Não sei lidar com este fervor, com este anseio de ti. Canso-me de tudo o que não te traz até mim durante períodos que parecem intermináveis. Sinto a tua falta, do teu cheiro, da tua pele na minha. Podia ser apenas mais um romance lamechas, uma rotina de casal que arrefece e abandona. Mas não existe abandono algum nisto que sinto; existe fogo, fúria, ansiedade, algo tão forte que consome à passagem e me deixa sem chão.
E depois vem a realidade. O baque. Olho para o vazio que me espera, para a ausência que se faz sentir quando paro, quando não estás, quando tomo consciência que não estarás mais. Percorro as ruas na noite cerrada na esperança de me perder, de te esquecer. Encontro a solidão, enlouquecida, sufocante. Aos poucos entranha-se na pele a perda, a escuridão, a presença da morte. A única constante é o luto e a luta por mais um dia, por sobreviver a mais uma ronda de memórias que não podem ter acontecido.