio de surpresas, com um suspense crescente (chega a ser atemorizante), mantém o leitor literalmente agarrado até ao fim(*). Delphine crê que a sua incapacidade de escrever terá coincidido com a entrada de L. na sua vida. L. é a mulher perfeita que Delphine gostaria de ser: muito bonita, impecavelmente cuidada, de uma grande sofisticação e inteligência. L. está também ligada à escrita – é escritora-fantasma. L. insinua-se lenta mas inexoravelmente na vida de Delphine: lê-lhe os pensamentos, adivinha-lhe os desejos e necessidades, termina-lhe as frases, torna-se totalmente indispensável – é a amiga ideal. Mas, aos poucos, sabemos que ela conseguiu isolar Delphine (afastando toda a gente), que lhe lê os diários, a correspondência, que se faz passar por ela! E quer demover Delphine de escrever o livro que esta está a preparar, obrigando-a a escrever a obra que ela (L.) quer: Introduz-se, assim, na vida da amiga de forma insidiosa, permanente, por fim violenta, controlando tudo. É aqui que há um volte-face na intriga – até aí muito perto do real – e uma possibilidade autobiográfica. O fim é maravilhosamente surpreendente. O seu livro anterior, Rien ne s’oppose à la nuit, em que conta a história da mãe, vendeu cerca de um milhão de exemplares em França e teve vendas na casa das dezenas de milhares em Espanha.

Opinião: Ora aqui está uma bela surpresa. Peguei no livro, devo confessar, sem grandes expectativas, mas à medida que fui avançando, linha após linha, fui-me sentindo cada vez mais envolvida na história e a leitura acabou por ser rápida e intensa. A sinopse fala por si, talvez até um pouco demais, e por isso não vou desenvolver muito mais sobre o enredo, mas antes realçar alguns pontos e desenvolvimentos que acho essenciais para o êxito deste livro – pelo menos para quem se deixar fascinar pelas possibilidades do comportamento e da psique humana em que a realidade e a ficção se misturam de tal maneira que não conseguimos dizer onde acaba uma e começa a outra. E é precisamente este o ponto forte de A Partir de Uma História Verdadeira, a semente da dúvida está presente desde o início ao fim e nunca desaparece.

Tenho pena que este seja o primeiro livro que leio da autora, pois fiquei demasiado curiosa pelas suas outras obras e talvez me tivesse dado um pouco de ajuda ao início ter lido pelo menos a anterior. Esta é constantemente referida – é a mesma na vida real e neste romance (se é que lhe podemos chamar romance, mas essa é uma discussão para os versados nos géneros literários) – e cujo impacto na vida da autora é óbvio e imediato. Chega-se ao fim de A Partir de Uma História Verdadeira e não se percebe bem o que é que aconteceu com a mãe de Delphine, e talvez essa história nos explique de alguma maneira como esta se tornou tão susceptível, tão ávida de algo que até aqui não conhecia, como a relação com L., tão diferente de todas as suas outras relações de amizade, e de como se deixou arrastar para um ponto de dependência em que chega a estar disposta a ceder a sua identidade. 

Gostei da forma como toda a dinâmica de obsessão e dependência foi ilustrada. Chega a ser doentio como o jogo de manipulação se desenvolve, mas não deixa de sugerir um certo fascínio aterrador de reconhecimento, pois sabemos que realmente esta criação tem um fio de verdade, se não na vida real de Delphine, na vida de outras pessoas. A usurpação de identidade ou a aproximação por interesse para apropriação indevida de propriedade, física ou intelectual, é algo que suscita sempre inúmeras questões em relação à vítima. Como é que esta se deixa enganar? O que é que pode levar uma pessoa a perder-se de si mesma e a deixar que outrem assuma por si o que lhe pertence? E por outro lado, o que pode motivar o agressor a querer ser outro, que motivações podem haver para não se construir a própria identidade, mas antes viver nas entrelinhas dos outros? 

É, sem dúvida, uma leitura que recomendo. Seja pelo seu toque de thriller, seja por todos estes ingredientes que em termos de psicologia são, para mim, desafios à compreensão. A escrita da autora tem a intensidade emocional certa e o fim deixa em aberto inúmeras possibilidades de interpretação, sendo que pode inclusive por em causa tudo o que se leu para trás. Claro que a curiosidade agora está cá e vou querer encontrar a restante obra da autora e explorá-la, quem escreve um livro como este tem potencial para muito mais. Fiquem atentos! 

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    Olá a todos, sejam muito bem-vindos! O meu nome é Sofia Teixeira e sou a autora do BranMorrighan, o meu blogue pessoal criado a 13 de Dezembro de 2008.

    O nome tem origens no fantástico e na mitologia celta. Bran, o abençoado, e Morrighan, a deusa da guerra, têm sido os símbolos desta aventura com mais de uma década, ambos representados por um corvo.

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